A população universitária é um grupo vulnerável ao desenvolvimento de psicopatologias. Assim, neste artigo, será analisada a saúde mental destes estudantes, em Portugal, salientando serviços para aqueles que procuram apoio.
Vários são os estudos que evidenciam uma incidência cada vez maior de psicopatologias entre os estudantes universitários, de tal modo que podemos afirmar a existência de um sério problema no que toca à saúde mental deste grupo específico.
Em 2023, a Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP), realizou um inquérito sobre a saúde mental da população universitária. Os resultados mostraram que, para além de um claro declínio da saúde mental, cerca de 48% da amostra apresentava sintomatologia grave e 8% sintomatologia moderada. Um outro estudo da Universidade de Évora realçou ainda que 75.6% dos estudantes apresentam sintomas de ansiedade.
“Outro estudo da Universidade de Évora realçou ainda que 75.6% dos estudantes apresentam sintomas de ansiedade”
De acordo com a literatura, as perturbações que têm maior incidência nos universitários são as perturbações de ansiedade e de humor.
Dentro das perturbações de ansiedade, os tipos mais frequentes são a Ansiedade Generalizada e os que resultam de contextos académicos de alto rendimento e competitividade, como é o caso da Ansiedade de Desempenho e que consiste num medo acentuado e persistente em situações nas quais o sujeito se sente exposto e/ou avaliado. Relativamente às perturbações do humor, a mais comum é a Perturbação Depressiva Major, conhecida comumente como depressão.
A ansiedade consiste numa reação normal, um alarme perante situações adversas e desconhecidas que podem representar perigo e, consequentemente, das quais nos devemos proteger. A um nível saudável, irá induzir ação, mas, quando numa intensidade desajustada, é paralisante e torna-se patológica. Este estado está frequentemente associado a sentimentos de tensão, preocupação e insegurança, acompanhados por várias alterações fisiológicas, como tremores, batimento cardíaco acelerado, falta de ar, sensação de aperto no peito, dor de barriga e tensão muscular. Além disso, podem surgir alterações comportamentais como insónias, alterações do apetite, irritabilidade e baixa concentração, acompanhadas de crenças e pensamentos negativos, associados a preocupações geralmente irrealistas .
Já os sintomas mais comuns da depressão incluem humor deprimido, perda de interesse ou prazer, níveis reduzidos de energia, dificuldades de concentração, pessimismo, alterações do apetite, baixa autoestima, sentimentos de culpa e pensamentos suicidas.
Estas psicopatologias resultam em problemas de concentração, incapacidade para lidar com situações stressantes, falta de motivação, défices nas funções executivas (planeamento, organização e tomada de decisão), podendo levar ao isolamento social ou abandono escolar. Estas consequências têm um forte impacto não só no desempenho académico, mas também na qualidade das relações interpessoais.
A presença de fatores de risco (ambientais, biológicos, genéticos ou sociais) favorece o desenvolvimento de doenças mentais. Entre estes estão a privação de sono, pertença a um nível socioeconómico inferior (conferindo, consequentemente, menor conforto, segurança e acesso a cuidados de saúde mental a alguns estudantes quando comparados com outros colegas); ser do género feminino; falta de apoio social; eventos de vida stressantes; ausência de estratégias de coping adaptativas; insatisfação com o curso escolhido; preocupações associadas ao mercado de trabalho; uso excessivo de substâncias ilícitas; transição do ensino secundário para o ensino superior; ser estudante deslocado; desempenhar inúmeros papéis em simultâneo, por exemplo, ser trabalhador-estudante ou ser progenitor e estudante.
Contudo, é igualmente relevante salientar a existência de fatores, quer pessoais, quer de contexto, que permitem reforçar a resistência e resiliência face a fatores de risco. Exemplos desses fatores consistem em elevados níveis de autoeficácia, uma sólida rede de apoio social, hábitos alimentares e de sono saudáveis e a prática de exercício físico regular.
Reconhecer e compreender tanto os fatores de risco, como os de proteção é de extrema importância, pois permite guiar a intervenção, mitigar o impacto negativo dos primeiros e potenciar o efeito dos segundos, promovendo a saúde mental e um desenvolvimento saudável.
Apesar da alta prevalência de problemas do foro psicológico entre os estudantes, apenas uma pequena percentagem dos estudantes procura ajuda psicológica ou adere a consultas de Psicologia. Isto pode ser atribuído à falta de recursos financeiros, estigmas e medo de discriminação, falta de consciência quanto à importância e necessidade do tratamento, negação da gravidade do problema e desconhecimento dos serviços de saúde mental disponíveis.
Considerando a dificuldade em aceder a serviços de apoio psicológico via SNS e o custo dos serviços oferecidos por instituições de saúde privadas, a U.Porto disponibiliza serviços deste cariz. A Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) disponibiliza consultas de Psicologia abertas à comunidade em geral, apresentando consultas de diversas especialidades, a preços bastante acessíveis e com um tempo de espera razoável. Além disto, foi recentemente criada a Psic.On, uma plataforma gratuita de apoio psicológico online que inclui consultas psicológicas individuais, apoio ao teletrabalho, consultoria especializada a pais de bebés e de crianças pequenas e participação em grupos de apoio.
Por fim, todos os estudantes da U.Porto têm ainda à sua disposição um leque amplo de serviços de saúde que podem usufruir de forma gratuita (à exceção de algumas especialidades) mediante marcação prévia. Para isso basta fazer a inscrição pelos Serviços de Ação Social da Universidade do Porto (SASUP) na especialidade desejada, sendo que a especialidade de psicologia é gratuita.
Por fim, é crucial salientar a importância de estar atento a sintomas como os que foram sendo descritos ao longo do artigo, pois poderão indicar a necessidade de recorrer a apoio psicológico profissional. Devemos ter sempre em mente que a saúde mental é um pilar fundamental para uma vida plena e saudável, e que a sua preservação deve ser uma prioridade.
Referências
Silveira, Celeste; Norton, Andreia; Brandão, Isabel; Roma–Torres, António. Saúde mental em estudantes universitários, Experiência da Consulta de Psiquiatria do Centro Hospitalar São João. Acta Med Port.; 24(S2): 247-256, 2011.
ANEP; RYSE. Aplicação de Um Inventário de Saúde Mental à População Universitária em Portugal. 2013.
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