Conduzida por Gonçalo Sobral Martins e José Guilherme Sousa
Também incluída no FEPIANO 3, publicado em Junho de 2013
Escolheste a FEP e Economia, durante o secundário foi uma opção entre muitas outras alternativas, ou nunca foi uma dúvida? O que mais pesou na escolha da FEP?
Durante o meu secundário, tinha interesse por várias áreas, tendo “saltado” por várias. Primeiro, comecei por querer ir para Física, mais tarde Direito, depois Filosofia e acabei por assentar em Medicina. No entanto, tinha colegas que me falaram em Economia e fui, literalmente, atrás deles. Inscrevi-me e preparei-me para o exame nacional de Economia e, prontamente, me apercebi que os conteúdos abordados pela área me interessavam imenso. Portanto, a minha escolha foi feita sob pressão e sem grande racionalidade. No entanto, apesar de me ter parecido uma decisão precipitada, acabou por correr muito bem.
Alguma vez puseste em questão a tua escolha?
As primeiras notas surpreenderam-me pela negativa o que, a par do choque relacionado com a mudança, gerou em mim um desconforto que, numa fase inicial, me fez pensar em desistir do curso. Coloquei como hipótese mudar para Medicina, mas acabei por dar uma oportunidade a Economia e insistir por um ano. No final, já não havia hesitações e apercebi-me que adorava isto.
Como é que descreves a tua adaptação à faculdade?
A minha entrada na FEP ocorre quase em simultâneo com a entrada na FJC (FEP Junior Consulting), o que facilitou imenso o processo de integração, na medida em que encontrei um grupo de pessoas muito interessante que me deram bastante apoio.
O que te supreendeu na FEP e, pelo contrário, te desiludiu?
Não contemplo muita coisa que me tenha desiludido, mas diria que pontualmente o método de ensino não incentiva as pessoas a pensar, a serem críticas e analíticas por si próprias. Por outro lado, apesar de, antes de ingressar aqui, já estar à espera que a FEP tivesse tantas mentes incríveis, quando tive contacto com elas, fiquei ainda mais surpreendido com o potencial das mesmas.
Como vês o curso de Economia na preparação dos estudantes para o mercado de trabalho e vida?
Numa perspectiva de integrar o mercado de trabalho, o curso de Economia é muito incompleto, o que não é necessariamente mau, isto porque é um curso intrinsecamente teórico e, relativamente, curto. Em relação às outras componentes (soft skills), hoje em dia extremamente necessárias, têm que ser conquistadas por outra via que não o curso. No entanto, julgo que é mesmo assim que tudo deve funcionar.
Compara o Devesa do início do curso com o atual, em termos de organização, dedicação ao curso…
Nestes três anos, tive oportunidade de contactar com pessoas com uma visão da vida diferente, mas, ao mesmo tempo, muito inteligentes e competentes. Foram estas as pessoas que me fizeram sair do meu quadradinho e, também, me ajudaram a ver que para uma dada situação existem várias resoluções válidas. Além disso, a minha passagem pelo FICT, pela FJC e, especialmente, pelo próprio curso deram-me ferramentas que me serão muito úteis no futuro.
Se fosses agora mentor de um recém-chegado à FEP, quais as dicas que lhe darias?
O único conselho que seria generalizável era o de tentar conhecer ao máximo as suas forças e as suas fraquezas, para, assim, tentar adaptar, da melhor forma, a sua abordagem, bem como os seus objectivos – aquilo que gosta e não gosta de fazer. Alguns conselhos que são mais específicos, mas que também acredito que se poderiam aplicar à maior parte das pessoas: em primeiro lugar, candidatar-se a algumas das organizações de estudantes da FEP – pessoalmente achei mais interessantes a FJC e o FICT, contudo diferentes pessoas terão diferentes interesses. Como segundo ponto, a quem não se sinta muito confortável com o inglês, aconselharia a tentar ultrapassar o mais rapidamente essa dificuldade. Por último, aconselho os alunos a arriscarem, a tentarem envolver-se no maior número de coisas diferentes – há imensos concursos/ eventos que acontecem na FEP: os 3 anos de curso passam muito depressa, por isso acho que é importantíssimo que o aluno se tente envolver no maior número de experiências possíveis, por forma a conhecer-se melhor.
Tiveste um percurso de 3 anos na FJC e FICT. Porque escolheste estas duas organizações da nossa faculdade e o que delas tiraste?
A primeira instituição para a qual entrei foi a FJC e cativou- me imenso por me oferecer uma experiência prática e concreta. O facto de poder resolver problemas reais e de ser uma organização totalmente gerida por estudantes fez-me acreditar que poderia potenciar o meu desenvolvimento, de um modo muito mais rápido. Em relação ao FICT, as minhas grandes referências na faculdade tinham sido os criadores desta instituição. A par disso, verifiquei que o crescimento que eles tinham com a participação em competições internacionais era exactamente o crescimento que eu queria ter. Na altura, pareceu- -me que a FJC e o FICT seriam uma combinação óptima, por me permitirem um forte desenvolvimento pessoal, resolver casos reais e ter acesso a outras grandes oportunidades.
