Opinião de Catarina Ribeiro
Artigo exclusivo do site, publicado em Maio de 2025
Vivemos um tempo marcado pela aceleração das mudanças, pela incerteza e pela complexidade. A transição entre modelos económicos, tecnológicos e sociais impõe às organizações e aos indivíduos a necessidade de repensar valores, estruturas e formas de atuar. Neste cenário, os modelos tradicionais de liderança, baseados na autoridade formal e em soluções técnicas, revelam-se frequentemente inadequados. Torna-se, por isso, necessário a emergência de um novo perfil: o líder adaptativo.
Durante grande parte do século XX, a liderança foi tida como um exercício de controlo e direção, onde o líder era visto como uma figura forte, visionária e detentora de todas as respostas. Este modelo assentava numa lógica linear que consistia em identificar um problema, apresentar uma solução e garantir a sua execução. Contudo, num contexto volátil, incerto e interdependente, os problemas são muitas vezes ambíguos e sem soluções imediatas. A liderança eficaz deixa de se centrar na posse de respostas e passa a exigir a formulação de boas perguntas. As estruturas hierárquicas rígidas enfrentam dificuldades em acompanhar transformações. Os líderes que recorrem a soluções do passado para resolver problemas contemporâneos tendem a perder eficácia e relevância.
Assim, o conceito de liderança adaptativa, desenvolvido por Ronald Heifetz, da Universidade de Harvard, propõe uma abordagem distinta. Em vez de se dar respostas técnicas a problemas bem definidos, este novo tipo de líder reconhece a complexidade dos desafios atuais e promove a participação ativa das pessoas afetadas no processo de mudança. Este tipo de liderança caracteriza-se por um conjunto de competências e disposições fundamentais: escuta ativa, valorização da diversidade de perspetivas, tolerância à ambiguidade, incentivo à experimentação e aprendizagem contínua, capacidade de mobilizar outros para enfrentar realidades desconfortáveis e disposição para assumir vulnerabilidade. Mais do que domínio técnico, este tipo de liderança adaptativa exige inteligência emocional, pensamento estruturado e sensibilidade social. Implica, portanto, coragem para se desafiar e humildade para reconhecer os próprios limites.
Contudo, a exigência constante de adaptação pode gerar instabilidade e sensação de insegurança. A ausência de respostas imediatas pode ser percecionada como falta de direção. A exposição emocional do líder, quando mal gerida, pode fragilizar a sua posição. Liderar, hoje, é sobretudo criar condições para que pessoas, equipas e organizações aprendam, se adaptem e evoluam. Como defende Heifetz, “liderança não é sobre ter autoridade; é sobre mobilizar as pessoas para fazerem face à realidade e prosperarem”.
Por vezes, o maior ato de liderança é ter coragem de não saber e mesmo assim continuar.
Natan Melo
2 de Maio
A nossa líder 🫶🏻