Conduzida por Alexandre Alves e Francisco Carneiro
Também incluída no FEPIANO 36, publicado em Dezembro de 2018
Escritora e jornalista, Isabel Stilwell é autora de romances históricos de sucesso sobre rainhas de Portugal. Publicou vários romances infantis, alguns escritos em parceria com os filhos. Foi diretora do Jornal Destak e da Revista Notícias Magazine. Atualmente escreve para a revista Máxima, tendo uma das suas peças sobre a adoção em Portugal («Não amam nem deixam amar», em conjunto com a jornalista Carla Marina Mendes) sido distinguida com o 1º Prémio de Jornalismo «Os Direitos da Criança em Notícia». Continua a colaborar mensalmente com a revista Pais e com o Jornal de Negócios.
Como é que decidiu começar a escrever?
Escrevo desde sempre. Desde que aprendi a escrever, embora fosse difícil porque eu tenho dislexia, sempre quis escrever imenso. Escrevia histórias enormes. Mas depois, quando as outras pessoas tentavam ler, aquilo era um bocadinho impossível de ler. Eu lia as minhas próprias histórias, porque era muito fonético. Tanto falar, bem como escrever, foi sempre o que eu quis fazer. Sempre quis comunicar com os outros.
Escrever ajudou-a a superar a dislexia?
Aconselho todos os disléxicos a começarem a escrever. Hoje em dia não se coloca essa questão, mas a mim ajudou-me imenso começar a escrever num teclado. Na minha altura, ser diagnosticada com dislexia, para mim, foi um alívio. Nos quatro primeiros anos da escola as pessoas associam a preguiça. Quando fui diagnosticada com dislexia deixou de ser visto como uma desculpa e passou a ser uma justificação para o que eu sentia. De facto, escrever à máquina ou teclado obriga a ter mais consciência de escrever uma letra de cada vez. Comigo, não era só dislexia. Eu pensava tão rápido que a minha escrita não conseguia acompanhar, queria escrever tão depressa que aquilo ficava perdido. Hoje em dia, agradeço aos revisores e corretores ortográficos.
Sente que passou por algum preconceito por ter dislexia?
Sim, imensos. Eu detestei a escola, sobretudo a escola primária. Acho que, felizmente, a escola já não é assim. Mas acho que havia uma nítida divisão dos alunos que eram vistos como brilhantes e capazes, que ficavam na primeira fila, e os outros, esquecidos no fundo.
Li numa entrevista que não gostou muito da sua infância. É verdade?
O que eu costumo dizer é que a infância não é dourada como as pessoas têm o costume de dizer que é. As pessoas costumam dizer “quem me dera voltar à minha infância”. Na realidade, eu acho que têm falta de memória. Apesar de eu ter tido uma infância feliz, lembro-me de milhares de angustias da infância: medo que os meus pais morressem, entravam num avião e eu tinha medo que não voltassem, angústia da escola e ansiedade, testes, avaliações. Tantas coisas que não percebemos. Digo que sou mais feliz em adulta porque a verdade é que temos muito mais controlo sobre a nossa vida. Em criança estamos muito dependentes de tudo à nossa volta.
Na escola primária, sentiu que faziam a divisão entre melhores e piores. Acredita que devemos ultrapassar as diferenças juntos para não haver distinção entre partes?
Obviamente. O ensino integrado, do ponto de vista teórico, é fantástico. Mas também sei que, neste momento, o ensino integrado é “ponham lá uma criança ou duas com necessidades especiais por classe” e não há apoio nenhum para essa criança. Temos um professor que já tem trinta alunos e além disso ainda tem um aluno com hiperatividade ou dificuldade, chegando ao ponto de estar tão sobrecarregado que não consegue ajudar nem uns, nem outros. O que eu acho que é não é necessário ser algo tão taxativo. Sinto é que não deve ser feita distinção fora da escola. Deve ser feito com grande consciência e com grande cuidado, para que não seja apenas mascarar esse problema e assumir o papel de escola evoluída, quando o problema está lá e não é resolvido. Ainda há pouco tempo fiz um livro para uma associação chamada “Pais em rede”, uma associação para pais de crianças com necessidades diferentes. Vi pais com meios económicos baixíssimos não conseguirem fazer um esforço económico para conseguirem colocar a criança numa escola privada especializada com apoio especial e a criança acabar por andar absolutamente ao abandono. Portanto, acho que é um problema real que acaba por ser esquecido.