Qual a imagem que a praxe deixa a um aluno que não a vive por dentro?
Nunca foi algo que tenha despertado o meu interesse, pelo que não possuo um conhecimento detalhado sobre aquilo que são as actividades praxistas, para poder dar uma opinião relativamente aprofundada. No entanto, parece-me positivo que um grupo se junte quando se sente bem dentro desse conjunto de pessoas, desde que não promova hostilidade para as pessoas que dela não fazem parte. O caso da praxe, na FEP, nunca me pareceu fazer isso, pelo que penso que se as pessoas gostam de nela participar é algo de positivo.
Sempre tiveste o curso como prioridade ou, muitas vezes, relativizaste a sua importância?
A minha prioridade foi, desde sempre, aprender o máximo possível, sendo que o curso era uma dessas vertentes de aprendizagem. Considerando isto, durante estes três anos, tentei jogar com as produtividades marginais e com o custo-benefício das diversas actividades e maximizar, assim, a minha aprendizagem. Por vezes, o curso saiu sacrificado. Tive de faltar a algumas frequências, ou deixar de estudar, para participar noutras actividades. Todavia, também, já tive de recusar outros projectos para me poder concentrar no curso. Em suma, nunca coloquei uma coisa à frente da outra, mas tentei geri-las, como se estivessem lado a lado.
Quais as características da tua personalidade que vês como oportunidades de melhoria, ou mesmo fraquezas irremediáveis?
Não sei se tenho espaço suficiente para responder à pergunta! Algo em que tenho tentado trabalhar nos últimos anos é a minha abertura a opiniões externas – tinha a tendência a ser muito “agarrado” à minha forma de ver o mundo o que é claramente um desperdício. Apesar de ser um cliché acredito verdadeiramente que toda a gente tem algo para nos ensinar. Outro ponto, este que talvez seja um pouco “irremediável” é que não sou muito bom em situações sociais: sou uma pessoa bastante tímida e um pouco (ou muito) “esquisito” na forma de me exprimir (suponho que dizer coisas como “tentei jogar com as produtividades marginais” também não ajude…). Adoro conhecer pessoas, ajudar e ser ajudado – simplesmente por vezes não sei como o fazer da melhor forma e dou a ideia de ser muito pouco empático: quem me conhece sabe que não o faço por mal, mas com as restantes pessoas provavelmente passo uma imagem que penso não ser verdadeira.
Como conseguiste gerir uma média alta, quando te vês envolvido e sobrecarregado com atividades extracurriculares?
Julgo que a estratégia que permite conciliar um bom desempenho no curso com a realização de outras actividades é perceber que nem sempre uma grande quantidade de estudo equivale a uma boa qualidade de estudo. Ou seja, estudar muito pode não ser uma boa estratégia. Além disso, a organização do estudo, conhecer bem o sistema de avaliação em que estamos inseridos e perceber aquilo em que nos devemos focar são, também, factores com um papel relevante nos meus bons resultados.
“Fazer o curso na Maior”, parece-te viável fazê-lo sem ser presença assídua nas aulas?
Pelo ponto de vista pessoal, não vejo uma grande correlação entre o número de aulas assistidas e o sucesso académico, em termos gerais. No entanto, há aulas que me parece vantajoso assistir. Assim, julgo crucial que cada pessoa entenda quais são essas cadeiras e que consiga gerir, a partir daí, o curso, tendo isso sempre em consideração.
Prestes a terminar o curso, que balanço fazes dos três anos que viveste nesta faculdade?
O curso é muito curto e, por termos tão pouco tempo, foram muitas as boas oportunidades que não pude agarrar. Ainda assim, consegui fazer muitas coisas incrivelmente interessantes. A FEP disponibiliza um leque tão vasto de alternativas, o que não acontece em igual proporção noutras faculdades, que é natural que desponte uma certa “frustração”.
O que te arrependes de não ter feito durante estes três anos?
Sinceramente, não há nada de que me arrependa, por saber que não daria para concretizar outras coisas sem que tivesse de sacrificar algumas daquelas que fiz. Contudo teria adorado participar em mais debates da SdDUP, teria adorado passar por todas as organizações da FEP e, também, gostaria de ter aprofundado ainda mais os conteúdos leccionados nas cadeiras – mas tal terá de ficar para daqui a uns anos.
Qual o ponto que eleges como o mais alto da tua carreira académica?
Ter passado pela direcção da FJC e do FICT, não por poder pôr mais uma linha no meu C.V., mas por ter tido a oportunidade de, colectivamente, definir o rumo de um grupo excepcional de pessoas e por perceber que tinha a confiança dessas pessoas tão incríveis. A passagem pela direcção permitiu-me conhecer os dois lados da barricada – ser liderado e co-liderar – o que acredito que me fez crescer imenso. Que outros interesses tens na tua vida? Gosto muito de literatura, filosofia, ciências naturais – física, em particular – e música, apesar de não ter muito jeito.
