Opinião de Bárbara Gomes
Artigo exclusivo do site, publicado em Fevereiro de 2025
A errada perceção da sociedade sobre distúrbios alimentares é um dos principais contribuintes para a dificuldade do reconhecimento e aceitação dos mesmos. Numa época caracterizada pela liberdade das palavras perdem-se barreiras que dão lugar a preconceitos incompreendidos.
Apesar da crescente consciencialização sobre as perturbações alimentares e os seus impactos na saúde, é possível verificar que é um conceito que ainda anda de mãos dadas com estigmas e prejuízos, frequentemente associado à falta de vontade, à necessidade de atenção ou a preocupações excessivas com aparências. Esta visão falaciosa e limitada pretere a componente psicológica e emocional que ocorre, predominantemente, de modo inconsciente e conduz a uma amplificação da mesma.
Uma narrativa dominante e essencial aponta como principal causa os padrões de beleza irrealistas definidos por pressões sociais e ilusões de perfeição, surgindo uma incessante busca de um corpo inalcançável e uma crescente distorção da imagem corporal. Acostumados aos comentários típicos de jantares de família, como “come mais um bocadinho”, “estás tão magro(a)”, acabamos por normalizar e impulsionar a criação de um ambiente favorável a sentimentos de vergonha ou insuficiência.
“os distúrbios alimentares nem sempre estão associados à preocupação com a aparência”
Contudo, é importante perceber que os distúrbios alimentares nem sempre estão associados à preocupação com a aparência ou à constante busca do sentimento de aceitação. Questões emocionais como a ansiedade ou depressão, normalmente reprimidas ou vividas em silêncio, desempenham um papel crucial no desenvolver destes distúrbios, acabando por ter efeitos fisiológicos nos pacientes.
Quando uma pessoa sofre de depressão ou ansiedade vê-se perante uma realidade distorcida, vive presa num corpo que não reconhece e é afogada em pensamentos apavorantes. A constante presença de sentimentos prejudiciais e assoladores criam um distanciamento entre a perceção da pessoa sobre si mesma e da mesma com o mundo à sua volta, podendo, ainda, afetar neurotransmissores que regulam o humor, o bem-estar e, nomeadamente, o apetite. Por outro lado, surge um desinteresse pelas atividades diárias e simples, como as refeições, onde estas são vistas como tarefas insuperáveis e desprovidas de prazer ou significado.
O bem-estar de alguém que vive com uma perturbação alimentar vai muito para além do físico. Apesar de frequentemente diagnosticado devido a alterações no peso, a verdade é que as consequências emocionais e sociais são avassaladoras, dificilmente quantificáveis e frequentemente disfarçadas. Da mesma forma que é fácil pintar um quadro e escolher minuciosamente a cor que pretendemos mostrar e a luz que sabemos que o público deseja ver, quem sofre desta condição sabe também como disfarçar o que realmente sente, apenas revelando o lado “luminoso”, aquele que quer que as pessoas vejam. Assim, dá-se início a um ciclo vicioso, uma realidade vivida em silêncio e rodeada de um medo inaudível.
Disfarçar estas dificuldades torna-se um paradoxo humano: um pedido de ajuda abafado pelo medo de ser vulnerável e incompreendido. Para quebrar este ciclo é essencial promover a educação e empatia, de modo a desmistificar os estereótipos em volta das mesmas. Trata-se de algo muito mais profundo do que uma “mania” ou uma escolha pessoal de querer ser bonito(a) aos olhos da sociedade, é uma manifestação de socorro que vai além do superficial.
João
3 de Março
Este artigo é uma reflexão poderosa e necessária sobre os distúrbios alimentares e a forma como a sociedade ainda os encara com preconceitos e ideias erradas. A Bárbara aborda o tema com sensibilidade e profundidade, desmistificando a noção de que estas perturbações se limitam apenas a questões de aparência, tornando relevante a complexa relação entre saúde mental e comportamento alimentar. Realmente, a importância da empatia e da educação na desconstrução destes estigmas é crucial!
Parabéns pelo artigo!
Daniela Dias
1 de Março
Que artigo importante! É muito importante educar sobre temas pouco abordados e quebrar tabus.