Opinião de Inês Santos
Artigo exclusivo do site, publicado em Março de 2025
A Cerimónia de Entrega dos Óscares é um dos momentos mais importantes do ano na indústria do cinema e a sua premiação mais prestigiada. Desde 1929, data da primeira cerimónia em Los Angeles, que neste evento se reflete não só o talento da indústria, mas também as extraordinárias desigualdades que nela existem. Concretamente, a relação da Mulher com a Academia tem sido marcada por uma jornada de exclusão, resistência e avanços tímidos.
Há décadas que a Academia tem mostrado uma resistência notável em premiar mulheres nas categorias historicamente dominadas por homens: a categoria de Melhor Direção é um dos exemplos mais claros, uma vez que, numa celebração quase centenária, apenas três mulheres vingaram nesta categoria – Kathryn Bigelow (The Hurt Locker, em 2010), Chloé Zhao (Nomadland, em 2021) e Jane Campion (The Power of the Dog, 2022). O número é alarmante ao considerarmos o número de cineastas talentosas que foram ignoradas ao longo dos anos.
Esta invisibilidade das mulheres na indústria do cinema manifesta-se também nas nomeações. Se recordarmos os Óscares do ano passado, 2024, somos lembrados da ausência de Greta Gerwig e Margot Robbie nas categorias de Melhor Direção e Melhor Atriz, respetivamente, pelo filme Barbie. Apesar do sucesso comercial, do impacto cultural do filme e da opinião dos críticos, a Academia optou por reconhecer a obra em categorias mais “seguras”, não dando o devido destaque às mulheres que a lideraram. Ao mesmo tempo, Ryan Gosling foi nomeado para Melhor Ator pela sua performance no mesmo filme, deixando-nos a nós, espectadores, com uma dúvida crescente: estarão os critérios em vigor ainda muito enraizados numa visão de um mundo masculino, na qual os filmes dirigidos ou protagonizados por e para mulheres são recorrentemente subestimados?
“O aumento na diversidade de nomeadas e vencedoras nas categorias principais não significa que a indústria mudou estruturalmente“
É inegável que houve progresso, principalmente nos últimos anos, mas será que ele é suficiente? O aumento na diversidade de nomeadas e vencedoras nas categorias principais não significa que a indústria mudou estruturalmente. De facto, as mulheres ainda recebem menos financiamento para os seus projetos e são frequentemente vistas como a “exceção à regra” quando estão à frente de grandes produções, tendo de provar o seu valor vezes e vezes sem conta para conseguirem, no mínimo, estar em pé de igualdade com os seus colegas.
A luta pelo reconhecimento nos Óscares não se confina apenas à premiação, alargando-se à criação de oportunidades justas. O simples facto de haver representação feminina nas nomeações às categorias principais abre portas a que novos e jovens talentos encarem o futuro com mais leveza, com mais esperança.
Sendo assim, o que faltará para que a igualdade seja, de facto, uma realidade? Serão necessárias mais diretoras a executar projetos de grande dimensão? Maior diversidade entre os membros da Academia? Penso que a resposta está numa combinação de diversos fatores. É fundamental, por um lado, que os estúdios abram mais portas às mulheres em cargos de direção e realização, e, principalmente, que não as fechem apenas por elas serem mulheres. Além disso, acredito que cada um de nós, o público/espectadores, tem um papel essencial nesta luta, apoiando os filmes dirigidos por mulheres, de uma maneira ou outra, e exigindo maior representatividade no momento de premiar.
Este debate está longe de acabar, e a cada edição que passa, a pergunta ressurge: quando é que as mulheres deixarão de ser a exceção para se tornarem a norma? O cinema é a arte que reflete a sociedade e as suas constantes transformações. Se a Academia quer permanecer relevante neste meio, precisa de reconhecer e aceitar estas transformações.
Joana pereira
14 de Março
Muito interessante!