Challengers
Challengers
Luca Guadagnino · 2024
Crítica de Tomás Figueiredo
Review exclusiva do site, publicada em Abril de 2025
Challengers, do aclamado Luca Guadagnino (diretor de “Call Me By Your Name”), apesar de
apresentar assuntos frequentemente vistos nas grandes telas (como ténis e relações amorosas),
aborda-os de uma maneira pouco usual e bastante intensa, fazendo com que seja impossível para
qualquer um não sair do cinema arrebatado por esta obra.
A trama apresenta-nos Tashi, Art e Patrick (perfeitamente interpretados por Zendaya, Mike Faist
e Josh O’Connor, respetivamente) como as três figuras centrais. Os personagens e o seu
desenvolvimento são, sem dúvida, a parte mais cativante do filme, visto que representam figuras muito
reais e também porque as suas motivações não são claramente expostas (cabe ao espectador estudar o
personagem, de modo a tentar adivinhar qual a loucura que ele irá cometer a seguir).
Tashi é apaixonada por ténis, Patrick é apaixonado pela sua liberdade e Art é apaixonado pela
sua “amizade” com Patrick. A paixão de cada um irá obrigá-los a seguir diferentes caminhos e a adotar
diferentes estratégias para conseguirem o que querem (mesmo que isso signifique passarem por cima
de quem se meta nos seus caminhos).
Tratando-se de um filme cujo tema principal é o ténis, a edição (com um ritmo frenético, muito
parecido com uma partida de ténis), e a fotografia (bastante satisfatória e cheia de significado) fazem
com que seja difícil tirar os olhos do ecrã por um segundo que seja.
A trilha sonora contribui também para a atmosfera sedutora e tensa que rodeia a trama e é
daquelas que apetece ouvir quando se sai no cinema, numa tentativa de recriar a sensação empolgante
que se sente ao assistir o filme.
Challengers possui, então, diversas qualidades, contudo, se caísse nas mãos de um diretor
menos dotado e experiente, podia tornar-se numa obra pouco atenta aos detalhes e demasiado
frenética. Mas, para a sorte dos amantes de cinema, calhou a Luca Guadagnino realizar a obra, de uma
maneira que poucos podiam ter feito. Guadagnino conseguiu retirar atuações impecáveis de todo o
elenco principal, combinar a trama principal de ténis com a trama “secundária” das relações entre
personagens e ainda prestou atenção a todos os pormenores que poderiam tornar a trama mais rica
(sendo necessário, na minha opinião, assistir o filme mais do que uma vez para absorver a totalidade da
obra e ter uma opinião formada sobre os eventos principais da história e as figuras que os causaram).
Em suma, Challengers é uma obra que vai muito além do seu cenário de ténis, transformando
um elaborado desporto numa elaborada metáfora para as paixões, dilemas e conflitos internos dos seus
personagens. A direção de Luca Guadagnino eleva o filme a um nível impressionante, onde cada cena e
emoção são exploradas com profundidade, deixando o público com uma sensação de inquietação que
perdura muito depois dos créditos finais. Através de um elenco incrível e uma narrativa que exige
atenção e reflexão, o filme revela-se não apenas um estudo sobre relacionamentos e ambição, mas
também uma verdadeira experiência cinematográfica. Assim, ao combinar intensidade, subtileza e uma
complexidade rara, Challengers é, sem dúvida, uma das produções mais marcantes do ano passado,
que merece ser revisitada várias vezes.