Escrevo acerca da democracia, sabendo que o 25 de abril se aproxima…

Na verdade, sinto o dever de o fazer, a par com uma urgência de poder, em palavras, controlar a apreensão que me vem assolando recentemente. Este sentimento que acredito ser comum a qualquer cidadão português cujo futuro dependa das eleições de 18 de maio.

Pode-se questionar se estas novas eleições legislativas seriam ou não necessárias. Se Luis Montenegro não teria feito melhor se se tivesse demitido ao invés de apresentar uma moção de confiança que, à partida, já se sabia chumbada pela AR mesmo antes de ser votada. Ou se não teria evitado a queda do seu governo se tivesse sido solícito na resposta às perguntas da comunicação social quando rebentou o caso da Spinumviva. Por outro lado, Pedro Nuno Santos não teria agido de melhor fé com os interesses do país se tivesse votado em favor da estabilidade política que tanto tem faltado ao povo português nos últimos anos? E o papel do Ministério Público terá sido conveniente?

Há, portanto, ainda muita poeira a circular pelos corredores de São Bento, mas, como se costuma dizer, agora não adianta chorar pelo leite derramado. O país precisa de ser governado e os portugueses estão cansados de casos e “casinhos” a aparecer diariamente nos noticiários. E é por esse mesmo crescente desinteresse por nova informação de cariz escandaloso, que está a acontecer uma normalização de notícias negativas sobre os políticos portugueses, ao passo que a sua descredibilização aos olhos do povo tem vindo a aumentar sucessivamente. Contudo, é importante assinalar que toda esta “caça às bruxas” se transformou num verdadeiro circo mediático pela falta de discrição do Ministério Público. A sua conivência na vinda a público de denúncias anónimas e informações cuja veracidade ainda não estaria sequer confirmada, tem feito refletir acerca da (aparente falta de) seriedade das instituições que regem a justiça em Portugal e sobre possíveis ligações ou interesses partidários que possam estar a fazer movimentar toda esta ânsia do MP em encontrar culpados.

Pois bem, hoje festejamos um dia que marcou o início da construção de um regime democrático em Portugal, mas a sensação é a de que a palavra democracia, de tão banalizada que está no nosso vocabulário – é proferida em debates televisivos, discursos partidários e tanto mais com uma leveza tão grande – parece quase um acontecimento probabilístico certo. Contudo, para mim, já não faz falta dizer que se agirá e que se lutará sempre a favor e em nome da democracia se, ao fim de contas, o que parece interessar no final é levar avante os próprios interesses, disfarçados e tratados de “interesses coletivos”. É necessário haver, por vezes, fairplay na política, e digo isto, não no sentido de que não deva haver escrutínio nem oposição firme de ideias e debate permanente, mas que se deva zelar acima de todo e qualquer interesse partidário, pela democracia. Essa que muito facilmente se desvanece… basta o povo desacreditar da sua eficácia na proteção dos seus interesses. E a História até agora nunca falhou em demonstrá-lo!

Por fim, termino pedindo desculpa pelo meu aparente pessimismo em relação ao futuro dos valores democráticos em Portugal e da força que terão no futuro. A verdade é que, ainda assim, sinto confiança de que esta nuvem que paira sobre a política nacional possa não causar tão graves danos se as vozes democráticas, à esquerda e à direita, se unirem para combater uma quiçá conspiração a favor dos extremismos.