Opinião de Maria Carvalho
Também incluído no FEPIANO 56, publicado em Abril de 2025
Ao contrário do que se possa pensar à primeira vista, o setor da inovação é aquele que precisa mais do ser humano. A mente humana cria, a tecnologia executa.
A criatividade oferece a visão e a inovação transforma essa visão em realidade. A criatividade é a característica que permite criar soluções para os problemas da sociedade, sejam eles mais simples ou mais complexos. Já a inovação pode ser vista como a implementação de uma mudança que gera impacto, seja num mercado, numa comunidade ou numa indústria. Este processo pode envolver novas tecnologias, novos métodos de trabalho, ou até mesmo novas formas de interpretar uma mesma temática, o que exige um espírito crítico e um pensamento criativo tão apurados que só o ser humano consegue oferecer. Apesar deste reconhecimento, a característica que nos diferencia das máquinas muitas vezes não é valorizada nem estimulada nos contextos familiar e educacional, consistindo numa ameaça à resolução de problemas presentes e futuros.
A nível educacional, os estudantes portugueses, em muitas escolas, não são estimulados a colocar perguntas e encontrarem as suas respostas por si mesmos. Retém-se informação a curto prazo, muitas vezes decorada e não entendida, estando mergulhados numa espécie de piloto automático. A criação de projetos com impacto não é valorizada, o pensamento crítico e criativo ocupa menos espaço no dia a dia, levando a que as crianças e jovens se acostumem à realidade, não aspirando mudança ou evolução. Pensar diferente é visto como uma tarefa demasiado complexa quando na realidade é o simples ato de olhar para o que a vasta maioria das pessoas estão a fazer e pensar de maneira oposta. Muitas vezes, não é necessário pensar fora da caixa, mas sim pensar a caixa de maneira diferente. A inovação não se resume a criar uma ideia mirabolante e totalmente nova, mas sim na junção de várias perspetivas simples com vista em criar uma solução completa para um problema existente. O processo criativo pode ser desconcertante e exigir tempo, mas a recompensa surge sobre a forma de novos pontos de vista que podem transformar a realidade e as gerações futuras. A criatividade e a capacidade crítica são competências que se treinam e aprimoram ao longo do tempo. Sendo as crianças e jovens as futuras gerações de líderes e change-makers, a escola e as famílias assumem um papel fulcral em garantir que este treino é feito e que, portanto, a atual juventude fique dotada de competências para saberem como formular uma ideia para resolver problemas do futuro.
“não é necessário pensar fora da caixa, mas sim pensar a caixa de maneira diferente”
No que toca ao mundo empresarial, quando pretendem desenvolver novos processos, produtos ou engendrar campanhas de marketing as empresas não procuram máquinas, mas sim pessoas, devido ao valor que só o ser humano consegue acrescentar. Não se conformar, não aceitar o típico e questionar conceitos são competências cruciais e determinantes para que, com a ajuda das tecnologias, seja possível melhorar a eficiência de processos e a criação de produtos que tragam vantagens competitivas às empresas e dinamismo aos mercados.
Assim, a combinação daquilo que o ser humano pode oferecer de único com o aumento de eficiência e informação disponível que as inovações tecnológicas proporcionam assume-se como a receita perfeita para a evolução da sociedade. A criatividade e a inovação são duas visões complementares que combinadas impulsionam o desenvolvimento humano e social do mundo.
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