Que mensagem gostaria de deixar aos novos rostos da FEP?

A responsabilidade que recai sobre os novos Estudantes da FEP e mesmo sobre nós, professores, é colossal. Os estudantes, se estão aqui, é porque fizeram um esforço enorme e porque conseguiram muito bons resultados. No entanto, devem estar preparados para um choque nesta nova etapa do seu desenvolvimento.

O que explica que, apesar da queda exorbitante das médias a nível nacional, as licenciaturas de Economia e Gestão, na FEP, registem uma subida?

Esta questão merece ser discutida e exaltada. Voltamos a ter as médias mais altas, a nível nacional, nas licenciaturas de Economia e Gestão. Além disso, fomos das poucas Escolas a subir a média num contexto de baixa generalizada, em particular na área da Economia e da Gestão, nomeadamente no grupo das melhores Escolas onde nos posicionamos. É gratificante verificar duas questões. Primeiro, de 2010 para 2013, melhoramos substancialmente a nossa posição relativa nas médias de acesso tanto na licenciatura Economia como na de Gestão. Segundo, este ano o nº de candidatos à FEP em 1ª opção aumentou 10%, indicador que nos destaca a nível nacional e inclusivamente no seio da UP. Isto explica-se pela imagem da FEP. Conquistamos estudantes noutras zonas geográficas. O nosso trabalho é reconhecido, a imagem é muito boa e justifica a vinda dos melhores alunos. Por outro lado, o momento alto da Faculdade refletiu-se também nas candidaturas aos nossos mestrados.

O que destacaria no seu percurso profissional e académico?

A par da minha carreira académica, desenvolvi uma carreira profissional. Por exemplo, quando me formei optei por ir para uma PME e não para um banco ou para uma consultora. Depois de um estágio na Ibersol, fui seduzido para trabalhar nessa PME como chefe de vendas. Seguiram- -se várias experiências, não consecutivas, nos cargos de diretor comercial, de diretor geral, de administrador e, por fim, de presidente de conselho de administração.

Em paralelo, em 1988, iniciei a minha carreira na FEP como assistente. Pouco tempo depois, fiz o mestrado e acabei por fazer o doutoramento, experiências de aprendizagem que passaram pelo estrangeiro e que foram sendo intercaladas com experiências no mercado de trabalho. Em 2000, mal me doutorei, deram-me na FEP, como “presente”, a direção da licenciatura. Aí comecei uma experiência de gestão na Universidade que não mais parou até ao presente momento. Entre 2000 e 2006 fui diretor de licenciatura, depois diretor de mestrado e em 2008 eleito diretor do doutoramento em gestão, até que, em 2010, vários elementos da AEFEP me desafiaram a ser diretor da Faculdade.

Hoje, considero que o facto de ter estado dos dois lados, ligado ao mundo académico e ao terreno, está a ajudar-me bastante na gestão da FEP. Essa experiência permite-me retirar muitos contributos do mundo empresarial, em particular dos cargos executivos que desempenhei. Contudo, permite perceber também que a gestão de uma faculdade é muito diferente da gestão de uma empresa. Aliás, as coisas aqui são bem mais complexas… Cumprimos objetivos sociais, mas estamos inseridos no “mercado” e os recursos à nossa disposição são cada vez mais escassos… por fim, controlamos menos variáveis do “negócio” se comparados com empresas e tudo o que fazemos tem que ser muito bem fundamentado, ou não fossem os nossos “operários” todos doutorados…

Como é que vê o jornal Fepiano, que surgiu para servir meramente os interesses dos fepianos?

Há muito tempo que a Faculdade tinha espaço para um jornal, portanto era uma questão de tempo. No entanto, isto teria de acontecer pelo lado dos alunos. Acabou por surgir esse espaço em que as pessoas são convidadas a refletir sobre a própria faculdade, o que é muito bom. Sei que é algo que exige muita força de vontade e a capacidade de retirar desta iniciativa algum prazer, mas essas características são algumas das quais eu associo facilmente aos alunos da FEP. E a nós cabe, apenas, apadrinhar e apoiar o dinamismo que se observa nas inúmeras iniciativas dos estudantes da nossa faculdade.

Como colocaria a FEP no plano internacional?

Existem escolas em Portugal que iniciaram o seu percurso internacional com cerca de dez anos de antecedência sobre nós. A nível nacional, até recentemente, a FEP nunca sentiu a necessidade da sua internacionalização ou da obtenção das acreditações internacionais, porque o rigor e a qualidade do nosso ensino são internamente reconhecidos. O problema é que a partir do momento em que ultrapassámos a nossa fronteira, esse reconhecimento não tem qualquer valor. Em 2010, quando chegamos à Direção, o processo de internacionalização e, em particular, das acreditações internacionais da faculdade estava todo por fazer, apesar do nosso corpo docente já estar há muito internacionalizado. Lá fora, para sermos reconhecidos é necessário um “selo” que garanta a qualidade e nós ainda não o temos. Por exemplo, para fazer parte do ranking do Financial Times é necessária a acreditação internacional EQUIS e/ou AACSB. Estou convicto que estamos bem colocados e no dia em que detivermos as acreditações internacionais estaremos em condições de disputar os rankings e começar a ser vistos pela comunicação social de uma forma diferente. Mesmo agora, apesar de ainda não estarmos acreditados, temos conseguido estabelecer parcerias com faculdades detentoras desses “selos”, o que mostra que essas Escolas percebem o nosso potencial. Algumas consideram-nos uma jóia escondida…

Não considera que a faculdade está demasiado dependente das várias associações de que a FEP dispõe, para colmatar um lado mais frágil do curso em termos de soft skills?

