A Psicologia, enquanto ciência, tem como principal objetivo compreender o comportamento humano. Este comportamento está relacionado com várias dimensões da nossa vida: comportamentos individuais, comportamentos sociais, bem como comportamentos económicos, ou seja, como lidamos com o nosso dinheiro. A forma como poupamos, gastamos e investimos também é foco de interesse das ciências psicológicas. É neste ponto que a Psicologia tem uma forte convergência com a Economia.

Muitas das teorias económicas consideram o ser humano como um ser racional. Portanto, concebem o indivíduo como um ser movido unicamente por motivos utilitários e que age apenas de forma lógica, com o objetivo de otimizar a satisfação dos seus próprios interesses e necessidades de acordo com as suas preferências. Ou seja, tem sempre em mente obter o melhor custo-benefício nas suas decisões financeiras.

Este é o homo economicus.

Contudo, deparamo-nos diariamente com situações que contradizem esta racionalidade. Por exemplo: por que preferimos comprar prendas para celebrar a noite de Natal, se alguns dias após a festividade tem início a época de saldos? Será que não seria mais racional guardar o dinheiro, esperar alguns dias e comprar quando os preços estivessem em baixa, no período das promoções? O homo economicus esperaria… mas será que somos assim tão “economicus”?

As teorias económicas fazem da racionalidade uma norma, uma regra comum e todos os comportamentos que fogem a esta norma são considerados irracionais. Entretanto, a Psicologia mostra-nos que o ser humano é mais complexo do que imaginamos.  De facto, a racionalidade faz parte do processo de tomada de decisão, mas também existem outros fatores que influenciam as nossas decisões financeiras, como as nossas emoções, a influência social e os nossos vieses cognitivos.

As emoções, tanto positivas como negativas, influenciam a forma como usamos o nosso dinheiro. Quando estamos felizes queremos ir ao shopping e fazer umas “comprinhas”. Por outro lado, quando estamos tristes, podemos recorrer às compras para aliviar os sentimentos negativos. Quando sentimos medo, tendemos a arriscar menos e a investir de forma mais conservadora. Mas se estamos otimistas e confiantes, somos mais propensos a pensar a longo prazo e a fazer investimentos mais duradouros. Alegria, tristeza, medo e esperança são vários tipos de emoções que o homo economicus não tem. Na verdade, ele não tem nenhuma emoção, apenas racionaliza, é frio e calculista.

Para além de fatores internos como os estados emocionais, também recebemos influências de fatores externos como a influência dos outros. Quando vamos a um novo restaurante, procuramos ler as avaliações de outros clientes e tendemos a escolher o mais cotado ou pedimos a opinião de um amigo quando não temos a certeza de qual produto comprar. Muitas vezes, quando somos bem atendidos numa loja, tendemos a agir reciprocamente e somos mais propensos a comprar neste estabelecimento como forma de agradecimento pelo bom atendimento prestado. Sentimo-nos mais tentados a comprar ações que toda a gente está a comprar e, por outro lado, queremos vendê-las só porque um especialista famoso o sugeriu e todos o estão a fazer. Aprovação social, reciprocidade e seguir o comportamento da maioria não fazem parte do comportamento do homo economicus.

Por fim, até a própria racionalidade tem as suas falhas. Apesar de querermos analisar todo o conhecimento que temos antes de tomar uma decisão financeira, infelizmente não conseguimos processar toda a informação que temos disponível. Então, recorremos a atalhos mentais (heurísticas) que nos ajudam a tomar decisões mais rápidas, mas não necessariamente mais eficazes. Podemos poupar tempo ao utilizar estes atalhos, mas nem sempre fazemos escolhas acertadas. Assim, de forma recorrente, cometemos erros sistemáticos na tomada de decisão. Mas há uma boa notícia: se sabemos que somos mais propícios a estes erros, também podemos procurar estratégias para não os cometer.

Existem vários tipos de atalhos mentais, mas uma heurística bastante utilizada nas nossas decisões financeiras é a Disponibilidade. Esta heurística leva-nos a considerar que as informações que vêm facilmente à mente são as mais importantes e prováveis.  Por exemplo: se uma notícia negativa sobre uma determinada empresa é publicada recentemente, somos mais propensos a ser influenciados por esta notícia e a ficar preocupados, ponderando vender as suas ações, do que utilizar as ferramentas de análise financeira disponíveis. Ou seja, tendemos a ser mais contagiados pelo sentimento negativo da notícia.

Esta boa relação entre a Psicologia e a Economia é evidenciada através de dois campos de estudo que estão em crescimento: a Psicologia Económica, que tem como representante o Prémio Nobel de Economia de 2002, o psicólogo Daniel Kahneman; e a Economia Comportamental, representada por Richard Thaler, economista vencedor do Nobel de Economia em 2017.

De facto, a Psicologia e a Economia são duas ciências que podem e devem andar juntas em colaboração para promover mais descobertas sobre como utilizar de forma mais prudente o nosso dinheiro.