Mickey 17
Mickey 17
Bong Joon Ho · 2025
Crítica de Natan Melo
Review exclusiva do site, publicada em Abril de 2025
Como alguém sem certificações, habilitações ou técnicas pode conseguir uma vaga numa expedição espacial? Simples, oferecendo-se para morrer, de novo e de novo e mais uma vez. Mickey 17 é o mais recente filme do diretor vencedor do Óscar Bong Joon Ho e dessa vez ele apresenta uma “aventura cómica romântica satírica sci-fi”, sim, isso mesmo.
Num futuro não muito distante, Mickey Barnes (Robert Pattinson) decide fugir da Terra numa nave espacial que busca um novo planeta para colonizar. No entanto, a única vaga que ele consegue na tripulação é como “dispensável”, onde o seu trabalho é… morrer. Por meio de uma fotocopiadora capaz de armazenar os seus dados genéticos e psíquicos, Mickey sempre que morre pode ser copiado e reimpresso novamente, mantendo todas as suas lembranças no seu novo corpo. No entanto, após 16 mortes, Mickey sofre um acidente, mas não morre como de costume, fazendo com que fotocopiem o Mickey 18 sem que o 17 esteja morto, algo que é completamente proibido neste universo.
O primeiro aspecto a destacar é relativamente à ótima atuação de Robert Pattinson. Estando em tela em praticamente todas as cenas (e às vezes até em dobro), o filme passa-se por meio dele e a sua boa presença em tela é um dos principais pontos positivos do filme, já que nem todos os atores iriam conseguir prender sozinhos e por tanto tempo a atenção dos espectadores. Mas, na verdade, eu diria que todas as atuações secundárias no geral também são boas, principalmente as de Mark Ruffalo e Toni Collette, atores estes que participam como antagonistas na história, onde ambos conseguem roubar completamente a cena quando aparecem, deixando-nos, por vezes, na ponta do sofá com medo do que poderá acontecer a partir deles.
Com relação à história, ela não é algo extremamente complexo por si só. No entanto, toda esta situação permite com que diversos tópicos éticos (até o momento, irreais) sejam abordados, levando-nos a ponderar a questão: “E se isso de facto acontecesse?”. Qual seria o modo apropriado de lidar com estes temas? Será que um clone pode ser acusado pelo crime de seu outro clone por serem ambos a mesma pessoa ou não? Enfim, várias perguntas são indiretamente jogadas ao ar, permitindo com que nós possamos pensar nestes assuntos à nossa própria maneira.
Ademais, para além deste fator ético, o filme também aborda, de maneira muito irónica, alguns conflitos sociais. Desde o começo, a personagem de Ruffalo é apresentada como um político fraco, porém amado, que possui grandes atenções sobre ele. Durante todo o filme, diversas críticas são despejadas, algumas mais diretas, mas outras nem tanto.
Contudo, devo admitir que o final do segundo arco até a conclusão é demasiado rápido, havendo diversas facilitações de roteiro e mudanças de chave que não são conexas ao restante da história, transformando por completo o final do filme noutra coisa que, pra mim, não me agrada. Se tivessem tido o mesmo cuidado que tiveram para o começo do filme no final, este filme seria completamente melhor.
Mesmo assim, apesar de eu não gostar de certas decisões que “empobrecem” a longa-metragem, não deixa de ser um grande filme que vale muito a pena ver, seja pela parte de ficção científica, seja pela parte da comédia ou seja pela parte satírica da história.