A Alemanha, conhecida como o motor económico da Europa, enfrenta em 2024 uma das crises mais desafiadoras da sua história recente. Uma combinação de recessão técnica, sérias dificuldades no setor industrial e a instabilidade política vivida têm mergulhado a maior economia europeia num cenário de absoluta incerteza quanto ao seu futuro.

Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Alemanha será a única economia dentro do G7 em processo de contração. A economia alemã caminha para o final de 2024 em recessão, segundo apontam relatórios do “Jornal Económico”. A queda do PIB, já iniciada em 2023, manteve-se para este ano, fruto de uma alta inflação juntamente com o aumento das taxas de juro e uma desaceleração a nível global.  No ano de 2023, o PIB já havia caído 0,3 pontos percentuais e o governo prevê que este ano caia 0,2%. Já a taxa de inflação, que em 2023 se situava nos 5,9%, deverá diminuir para os 2,2%. Todo este conjunto de variáveis têm reduzido o consumo interno e dificultado investimentos, enquanto a dependência de exportações aprofunda a crise.  A guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, ainda produz efeitos negativos nas economias europeias, devido ao fim da importação de energia barata vinda da Rússia, o que afeta principalmente o setor industrial. 

As dificuldades que a Alemanha enfrenta assustam a Europa, não apenas pelos impactos económicos diretos, mas também pelo facto de o modelo económico atual estar a enfrentar um esgotamento. É evidente a necessidade urgente de modernizar o setor industrial e acelerar uma possível transição energética, mas os progressos até à data têm sido extremamente lentos. 

A crise é particularmente visível na indústria automóvel, que é um setor vital na economia da Alemanha. A gigante “Volkswagen” enfrenta uma queda acentuada nos lucros o que pode levar ao encerramento de fábricas no país pela primeira vez em 87 anos e assim reduzir milhares de postos de trabalho e intensificar a crise vivida. Problemas na adaptação às novas exigências ambientais e tecnológicas agravam a perda de competitividade para os veículos elétricos e afetam de forma direta toda a empresa. A dependência excessiva de setores tradicionais, como o automóvel, expôs a economia alemã às mudanças globais. Essa rigidez, juntamente com o aumento dos custos de produção, gerou uma pressão que a Alemanha tem dificuldade em suportar.

Aliada a esta crise económica está a recente crise política. O chanceler Olaf Scholz perdeu um voto de confiança, ocorrendo assim a dissolução do Bundestag (Parlamento Alemão) e a convocação de eleições antecipadas para o próximo mês de fevereiro. O término da coligação de três partidos, histórica por ser a primeira pós-guerra da Alemanha, decorre durante condições económicas delicadas e disputas internas sobre políticas fiscais e orçamentais. 

O impacto da situação alemã é sentido em toda a União Europeia. A Alemanha é responsável por cerca de 24,2% do PIB da União Económica e Monetária (UEM), sendo por isso peça fundamental para a estabilidade económica da região. A “Visão” alerta que esta recessão pode arrastar outros países europeus para um cenário de estagnação e ampliar vulnerabilidades do nosso mercado comum europeu. 

Embora analistas minimizem o risco de uma crise financeira generalizada, os sinais de fragilidade da maior economia europeia levantam questões sobre o futuro, sobretudo num contexto de desaceleração global e tensões geopolíticas que se fazem sentir atualmente. 

Toda esta crise que assola a Alemanha expõe a necessidade urgente de reformas estruturais bastante profundas. A aposta em setores inovadores, como a digitalização e as tecnologias verdes mostram-se fundamentais para revitalizar a economia. Além disso, mais do que nunca é preciso fortalecer as alianças europeias e investir em infraestruturas e capital humano para superar esta recessão. 

Atualmente, o que está em jogo é muito mais do que a recuperação alemã. A forma como o país lida com este momento difícil será decisiva não apenas internamente, mas também para a estabilidade e crescimento da União Europeia como um todo.