O conflito militar na Ucrânia veio adensar de forma preocupante a dependência energética a que muitos países, inclusive Portugal, estão sujeitos, bem como a necessidade de os países disporem de alternativas que lhes permitam minimizar essa dependência que tem consequências nefastas para as economias dos países europeus.
O escalar dos preços com impactos fortíssimos na atividade económica de muitas empresas à escala internacional fez acentuar a necessidade dos países europeus encontrarem respostas e concertarem estratégias no sentido de diversificarem as suas fontes de energia, respondendo, assim, àquilo que são as necessidades crescentes das economias europeias, tão dependentes dos combustíveis fósseis, do gás e do petróleo.
Aliás, os últimos meses têm sido exemplo dessa mesma dependência, visível na constante oscilação do preço do petróleo com impactos brutais naquilo que é a atividade económica do tecido empresarial e até mesmo na vida dos cidadãos.
A nível do Conselho Europeu têm sido inúmeras as vozes que defendem uma diversificação das fontes de energia, nomeadamente, uma maior aposta no hidrogénio e em energias renováveis, em contraste com o que tem sido a dependência do gás, petróleo e carvão, provenientes da Rússia.
Os membros deste Conselho defendem rigorosamente a necessidade de “acelerar a redução da dependência global dos combustíveis fósseis”, incrementar a diversificação das fontes energéticas, do desenvolvimento do biogás, assim como criar um mercado do hidrogénio para a Europa.
Alguns dirigentes da instituição europeia assumem ainda a necessidade de fomentar as energias renováveis, “melhorar a interligação das redes europeias de gás e eletricidade” e melhorar a eficiência energética.
Dentro da Comissão Europeia existem algumas posições que defendem que a União Europeia deve garantir níveis suficientes de “armazenamento de gás e lançar operações de reabastecimento coordenadas”, “monitorizar e otimizar o funcionamento do mercado da eletricidade”, “canalizar os investimentos coordenados em sistemas energéticos, incluindo a disponibilização de infraestruturas de GNL” e “reforçar a conectividade com a vizinhança imediata”.
Recorde-se que a Agência Internacional de Energia (AIE) já elaborou um plano para ajudar a União Europeia (UE) a minimizar a sua dependência energética face a países como a Rússia, com consequências para as suas economias e para as suas empresas, defendendo mesmo a não negociação de novos contratos com o Kremlin de Vladimir Putin que perpetuem essa mesma dependência energética. Ao invés disso, o plano defende o fomento numa maior aposta em outras alternativas, como foi referido atrás. Por outras palavras, urge diversificar as fontes de energia e minimizar o peso que o mercado russo tem nos mercados de energia europeus.
Uma das conclusões que é apontada no relatório da AEI prende-se com a necessidade de os países europeus estabelecerem mínimos de armazenamento de gás e colocarem em prática uma maior aposta na energia eólica e na energia solar. Se porventura se executarem medidas que incitem a eficiência energética e a descarbonização de edifícios, tal permitirá reduzir por estas vias o consumo de gás e atingir, em simultâneo, os referidos níveis mínimos de armazenamento acima enunciados. O documento aponta, também, no sentido de se implementarem medidas fiscais que têm por objetivo proteger os cidadãos mais vulneráveis e as famílias socialmente mais fragilizadas.
Esta dependência energética de países como a Rússia está a fazer com que muitas empresas estejam a repercutir estes aumentos nos seus produtos, com um aumento significativo no preço dos mesmos, sendo tal já visível em inúmeros bens de primeira necessidade e até noutros.
Diversos analistas corroboram a opinião de que a Europa tem de fazer mais em matéria de dependência energética, deixando de estar dependente da boa vontade dos Estados Unidos da América, da estabilidade das relações com a Rússia ou da eventual construção de um gasoduto conhecido por Nord Stream 2.
A solução para estes analistas passa por estreitar estratégias e negociar contratos com os principais produtores mundiais de gás natural, continuar a incrementar o armazenamento de gás, ou apostar no hidrogénio verde.
Para além do aumento dos preços em bens de primeira necessidade, esta dependência tem sido muito repercutida nos preços dos combustíveis e da eletricidade. No passado mês de abril, vieram a confirmar-se as previsões elaboradas no mês de março, no que diz respeito a um aumento da fatura da eletricidade aproximadamente na ordem dos 3% no mercado regulado. Note-se que no início do referido mês de abril a inflação portuguesa atingiu o valor mais alto dos últimos 28 anos, um valor na casa dos 5,3%. Mas não só, outros países da zona euro, como por exemplo a Alemanha, registam valores anormais da taxa que reflete uma subida generalizada e sustentada do nível médio de preços, mais concretamente 7,3%. Face a isto, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), já revelou que deverá tornar-se inevitável uma subida das taxas de juro.
Em contrassenso com todas estas adversidades, ou melhor, como forma de minimizar e suavizar todos os já referidos efeitos nefastos associados a este tema, para muitos ambientalistas, esta dependência é também uma oportunidade para que países como Portugal e outros na União Europeia possam rapidamente executar ou elaborar os seus planos de transição energética.
Portugal é conhecido pelas potencialidades do território português em termos de energia solar, eólica, hídrica e geotérmica. Para alguns especialistas é impreterível investir mais em áreas como a dos transportes, onde se verifica “um atraso significativo em termos de eletrificação”, de forma a que situações como a atual dependência não sejam reproduzidas no futuro.
Desta forma, a transição energética continua a ser o grande desafio para muitos atores e agentes políticos, bem como para as próximas gerações. É certamente uma batalha que só poderá ser vencida com resiliência e com o conhecimento associado à ciência.
Comentários