Acha que a escola mudou?
Acho que a escola mudou imenso e para melhor. Os professores têm hoje maior capacidade pedagógica, os professores estão muito mais atentos a estas dificuldades das crianças.
A questão do ensino é fundamental. Agora, cada vez mais, há uma consciência de que a escola devia mudar para melhor?
Sim, há muitas alterações que são necessárias. Como o professor Carlos Neto diz, é uma escola do século XIX, com crianças do século XXI. Preocupa-me, por exemplo, sabermos que Portugal tem os professores mais envelhecidos. Estava a ler há pouco tempo que há 1% de professores no ensino primário e secundário com menos de 30 anos. A taxa de mais de 50 é enorme. Há professores que o são por vocação, que vão ser uma sorte para um aluno apanha-los tendo eles 60, 70, 80 ou 90. Mas há muitos professores altamente cansados, desgastados. São 6 mil de baixa à espera de junta médica. Que tiveram um inferno ao fim de uma vida, com ministérios que mudaram completamente o sistema. Estão com muito pouco entusiasmo, alguns profundamente deprimidos. Nos outros países, alguns outros, os professores acabam por mudar de carreira e eu tiro-lhes o chapéu, é difícil. Hoje em dia é muito mais difícil. Temos 30 alunos, nem todos eles motivados. Antigamente, só passavam para os níveis mais elevados de escolaridade os que realmente estavam mais motivados e melhor alunos. Neste momento, com a escolaridade obrigatória até ao 12º ano, está ali muita população às vezes com muitos outros problemas que não são simples. Ser professor hoje é muito desgastante. Se calhar os professores mais novos, com uma formação mais nova, até em termos de geração mais próxima, podiam ser uma mais valia na escola. Não sei como é que isto se resolve.
Relativamente ao objetivo de projetos como o “Plano Nacional de Leitura”, acha importante trazer os livros à escola e colocar os alunos a ler?
O PNL foi importante porque ajudou a valorizar os livros. Também para que a escola tivesse uma lista de livros que pudessem ser mais acessíveis. No entanto, continuo a achar que as crianças vão ler quando os pais lhes derem, antes de mais nada, os livros que eles, como pais, mais gostaram. Sabemos que na Finlândia, e em países que tem grande sucesso na escola, as crianças entram já no jardim de infância e depois na primaria com horas de leitura ouvida. A sensibilização para o livro começa no entusiasmo com o que os pais leem. Não é só os pais comprarem algo no “mindset” de “vou comprar um livro ao meu filho, mas eu gosto não de ler”. Não. Há muitos pais a dizer “o meu filho só está no telemóvel e no Tablet”, mas os pais estão a ler o livro ou estão também no telemóvel? As crianças imitam e querem ser crescidas. Elas querem ser parecidas com os pais. Tentar impingir aos nossos filhos algo que não gostamos pode ficar muito bem nos livros de autoajuda, mas na realidade não funciona. Uma criança que vê os pais a falar de um livro com entusiasmo vai ter muita mais vontade de ler esse livro e perceber o que é que os pais têm entre aquelas páginas que as fazem vibrar tanto, do que pais que compram uma pilha de livros, todos muitos bonitos, e os deixam ganhar pó. A posição dos pais transmite o que eles sentem, é essa a emoção que passa. Mais vale ter três livros favoritos que pais e filhos adoram ler do que estar a dizer “mais este, tão bonito”.
Quando eu era pequeno, os meus pais liam-me todos os dias uma história antes de dormir. Agora, ler para mim é um vício.
Mesmo os pais que não leram, provavelmente, contaram histórias. É o ouvir contar a história que entusiasma as crianças para o livro. A função da escola é fundamental na democratização da sociedade nesse sentido. É um lugar de oportunidades. O papel dos professores é grande.
Um facto curioso: escreveu bastantes romances históricos, mas com predominantemente figuras femininas. Tem alguma razão?