Boa pergunta! Essa oferta está articulada com os vários organismos estudantis, o que pode ser uma vantagem. Um dos meus maiores anseios era tentar introduzir, tanto em Economia como em Gestão, disciplinas relacionadas com o desenvolvimento das competências comportamentais, o que acabou por ser introduzido apenas no novo plano de estudo de Gestão. Por isso, criamos a Academia de Competências, onde se incluem vários clubes de estudantes, nomeadamente, o FEP First Connection, o FEP Finance Club, o EXUP, o Start Up Buzz e o Clube de Casos, que exponenciam esse objetivo. Com esta inovação e aposta, os alunos da FEP têm tido muitas oportunidades. Os nossos alunos podem ter esta preparação, que não precisa necessariamente de ser curricular. Claramente tem sido nossa política valorizar e reconhecer as experiências e atividades extracurriculares que desenvolvem as soft skills nos estudantes.

Porque se tem adiado a introdução do ensino em inglês na nossa faculdade?

Devido a Bolonha, os nossos cursos foram reduzidos. Tivemos de fazer opções e optamos (e penso que muito bem) por manter disciplinas relacionadas com a Sociologia, o Direito ou a História, áreas com forte tradição na FEP e onde temos vários professores a fazer investigação, o que não é o caso do inglês, que consideramos um pré-requisito. Contudo, temos oferecido vários cursos livres de inglês para os estudantes que pretendem desenvolver essas competências que consideramos fundamentais. Até porque temos dois mestrados lecionados em inglês que são nucleares na oferta da FEP: o Master in Management e o Master in Finance. Gostaria, também, que na FEP, fosse ensinado o Mandarim e acho que será uma questão de tempo. Contudo, não podemos ir a todo o lado ao mesmo tempo…

Até que ponto a ICC (International Case Competition) Porto surge no momento certo e é o enorme passo na projeção internacional ambicionada pela FEP?

Nunca pensamos, em 2010, quando entramos para a direção da Faculdade, estar a organizar uma competição com esta projeção e com a qualidade das escolas que aderiram. Nós apostamos na Case Competition com uma ambição estruturada, através do FICT. Nos últimos anos, trabalhamos uma série de fatores referentes às competições internacionais e tivemos a felicidade de conseguir ganhar várias competições internacionais – o que só demonstra que os alunos da FEP são muito bons e os advisors também. A partir do momento em que tivemos uma série de vitórias, julgamos que este era o momento propício para a organização de um evento desta dimensão, que terá, sem qualquer dúvida, um impacto enorme em termos internacionais.

Todos os anos são eleitos os “talentos” da FEP, através da POOL de Talentos. Um dos prémios atribuídos aos vencedores é um mestrado totalmente gratuito. A verdade é que nenhum deles, este ano, usufrui desse prémio. Qual será a razão para este facto?

Não podemos avaliar essa situação num período de tempo tão reduzido. Há alguns estudantes que optam por deixar essa hipótese em standby. Já tivemos casos de alunos da Pool de Talentos que vão para o mercado de trabalho e que vêm fazer o mestrado um ou dois anos depois. Nós garantimos que a bolsa possa ser utilizada nos anos subsequentes. Posto isto, há alunos que acreditam que o melhor percurso para eles é, antes do mestrado, ganhar alguma experiência profissional e, como tal, só optam por fazê-lo posteriormente. Também é verdade que alguns dos nossos “talentos” têm ido para Escolas estrangeiras de grande reputação, o que também nos deixa orgulhosos.

Sabia que a visita do Dr. Filipe Meneses à FEP foi alvo de alguma polémica?

Imagino que sim, mas não faz sentido. Recebi o Dr. Filipe Meneses na FEP, a seu pedido, como receberia qualquer um dos candidatos à Presidência da C.M. do Porto que o tivesse solicitado. Aliás, fui também contactado pela equipa do Dr. Rui Moreira, mas já não foi possível conciliar as agendas dado que nessa altura estive ausente do país. Sobre isso deixe-me ainda dizer que fui contactado por várias candidaturas à Câmara Municipal do Porto para as apoiar, e achei que não o deveria fazer dado o cargo que exerço na Universidade do Porto.

O que o move e o comove?

Movem-me as pessoas e comovem-me as pessoas. Gosto de trabalhar com elas e em prol delas. E é esse facto que me entusiasma. Não se faz um projeto como este que desenvolvemos para a FEP para nos situarmos num ranking… Faz-se porque há pessoas, jovens, e há necessidade de os formar e desenvolver. São estes jovens que levarão em frente a história deste país… Julgo que o Homem é o centro de tudo e, portanto, é isso que me move e me comove.

Aproveitando a deixa, quem são as pessoas que mais o movem e o comovem?

Bem… Ídolos propriamente ditos não tenho. Contudo, várias pessoas constituem, para mim, um exemplo, com um testemunho de vida que acredito ser um referencial. Destaco Gandhi, Martin Luther King, Xanana Gusmão, Gorbachev ou Abraham Lincoln. E em Portugal tenho saudades dos políticos pós 25 de Abril. Admiro muito os exemplos de Sá Carneiro e Álvaro Cunhal e, obviamente, a ousadia dos descobridores portugueses do séc. XV, tais como Vasco da Gama.

O que, realmente, vale a pena na vida?

Viver a vida com entusiasmo, dar o melhor de nós e acreditar nas pessoas. Julgo que vale realmente a pena acreditar nas pessoas. Eu, pelo menos, tenho tido essa sorte e não me tenho desiludido.

Qual a sua maior qualidade e o seu maior defeito?

Permitam-me salientar duas qualidades que revejo em mim: a boa disposição e o entusiasmo. Quanto ao meu maior defeito destacaria o facto de ser demasiado frontal, o que por vezes pode sugerir sobranceria ou mesmo arrogância…