Rui Pedro Graça
Também incluído no FEPIANO 41, publicado em Maio de 2020
Atualmente assistimos, um pouco por toda a Europa, a um aumento de número de votantes em partidos mais radicais, nomeadamente em partidos de extrema-direita.
“Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”. As palavras de George Santayana nunca estiveram tão certas. Passados quase 75 anos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, deparamo-nos com uma Europa que novamente se deixa enfeitiçar pelo discurso demagogo da extrema-direita. Nas eleições federais alemãs de 2017, o partido “Alternativa para a Alemanha” entra no Bundestag e imediatamente se torna a terceira maior força política a nível nacional. As eleições europeias e estatais de 2019 apenas serviram para comprovar a ascensão deste partido, conquistando 11 deputados no parlamento Europeu e estabelecendo-se como o segundo maior partido em 3 estados.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os partidos de extrema-direita foram marginalizados e os seus princípios desacreditados devido à derrota das forças do Eixo. Assim, nos anos após o conflito, o seu principal objetivo prendeu-se com a sobrevivência e adaptação às circunstâncias. Atualmente, estes partidos são caracterizados pelo populismo, pela exaltação dos valores e símbolos nacionais, por uma profunda desconfiança pelo estabelecimento político numa mentalidade de “nós-contra-eles”, por um discurso anti-imigração e por uma clara rejeição às diretrizes de toda e qualquer instituição transnacional.
Tendo em conta a história alemã, como é que foi possível este ressurgimento da direita radical? A resposta prende-se em grande parte com a crise migratória iniciada em 2015. Nesse mesmo ano, a Chanceler Angela Merkel defendeu uma política “fronteiras abertas”. Tal culminou na Alemanha aceitar mais de 1 milhão de refugiados provenientes de sua grande maioria de países islâmicos. Esta situação resultou numa considerável fricção com a população alemã, juntando a isto a ocorrência de ataques terroristas originados por grupos fundamentalistas apenas serviu para inflamar a base de apoio de um partido que se identifica cada vez mais com a Frente Nacional de Marine Le Pen.
No resto do Velho Mundo, a situação não é muito diferente. Em Espanha, os nacionalistas do VOX são a terceira maior força política do país. Em Itália, a frágil coligação entre os sociais-democratas do Partido Democrático e o partido antissistema Movimento 5 Estrelas são a única barreira que impede a conquista do poder por parte de Matteo Salvini.
As principais razões para este “shift” na política europeia prendem-se com o constante defraudar de expectativas do eleitorado, assim como uma lentidão na implementação de reformas. Os partidos “moderados” são considerados incapazes de enfrentar os desafios do século XXI, como o aumento da iniquidade, os movimentos migratórios e a perda de poder dos Estados-Nação para organismos supranacionais.
O destino da Europa será ditado nos subsequentes anos. Seremos capazes de reformar e defender a União Europeia? Ou repetiremos a história dos anos 30 do século XX?
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