Eu fui de encontro para uma editora. Convocaram-me uma reunião para eu escrever um livro sobre adolescentes. Já tinha feito dois. Um chamava-se “Quero um filho melhor por este preço”, que foi uma frase que o meu filho de 10 anos me disse uma vez. “Mas a mãe quer mesmo um filho melhor por este preço?!”. Tomei consciência que muitos alunos adolescentes pensam que estão a estudar por causa dos pais e que as notas são para os pais. Que vão para a escola porque foram lá “empregados” pelos pais. E esta frase do meu filho permitiu-me perceber “espera aí que estás a ver mal o filme! Eu tenho uma profissão, uma carreira, um emprego. Quem não tem profissão és tu. Eu não preciso das tuas notas, tu é que precisas delas”. Esta visão da escola existe também porque os pais perguntam mais rápido aos filhos quando eles chegam a casa “quanto tiveste no teste?” e “já fizeste os trabalhos de casa?” em vez de “como te correu o dia?”. Parece um patrão a picar o livro de ponto e a ver se o funcionário cumpriu. Como disse, perguntaram-me se eu queria escrever sobre adolescentes. Como já o tinha feito duas vezes, não aceitei. Ao sair da sala de reuniões, vi uma estante com muitos livros. Eu, que sou uma leitora compulsiva de romances históricos, reparei que eles tinham livros sobre heróis portugueses escritos por leitores estrangeiros. Perguntei “porque é que não há portugueses a escrever sobre heróis portugueses?” ao qual me responderam “sente-se! Gostava de o fazer?”
Já lhe tinha ocorrido essa ideia?
Nunca me passou pela cabeça. Quando percebemos muito de uma área, sabemos que há romancistas históricos bons, médios e maus. Deixamos de ter aquela ingenuidade que tínhamos em criança quando íamos ao circo e dizíamos “eu também fazia aquilo”. Começamos a perceber que, para as coisas serem boas e muito bem-feitas, devem ser muito difíceis de fazer e feitas por pessoas com muito talento. Nunca me tinha visto como ser eu a fazer. Aceitei o desafio, com a cláusula de depois eles avaliarem se era bom o suficiente para ser publicado. Quando me perguntaram sobre quem, o meu inconsciente falou mais alto. Filipa de Lencastre fazia todo o sentido, sendo que eu era filha de pai e mãe ingleses a viver em Portugal. A única princesa inglesa que foi rainha de Portugal obviamente era tema de conversa na minha família. O lançamento foi aqui no Porto. O então Bispo do Porto Manuel Clemente, que é historiador, disse-me: “agora que escreveu sobre Filipa de Lencastre, agora tem de escrever sobre Catarina de Bragança que é a única filha de portugueses e rainha de Inglaterra, portanto, o contrário”. E começou, então, pelas rainhas. Aí, percebi que não havia quase nada sobre estas mulheres que foram tão importantes.
Acha que a história se esquece das mulheres?
A história do século XIX e XX tendencialmente esqueceu as mulheres, que estão agora a vir ao de cima e a ser mais conhecidas. Quando a sociedade era patriarcal, a frase quanto muito era “atrás de um grande homem existe uma grande mulher”, não o contrário. Isto são tempos novos na descoberta destas mulheres.
Qual é a sua maior inspiração?
Depende do que estou a fazer. A minha maior inspiração do jornalismo é a indignação. A injustiça é um dos meus maiores motores. Mas sempre ligada a uma esperança muito grande de que o jornalismo possa alterar essa realidade. Não é um expor por expor, é um expor no sentido de encontrar soluções. Dito isto, é falar do que é feito para resolver este tipo de situações, não podemos ter um jornalismo só negativo. A verdade é que a função do jornalismo é esta: atenção ao que está mau para fazer bem, na esperança de que aconteça melhor.
Somos um jornal jovem. A juventude de hoje em dia tem a atenção mais voltada para as plataformas online. Os media estão a ocupar lugar nas suas vidas. Como é que os jornais se estão a adaptar a isto?
Os números de vendas dos jornais impressos diminuíram, embora eu ache que em Portugal isso também foi fomentado pela crise económica, que levou ao desinvestimento na publicidade. É difícil criar modelos novos. A verdade é que fazer dinheiro online continua a ser muito difícil. As pessoas não estão habituadas nem pagam por conteúdos. Isso criou um problema muito grande ao jornalismo. Ao contrário do que as pessoas pensavam, a publicidade investida no meio era a garantia da sua capacidade e liberdade editorial. Era a independência económica do produto, que torna possível dizer “não”. Ter publicidade é sinal de que as marcas acreditam na publicação e é sinal que é publicado o que é lido.
A publicidade é uma mais valia?
