Licenciado em Engenharia de Minas e mestre em Economia, o Professor Pedro Cosme, antes de lecionar na FEP – onde está há 20 anos –, trabalhou, ainda, na África do Sul e foi professor na FEUP, durante 3 anos. Natural de S.Vicente Pereira, concelho de Ovar, Pedro Cosme vê como momento mais alto da sua carreira a passagem “definitiva” a Professor da FEP, o que lhe garantiu algum conforto e sentiu a acomodação que surge com a idade.

Com que olhos vê a iniciativa, por parte de estudantes de 1º ano, de fundar um Jornal que sirva os interesses dos estudantes da FEP?

Fiquei muito agradado, tanto com a iniciativa como com o convite que me foi feito para trabalhar neste projeto, porque além de ter muito a ver comigo, sinto que devo estar disponível para estes movimentos académicos, de forma a combater a minha inactividade. Por outro lado, gostaria de salientar que, os alunos que se dedicam a estes projectos interessantes e atractivos, devem ter cuidado com o tempo que despendem nestas atividades extra- -curriculares, na medida em que estão na FEP para sair com uma média razoável. Alguns conseguem conciliar as múltiplas tarefas, outros perdem-se e não saem com o curso feito.

Vemo-lo como um Professor muito participativo, no mundo académico, e disponível para integrar diversos projectos. Ainda assim, considera-se como um ser pouco ativo?

Sou inativo por natureza, mas faço um esforço enorme por fazer coisas úteis.

Sabemos que é um grande apreciador e praticante de artes marciais, vê o Governo Português K.O?

Não, porque, se estivesse derrotado, as manifestações de 2 de Março trariam uma alternativa, mas esta não foi apresentada. Assim, não só eu não faria melhor que o líder social-democrata como acredito que mais ninguém seria tão competente num momento tão difícil de governar. Revejo-me no que tem sido feito por Passos Coelho. Aliás, numa analogia, julgo que este executivo é como aqueles pais que as crianças vêem como austeros. No entanto, quando estas são confrontadas com a hipótese de ficarem uma jornada com a avó, ficam em pânico e dizem «Não, não, não, …».

Se estivesse por um dia no lugar do “Gasparzinho”, o que seria diferente?

Nesse dia, a teoria económica diria que os salários deveriam diminuir 15% e o salário mínimo seria erradicado, porém ninguém está preparado para isso. Na economia, os preços são a solução para tudo, não é preciso tempo a pensar nas quantidades certas. Se é necessário um corte de 1000 funcionários no ensino público, que se reduza o salário que eles saem. Por exemplo, bastou o Cristiano Ronaldo dizer-se triste quando o IRS aumentou em Espanha para o Real Madrid ter que repor a diferença para não o perder.

Tem alguma ligação partidária ou revê-se como simpatizante de algum partido político?

Não, confesso que sou completamente apartidário. Já cheguei a votar em Sócrates e agora revejo- -me, como já havia referido, nas políticas económicas que estão a ser implementadas por Passos Coelho.

Fazendo um paralelismo com as últimas eleições italianas, o que acha que aconteceria se o Ricardo Araújo Pereira se candidatasse a primeiro-ministro nas próximas eleições?

O R.A.P. é um comunista assumido, e os ideais “comunas” nunca deram grandes resultados, a não ser na Coreia do Norte de onde saiu uma bomba atómica (mas fracota). Daí, acredito que seria uma candidatura completamente descredibilizada pelos ideias por que se rege. Além disso, os portugueses não são como os italianos, somos muitos mais conservadores nas nossas escolhas.

Qual o seu olhar em relação às actividades praxistas?

Nas atividades de praxe há um trade-off entre uma melhor integração neste mundo novo da faculdade e um pior desempenho académico. Um aluno integrado não se dedica tanto a estudar, porque os livros deixam de ser uma companhia necessária. No meu caso, fui sempre um estudante mal integrado e isso justifica, em parte, o meu sucesso académico.

Na opinião de Pedro Cosme, faz mais sentido que os estudantes façam as suas refeições na cantina, dado o facto de a refeição ser mais completa, por um menor valor. No caso dos funcionários e docentes, o bar terá de ser a escolha, dado que representa uma opção muito mais barata e se é mais bem servido e atendido.

Se estivesse por um dia na direção da faculdade, o que mudaria?

Para começar, gostaria de realçar que o trabalho que tem sido desenvolvido pela direcção é muito positivo. Ainda assim, lamento que a nossa faculdade continue muito distante da comunicação social. Quem discute economia nos nossos ecrãs? Professores da Nova, Católica, ISEG… É necessário investir na projeção da nossa faculdade, de forma a reduzir os custos de periferia, mas isto também passará por um esforço pessoal de todos os docentes disponibilizando-se a dar contributos aos jornalistas da praça.

Pode-nos revelar as edições nacionais e internacionais que costuma acompanhar?

Do que é nacional, tenho por hábito acompanhar o Jornal de Negócios e o Diário Económico, por não exigirem saída de dinheiro. Quanto a edições internacionais, o site da Bloomberg.

