O Crédito Agrícola, como maior banco cooperativo em Portugal, pratica desde a sua génese uma banca próxima, focada no bem-estar das comunidades locais, estando empenhado na transformação e reforço da resiliência da economia nacional.

É cada vez mais clara a centralidade do sistema financeiro na transformação ambiental e social das economias. Desde a criação, na UNEP (programa ambiental das Nações Unidas), da Iniciativa para o sector Financeiro que os principais atores do sistema económico-financeiro têm vindo a mobilizar-se pelo desenvolvimento sustentável. Nos últimos anos, iniciativas semelhantes têm-se reforçado, nomeadamente no seguimento dos compromissos internacionais e conscientes dos grandes gaps de investimento que persistem para alcançar os objetivos climáticos a que países, sociedades e empresas se comprometeram.

Um estudo publicado pela Moody’s no passado mês de outubro confirmava que o gap anual em investimentos climáticos até 2030 totaliza 2,7 biliões de dólares (1,8% do PIB mundial), dos quais 2,4 biliões em mitigação climática e 400 mil milhões em adaptação. Sendo que os custos destes investimentos serão compensados com a perda anual evitada de 2% do PIB mundial, em particular com uma redução dos impactos financeiros dos eventos climáticos extremos e com os ganhos de produtividade.

Inicialmente mobilizados pela questão moral e pela pressão de consumidores, talento e comunidades, as grandes empresas financeiras e não financeiras abraçaram a sustentabilidade como uma questão de responsabilidade social e de marca. Outras rapidamente viram-na como uma oportunidade de negócio, apostando em modelos de negócio emergentes (por exemplo, as energias renováveis, a mobilidade limpa ou a bioeconomia). As primeiras com uma jornada mais tremida e sujeita às flutuações das pressões e as segundas com uma jornada mais sólida e a colher os frutos económicos de proativamente procurarem o impacto. 

Estamos agora numa fase de urgência, em que o foco tem estado num terceiro prisma – a gestão de riscos, principalmente climáticos, de duas naturezas: físicos e de transição. Nos físicos, as economias estão cada vez mais conscientes dos impactos financeiros negativos que os eventos climáticos extremos (por exemplo, os incêndios que devastaram a Califórnia ou as chuvas em Valência) e os efeitos das tendências climáticas (por exemplo, a escassez de água no sul da Península Ibérica) geram e podem vir a gerar. Os de transição também são cada vez maiores e mais evidentes: os que nascem da preocupação do legislador em evitar a catástrofe climática, e os que, por outro lado, nascem da obsolescência tecnológica, face aos avanços que vêm das economias mais poderosas.

O regulador bancário europeu tem sido, neste contexto, vocal na necessidade de financiamento climático (de mitigação e adaptação) e é cada vez mais exigente com orientações e expectativas sobre a estratégia e a gestão de riscos climáticos por parte das instituições financeiras. Para o regulador importa a estabilidade do sistema económico-financeiro e, portanto, não lhe é indiferente o que cada instituição financia nem a preparação e resiliência climática dos clientes de cada instituição.

A este propósito, o Banco Central Europeu, no boletim económico de Junho de 2022, indica que Portugal é o país na área do euro com maior necessidade de investimento verde anual em % do PIB até 2030, cerca de 7% do PIB ao ano. Em complemento, no exercício de stress climático divulgado pela mesma entidade em Setembro de 2021, o BCE indica que o setor bancário nacional é o terceiro no contexto europeu, com maior exposição creditícia a riscos climáticos físicos graves, justificável pela maior exposição dos países de sul da Europa e de setores relevantes nessas economias como o turismo e a agricultura, aos eventos extremos e tendências climáticas. Neste sentido, o regulador europeu também tem vindo a solicitar uma série de reportes (como taxonomia e planos de transição) e a solicitar alteração de processos estruturais das instituições, nomeadamente relacionadas com a integração de riscos ESG (práticas ambientais, sociais e de boa governança das empresas) nos frameworks de gestão de riscos, bem como a incorporar o impacto desses riscos na gestão de outros riscos tradicionais como os de crédito.

No Crédito Agrícola encaramos a sustentabilidade nestes 3 prismas (propósito, oportunidade e gestão de riscos), apostando na interseccionalidade, na multidisciplinaridade e na complexidade da gestão destes temas. Das parcerias de impacto, ao reforço da proposta de valor ESG financeira e não financeira para clientes, à obtenção e tratamento de dados granulares, tem sido uma jornada intensa neste nosso papel ímpar, exercido com convicção, na transição para uma economia mais verde e inclusiva.

Em forma de ilustração não exaustiva do caminho que temos percorrido, destacaria as iniciativas e projectos que o Crédito Agrícola dinamizou nos últimos 12 meses em cada um desses prismas como no caso das oportunidades de negócio: a revisão do framework da obrigação verde, social e sustentável, que serve de orientação para alocação dos fundos que vierem a ser obtidos junto de investidores, robustecendo e elevando o compromisso do Crédito Agrícola em financiar projetos com critérios ambientais e sociais sólidos; a execução de algumas operações de financiamento verde ou sustainability-linked com grandes empresas; a disponibilização à rede de PMEs (pequenas e médias empresas) de algumas soluções de financiamento protocoladas; a dinamização de acções de capacitação especializadas e direcionadas aos setores para os quais definimos targets Net Zero. No prisma da gestão de riscos, além do cumprimento das exigências de reporte, tem estado em evidência o esforço em ter cada vez mais dados granulares e reais para robustecer os reportes e melhorar a gestão destes temas, sendo de destacar neste âmbito a participação na solução SIBS ESG como membro fundador. Por fim, e não menos importante, temos encarado o propósito de forma mais estratégica e estrutural, construindo parcerias robustas em temas materiais e que estejam ou que se preparem para estar ligados ao terreno, que procurem ter um efeito sistémico na instituição e na sociedade e que façam uma ligação entre ambiental e social. Demos, a este propósito, continuidade à parceria com a JustAChange (pobreza energética e habitacional, conforto térmico, eficiência energética) e formalizámos uma parceria com a Business as NatureGuardiãs da Natureza (biodiversidade e igualdade de género).

2025 será o ano de consolidação desta jornada, na qual não poderia deixar de destacar a parceria que muito orgulhosamente assinámos com a FEP no passado dia 29 de novembro. No Crédito Agrícola acreditamos na qualidade e rigor do ensino da FEP e no alinhamento de ambas as instituições na visão sobre o impacto sistémico da capacitação e do incentivo às gerações de gestores de hoje e amanhã a terem a sustentabilidade como pedra basilar da atuação enquanto pessoas e profissionais.