Para ti, o que vale a pena na vida?
O facto de não fazermos tudo o queremos no presente é saudável, o que não faz sentido é estar sempre a sacrificar a vida em termos pessoais por troca de objectivos a longo prazo. O que vale a pena na vida é algo subjectivo, um conceito que muda consoante a pessoa e a experiência de vida da mesma. No meu caso, creio que conquistei um bom meio-termo, que me permite conciliar da melhor forma as vidas pessoal e profissional, o que me deixa muito satisfeito. No início do terceiro, já tinhas sido admitido pela McKinsey.
Como surgiu esta oportunidade prematura de trabalhar em consultoria estratégica e porquê deixar de lado, para já, um mestrado ou até doutoramento?
A primeira decisão que tive de tomar foi começar, desde já, a trabalhar e não dar, por agora, continuidade aos estudos. A opção pela McKinsey e por consultoria estratégica surgiu porque tenciono continuar a aprender imenso. Fui atrás desse objectivo, candidatei-me e preparei-me para o processo de recrutamento, dado que era uma oportunidade que eu queria mesmo agarrar. Por outro lado, também, quis apressar este processo e tentei que ele decorresse durante as férias para que não fosse uma preocupação durante o meu terceiro ano de faculdade – o mais intenso em termos de trabalho. Dito isto, o facto de ter sido recrutado numa fase relativamente precoce nada tem a ver com características pessoais, mas com o facto de me ter candidatado mais cedo.
Parece-te que terminado o curso devemos começar a trabalhar?
Depois dos três anos, creio que é crucial continuar a estudar. No entanto, esse estudo poderá ficar adiado porque não me parece que, na nossa área de Gestão, fazer o mestrado no imediato seja, a priori, uma necessidade. No meu caso, não vou continuar a estudar por agora, mas em três anos tenciono realizar um MBA, que me parece um relativo substituto de um mestrado em Gestão.
Porque temos na FEP uma percentagem mínima de estudantes a criar o seu próprio emprego?
Em termos genéricos (claro que cada um de nós terá o seu conjunto de razões pessoal) diria que será provavelmente “injusto” avaliarmos essa percentagem olhando para o número de estudantes que se torna, ou não, imediatamente num empreendedor: Penso que não serei o único a não me sentir preparado para, quer em termos de competências quer em termos de maturidade, fundar a minha própria empresa mal termine o curso – ingressar numa empresa estabelecida e tentar aprender com os melhores e extrair lições valiosas de casos reais parece-me uma boa estratégia de mitigação de riscos futuros, mesmo para quem tenha essa veia empreendedora.
Que Devesa podemos esperar daqui a 10 anos?
Não há um Devesa que eu idealize para daqui a 10 anos, apenas espero que, na próxima década, aprenda imenso – e essa vontade se mantenha – e me torne uma pessoa cada vez mais completa.
Faz parte dos teus planos estar por trás dos destinos do nosso país?
Assumindo que estamos a falar de política, confesso que é uma área de que gosto muito, mas que gosto muito em termos teóricos: aprecio ciência política… interesso-me por Arrow, por Condorcet e por Aristóteles. A vertente prática da política é algo que já não me atrai tanto, não por algo intrínseco a ela mas, antes, pela forma como costuma ser feita. Dito isto, não é algo que eu ponha de parte, a priori, mas penso que essa retribuição ao país, por aquilo que ele fez por mim e, como aluno universitário, pelo grande número de oportunidades que me foram sendo proporcionadas pelo Estado, é algo que eu tenciono fazer, só que não necessariamente num contexto político.
A organização da FEP competition acontece no timing certo e que terá um impacto muito positivo na nossa faculdade?
O facto de a FEP acolher uma competição de resolução de casos de negócio, a nível internacional, será extraordinário. Diria que, nesta fase, a FEP recebeu uma das melhores notícias que poderia ter almejado. É incrível como em, somente, 3 anos o FICT tenha tido um crescimento tão elevado e já tenha tornado a FEP a anfitriã de uma grande competição. A sua organização vai ao encontro da grande aposta na internacionalização, por parte da nossa faculdade, e estou certo que as consequências deste “investimento” serão muito positivas, não só para a FEP intitucionalmente mas também para como forma de motivar os estudantes a envolverem-se neste tipo de iniciativas e quererem, eles próprios, tomar as “rédeas” deste tipo de projeto.
Acreditas no talento que se diz surgir à nascença?
Não me parece inaceitável a priori acreditar que possa haver factores genéticos que favoreçam certos indivíduos. Se quisermos ser menos restritivos do que “à nascença” considero também que o ambiente no qual nos desenvolvemos terá provavelmente efeitos não negligenciáveis nas nossas capacidades. Mas parece-me que, no máximo, todos estes eventos serão apenas complementares a elementos que derivam da escolhas pessoais, como a dedicação e esforço. Agora, determinar até que ponto é que a propensão à dedicação e ao esforço não é em si mesma algo que deriva de elementos externos ao indivíduo já levanta uma série de outras questões