A FEP apresenta uma forte tradição no debate universitário, olhando para os últimos três anos. Qual a relevância da formação da nossa faculdade na arte de debater? Ou melhor, atribuis, em parte, responsabilidade ao ensino com que a FEP nos presenteia?

Creio que a formação em economia facilita e incentiva à participação no debate. Fornece-nos um método, o qual não sendo o único nem necessariamente o melhor, revela-se útil na avaliação de cenários mutuamente exclusivos e tomada de decisão – a análise custo benefício. E, no debate, dois cenários opõem-se por definição. Adicionalmente somos incentivados desde cedo a acompanhar eventos políticos, económicos e sociais pelo que tendemos a apresentar uma melhor compreensão da interdependência destes domínios e das implicações de uma ocorrência num deles nos demais.

Recentemente conquistaste, juntamente com o João Azevedo, o primeiro lugar na principal prova de debate universitário e, além disso, foste considerado o melhor debater do torneio. Qual o teu percurso no mundo dos debates e quais os esforços que fazes todos os dias para te colocares a um nível tão alto?

Eu debati pela primeira vez no meu primeiro ano de faculdade, há 2 anos atrás. Desde então tenho debatido nas várias faculdades da universidade do Porto, nos debates organizados pela SdUP. Esta participação é crucial a 2 níveis: em primeiro lugar porque me permite perceber aquilo que está a funcionar e aquilo que não é eficaz. Dado o curto espaçamento entre debates, estas correcções estão ainda muito presentes no debate seguinte. Em segundo lugar debater tantas vezes permite-me pensar em assuntos novos (para mim) e força-me a assumir perspectivas que, por não serem de acordo com os meus valores e crenças, doutra forma nunca assumiria e sobre as quais não reflectiria.

Creio ainda que a minha participação em vários campeonatos internacionais no estrangeiro, nomedamente o campeonato europeu de debates e campeonato mundial com diferentes parceiros de debate, me deu a conhecer outras formas de pensar e me mostrou o nível da fasquia internacional à qual aspirar.

Que pontos consideras mais marcantes na diferença entre o Ângelo antes de ingressar no mundo dos debates e o atual? Quais os benefícios do espírito e esforço do debate para a tua formação?

A nível das diferenças e benefícios enfatizaria dois tipos de mudança: a de valores pessoais e da estrutura de pensamento. Em relação à primeira, a qual decorre directamente do meu envolvimento em debates, eu acredito que me tornei uma pessoa muito mais tolerante, disponível para ouvir os demais e menos certa da verdade ou bem inequivocável de determinadas posições.

Quando somos forçados a defender posições às quais nos opomos, e dado o espírito competitivo, fazemos da melhor forma possível, chegamos inevitavelmente à conclusão de que há posições antagónicas à nossa as quais são defensáveis e razoáveis. Passamos inevitavelmente por vários debates em que oradores brilhantes nos fazem questionar as certezas com que partimos através de exposições lógicas, e eu creio que isto é positivo, no mínimo pelo facto de que temos mais informação com a qual tomarmos uma posição.

Em relação à segunda, o debate força-nos a ser mais estruturados e a ser excelentes na hierarquização de prioridades. Temos 7 minutos para convencer um ouvinte de conhecimentos medianos dos méritos ou deméritos de uma posição e da sua alternativa. Esta limitação faz com que a comunicação tenha que ser o mais eficaz e eficiente possível. E tal leva-nos inevitavelmente à procura pela estruturação clara das nossas ideias, para que o raciocínio lógico por detrás de um argumento seja acompanhado por quem nos ouve, porque a sua aceitação como válido ou verdadeiro disso depende.

Posso ilustrar a importância da hierarquização, dada a restrição temporal, com um exemplo: se eu provar que um determinado acontecimento não pode plausivelmente acontecer não necessito de explicar porque razão o seu acontecimento é mau e deveria ser impedido. Estas duas aprendizagens são perfeitamente utilizáveis em vários contextos, profissionais ou académicos, por exemplo na abordagem de perguntas de resposta aberta num teste.

Consideras o debate competitivo pertinente na formação de qualquer estudante e, em particular, do estudante fepiano. Porquê?

O debate é muito importante para a formação de qualquer cidadão, seja um estudante ou não. As suas aplicações são várias, sendo as mais óbvias a nível profissional (soft skills e persuasão) e académico (argumentação), mas eu gostaria de frisar as mais esquecidas. Para um indivíduo estar verdadeiramente integrado numa sociedade, este tem que ter um conhecimento básico de como esta opera e das implicações da tomada de decisão colectiva e individual. E é isto que nós aprendemos quando debatemos: quais as implicações das nossas decisões para nós e para os outros. E isto não pode ser reduzido à economia, à política ou a qualquer ramo de conhecimento específico.

É óbvio que não se espera que todo o cidadão saiba qual deva ser solução adoptada no conflito israelo-palestiano, ou sobre o papel da igreja no financiamento de candidatos nos EUA, por exemplo. O que se espera sim, é que se confrontados com estas problemáticas os indivíduos não só consigam reflectir de uma forma produtiva sobre elas mas que sejam capaz de aceitar a existência de conclusões diferentes das suas. É isto que o debate oferece. O contexto competitivo tem como vantagem acrescida a possibilidade de conheceres pessoas de todo o mundo e o de obteres reconhecimento dentro da comunidade do debate e das empresas que activamente recrutam neste meio.