O que preenche a sua agenda cultural, de que forma ocupa o seu tempo livre?

Sou um homem inculto, como o Cavaco Silva. Os meus conhecimentos não se extinguem na minha área de ensino, porque vivemos numa sociedade em que a informação chega até nós com muita facilidade. Corro e caminho todos os dias cerca de uma hora e meia, gosto de praticar judo no Clube de Judo do Porto onde tenho um grupo de amigos formidável, fazer as minhas pesquisas e escrever. Em suma, sou um ser pouco interessante.

É um homem de sonhos e projetos, quais pode partilhar?

De facto, não sou. Até nos sonhos sou um comodista, preso à zona de conforto. No entanto, posso-vos revelar que ando a pensar num próximo livro que servirá para descomplicar a Economia. Uma espécie de “Economia para totós”. Mas ainda é apenas um projeto!

Em relação ao último livro que publicou, “Acabou-se a Festa”, porque foi publicado numa versão mais cuidada, sem imagens e provocações?

Nunca poderia incluir as imagens por duas razões: o nosso mercado não permite a publicação de um livro com imagens a cor porque a impressão fica muito mais dispendiosa e as imagens do blog são retiradas na net, havendo problemas associados aos direitos de autor. Apenas isso…!

É conhecido por ser um “blogger” ousado, tanto na escrita como nas imagens que usa. Acredita que há pessoas que o visitam somente para ver as mulheres “jeitosas” que acompanham as suas análises económicas?

Não, isso não. As imagens de mulheres estão muito presentes no meu blogue, é verdade. No entanto, não creio que alguém vá ao meu blogue só com o intuito de as ver porque essas imagens estão publicadas noutros locais (eu retiro-as de outros sítios de acesso públicos). Em todo o caso, se eu não puser mulheres nos meus posts há sempre algum comentário que diz «Onde é que estão as mulheres?».

Qual a evolução da curva da procura do seu blogue?

Neste momento, está estável. Numa fase inicial, tinha poucas visitas. Então, um dia anunciei que ia mudar de linguagem e as visitas da semana seguinte aumentaram imenso. Ao fim e ao cabo, moldei-me ao potencial cliente. Cheguei à conclusão que se queria passar a mensagem teria de recorrer a uma linguagem diferenciadora.

O que o move e comove?

O judo é, neste momento, a minha principal fonte de felicidade, tenho lá grandes amigos e uma prática que me realiza. Por outro lado, a miséria e a guerra comovem-me verdadeiramente (fica sempre bem dizer isto).

Quem são os seus ídolos?

Os deserdados da humanidade, aqueles que todos os dias suportam uma vida de miséria e que, mesmo assim, lutam por continuar … Aquelas pessoas que dão a vida por causas improváveis. Por exemplo, quando vejo pessoas na Síria, a saírem à rua, em fila indiana, com armamento ligeiro fazer face a carros de combate. Isso comove-me. Esse tipo de pessoas faz reflectir um comodista como eu… e, até, escrever. É gente com uma extraordinária noção do que é a “dinâmica de multidão”. Para eles, não importa o indivíduo como ser singular a escrever a história. Eles escrevem a história juntos.

Acredita que os grandes “génios” da humanidade são pessoas que unicamente estudam e trabalham imenso por um fim ou já há algo inato a essas pessoas que as faz ser como são?

Acredito que uma parte considerável seja inata. Nós somos uma variável aleatória, e é muito raro ser-se uma pessoa com capacidades extraordinárias. As pessoas especiais são essas pessoas raras que têm capacidades raras. Claro que essas pessoas podem-se perder. Por exemplo, o Ronaldo e o Messi não são os melhores do mundo por treinarem mais do que os outros, tendo capacidades inatas, mas também ajuda. De nada serviriam as suas capacidade se passassem o dia deitados no sofá.

Agora que falamos em Messi e em Ronaldo e sem olhar a nacionalismos, qual o melhor na sua opinião?

Eu não sou grande seguidor de futebol. Neste momento, diria que talvez o Messi, como jogador integrado num plantel que joga bem (até porque tem conquistado mais títulos colectivamente). O Ronaldo será mais um líder de uma equipa desgarrada fazendo parte de uma estratégia do Mourinho de colocar ordem na casa. O Real Madrid é de governação muito complexa e o Ronaldo tem demonstrado uma grande capacidade de liderança. Mas isto deve ser lido com cautela porque não sou nenhum especialista, não sei… O que sei é que ambos ganham muito dinheiro.

Quem vai ganhar a Câmara do Porto?

Tal como as últimas sondagens apontam, a vitória de Luís Filipe Menezes é quase certa. No entanto, se a lei de limitação dos mandatos chumbar a sua candidatura, Rui Moreira tem a sua oportunidade. A acontecer isso, não haverá dentro do PSD tempo para lançar uma candidatura forte e o Rui Moreira partirá em vantagem, por já estar em campo.