Eu fui diretora do Destak, um jornal gratuito, mas mesmo num jornal assim uma maior quantidade de publicidade dá-nos oportunidade de filtrar as marcas que promovemos. Garante-se assim a independência do jornal. O equilíbrio económico de uma empresa de media, quer seja online ou não, permite-lhe pagar a pessoas e jornalistas para investirem em investigação e deixar de ser uma “caixa de ressonância” de interesses extras. Assim não se corre o risco de chegar uma história já meia feita ao jornal, sem haver questionamento. As agências de comunicação assim não entregam ao jornalista um artigo já quase feito e direcionado. Preocupo-me com a independência da comunicação social se não encontrarmos um negócio que permita a garantia da independência da capacidade de investigação.
E em relação ao impacto das redes sociais?
Parte da educação do leitor. Eu fico de boca aberta com a forma como as pessoas conseguem partilhar notícias sem ver a fonte. Por exemplo, há uns 5 anos, apareceu uma página nas redes sociais que era uma imitação de uma página das noticias magazine, com a minha foto e com o meu nome, com um texto inacreditável contra uma minoria, de um louco qualquer que decidiu brincar e fazer aquela página. Mais inacreditável ainda foi a quantidade de insultos, que começavam em letra pequenina e aumentavam imenso de tamanho. Eu não estou na notícias magazine há 10 anos. Mesmo que as pessoas pensassem que eu era tão maluca e tão insensível, capaz de escrever aquele texto, deviam ter o mínimo de consciência e noção que nenhuma revista ou jornal publicaria aquilo. Um artigo só com insultos. Essa notícia foi partilhada até por professores universitários. Houve partilhas e insultos. As pessoas precisam de ser educadas para saber como utilizar as redes sociais da melhor forma. Ninguém se deu ao trabalho de confirmar a veracidade da notícia. Chegaram ao cúmulo de, num comentário, desejar um cancro da mama a mim ou à minha filha. Há uma sensação virtual que estamos a dizer algo, mas não estamos a ter tanto impacto. As leis também precisam de ser adequadas. Os meus filhos eram do tempo das Tartarugas Ninja. E eu costumo dizer: as pessoas têm que perceber que as leis que reinam acima da superfície têm de ser as que reinam abaixo. Não se pode pensar, por exemplo, que o direito ao bom nome acaba depois de um clique ou atrás de um ecrã. Se fosse escrito, as pessoas seriam responsabilizadas. E ali não são. As pessoas necessitam de um pouco mais de consciência que não vale tudo.
Acha que as pessoas deviam ter formação para usar redes sociais?
Eu acho que a isso se chama cidadania. Da mesma maneira que ensinamos a atravessar a passadeira e não cuspir no chão, teria que haver uma formação. Não é preciso uma cadeira de faculdade, mas no fundo passa pela formação pessoal de todas as pessoas. Eu percebo o imediatismo das conversas virtuais de café. O problema é que ficam registos.
Tem medo que a credibilidade do jornalismo fique comprometida por ser tão fácil criar informação distorcida?
Se estivéssemos num mundo racional, as pessoas apostariam nas marcas que merecem credibilidade e far- -se-iam assinantes dessas, da mesma maneira que bebem Coca-Cola e não uma marca diferente, porque sabem distinguir a qualidade. No jornalismo, as pessoas, inteligentemente, deveriam fazer isto. Na realidade, o que acontece é que, ao pesquisarem a informação num motor de busca, dão de caras com meias verdades. No estrangeiro, só se está a conseguir fazer pagar opinião. O Financial Times consegue ser pago por assinatura, ainda. Ainda existe a sensação que há conteúdos que são tão bons e credíveis que só se pode ter acesso a pagar. Eu sou muito otimista em relação à evolução da humanidade. Temos sempre tendência em encontrar as melhores soluções.
Os jovens podem ser um caminho para a solução?
Eu sou a favor dos mais novos. Quando fui diretora do Destak, o meu grande prazer foi ter uma equipa de miúdos acabados de sair da faculdade ou pouco mais. Acho que é rejuvenescedor para alguém trabalhar com pessoas mais novas. Mas também são cruciais a experiência e a segurança do tempo. Um problema que consegui encontrar em alguns jornais é que, numa administração um pouco menos bem pensada, acaba-se por cortar naqueles que recebem salários mais altos, ou seja, preferem ficar apenas com os mais novos. Faz também falta alguém com experiência que faça o contraponto e ajude a pensar na atividade. Mas os jovens tendem a ser mais criativos e a encontrar novos caminhos.
Acha que as novas gerações vão ter mais desafios?
