Opinião de Lara Santos
Também incluído no FEPIANO 53, publicado em Dezembro de 2024
Nas últimas semanas, Ruben Amorim, tem estado no foco dos mass media, após abandonar o Sporting Clube de Portugal para assumir funções como treinador do Manchester United Football Club. Neste artigo, vamos analisar a liderança deste treinador e compreender o porquê de ser um caso de sucesso.
O sucesso de uma organização depende dos seus líderes e da capacidade que estes têm em mobilizar a equipa, de forma a atingirem os objetivos da estrutura. Tendo esta definição em mente, é plausível dizermos que Ruben Amorim levou o Sporting ao sucesso. E isto pode ser facilmente comprovado pelas duas Taças da Liga, uma Supertaça e dois Campeonatos Nacionais, ganhos durante a Era Amorim. Mas quais “ingredientes” usou o Mister para que tal fosse possível?
Existem várias características que definem um bom líder e que podemos observar em Ruben Amorim, tais como: (1) a capacidade de criar objetivos coletivos, com os quais os atletas se comprometam. Não obstante, lidera de forma individualizada, criando visões individuais; (2) a capacidade de inspirar os atletas, orientando-os e demonstrando orgulho; (3) a promoção da autoestima e autoeficácia; (4) a enfatização da importância da vitória, mas não a todo o custo; entre outras.
Na Psicologia do Desporto, o Modelo dos 3C+1, é um modelo que destaca quatro propriedades (closeness; commitment; co-orientation e complementarity) que devem estar presentes na relação entre treinador e atletas.
Para nutrir a proximidade (closeness), um exemplo de comportamento que o treinador deve ter para com os seus atletas é não manter segredos ou omitir informações importantes. A honestidade tem sido um dos pilares da comunicação de Amorim, sendo que o próprio diz: “Mais vale ser honesto e assim evito confusões”.
Ao nível do comprometimento (commitment), o treinador deve comprometer os seus atletas à equipa, ressaltando os objetivos definidos. Usando o Sporting Clube de Portugal como exemplo, sabemos que vários jogadores ficaram na equipa esta época como forma de perseguir o objetivo coletivo de ganhar o Bicampeonato.
Relativamente à complementaridade (complementarity), uma forma de nutrir esta propriedade é através da clarificação de papéis e da definição de consequências que mostrem aos atletas quais os deveres que têm para com a equipa. No Podcast, ADN de Leão, Eduardo Quaresma, jogador do Sporting Clube de Portugal, admite que existem multas para quem chega atrasado, evidenciando esta propriedade.
Uma boa relação entre treinador e atletas é crucial para o bom funcionamento da equipa. Se ambas as partes investirem tempo, esforço e energia para atingirem os objetivos definidos, então a relação vai estar assente em valores de respeito, confiança, empenho e colaboração. Há uma influência mútua e positiva que leva a maior comprometimento, a níveis superiores de motivação, a maior coesão na equipa, a melhorias na performance, etc.
Ruben Amorim revolucionou o futebol português devido à sua comunicação clara e honesta, mas também pela compreensão de que o treino desportivo precisa de um equilíbrio estável entre a técnica da modalidade e o estabelecimento de boas relações. Concluo com a citação de David Rosa, pois creio que as suas palavras resumem, claramente, o objetivo do artigo: “O melhor treinador que eu tive chama-se Ruben Amorim. Porque é que ele é o melhor? Os treinos dele eram bons? Eram, sem dúvida. Mas era por aí que ele se distinguia de outros treinadores que eu tive? Não. Agora, a relação pessoal era surreal.”
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