Sempre que falamos de jovens estamos a falar de tanta gente e de pessoas tão diferentes, corremos o risco de generalizar. Há jovens mais capazes e mais seguros de si. O melhor que pudemos dar aos jovens foi tornar a escola pública e a universidade sustentável para que tanta gente se pudesse formar. Até mesmo para poder emigrar, não como antigamente – com todo o respeito, para trabalhar nas obras em França ou ser porteira de um edifício, com todo o mérito que essas pessoas tiveram e coragem de mudar a sua situação de vida – mas para lugares muito melhores. Eu acho que melhor que choramingarmos por eles saírem, devemos criar melhores oportunidades no nosso país a longo prazo. Os descobrimentos foram isso. Aconteceram porque eramos um país tão pobre que tivemos coragem de nos colocarmos numa casca de noz em busca de um destino que não sabíamos se era certo, porque a alternativa era uma pobreza enorme. Vamos ter sempre emigração. É muito melhor que o façam com uma formação que lhes dê lugares melhores. A grande angustia dos jovens são as opções. Na minha época, seguíamos para humanidades ou para ciências e depois tínhamos uns quantos cursos a seguir por onde escolher. Agora, há tudo. Relativamente à escolha da profissão, eu costumo fazer referência ao discurso do Steve Jobs onde ele diz que o melhor que podemos fazer na nossa vida, um dia mais tarde, é olhar para trás e poder ligar os pontos para ver que tivemos um percurso coerente nas nossas vidas. Vejo hoje, com os miúdos, que os pais escolhem muito por eles. Há miúdos no 11.º ano que ainda não sabem o que querem. Há uma entrada na universidade com uma desistência enorme dos cursos. Por um lado, não se treinaram a escolher. Por outro lado, continuam a achar que a decisão é definitiva. O novo mundo mostra que a escolha se vai fazendo consoante as oportunidades. No meu tempo, quando mudei de emprego, a minha mãe dizia-me: vão ficar com muito má opinião sua, vão achar que é confl ituosa e teve de mudar. Hoje, uma pessoa que não mude é malvista porque parece que não tem mais para onde ir.
Eu sou bastante cético em relação aos meios de comunicação. Qual é o veiculo de informação que me garanta que estou a ter uma informação fidedigna?
O ponto chave é ter várias fontes de informação. Eu pessoalmente leio o Público, o Observador, a BBC, a Times, leio vários. Tento cruzar aquilo que leio, é uma boa solução. Outra solução é ir diretamente à fonte. Por exemplo, as leis são muito mais fáceis de ler do que aquilo que imaginamos. A lei é feita para ser muito clara. Convém ir à raiz, ao documento inicial das coisas, para termos espírito crítico e para termos uma opinião. Por outro lado, o cenário fica complicado quando vejo um noticiário da noite a abrir com uma noticia do Facebook. Eu fico incrédula. O Facebook é uma rede social que supostamente serve para encontrar aquele amigo que você não vê há muito tempo. Quando uma rede social dita a comunicação social eu fico de boca aberta. Há algum tempo, o Rui Rio levantou a questão de Tancos no fim da universidade aberta do PSD e duas horas depois o ministro da defesa respondeu-lhe no Facebook. Eu pergunto-me: como é que depois os políticos se podem queixar das fake news? Há comunicados de imprensa, conferências de imprensa, comunicados oficias. Os políticos têm de ser os primeiros a ter a consciência de que o Facebook não é para dar uma reposta em primeira mão a um líder partidário. Não se vota no Facebook, vota-se nas urnas.
Para terminar, um conselho aos estudantes que vão ler esta edição do Jornal Fepiano?
Tenho a dizer aos futuros economistas e futuros gestores que vão sair da FEP que persistam, mesmo perante todas as burocracias que vão encontrar. Na realidade, uma empresa começa por ser uma firma pequena, mas perante o estado, quase que tem de contratar três advogados para responder às situações, mais não sei quantos contabilistas. Ou seja, uma burocracia enorme. Uma empresa de três pesso as passa a precisar de umas vinte. Se estiverem um dia em lugares infl uentes, fiz também um artigo na altura do anterior governo, em que constatei, naquela altura, que entre ministros e secretários de estado havia apenas um que tinha tido uma empresa, um percurso de vida empresarial. Os outros, vêm da academia e das universidades, ou da política desde o início, ou da advocacia. Enquanto no governo não estiver uma pessoa que saiba como é a realidade do tecido empresarial, será difícil mudar.