A Política Económica baseada em evidências científicas, como é o exemplo de outras áreas como a MBE, é crucial para a tomada de decisões mais eficazes e sustentáveis. Aplicar um modelo semelhante na Política Económica poderia mitigar os efeitos da cegueira ideológica, que conduz frequentemente à pobreza e à miséria.

A Medicina Baseada em Evidência (MBE), conceito introduzido em 1991 na McMasters University pelo Dr. Gordon Guyatt, é uma abordagem clínica que integra a melhor evidência científica disponível com a experiência clínica do profissional de saúde, e as preferências do utente, para assegurar que são tomadas as melhores decisões relativas aos cuidados individualizados de saúde. A MBE revolucionou a prática médica ao reforçar a utilização da melhor evidência científica disponível para orientar as decisões clínicas, promovendo uma abordagem mais sistemática e fundamentada na prática médica. Não só permitiu melhorar a qualidade do cuidado ao utente, mas também reduzir a variabilidade na prática clínica e promover decisões médicas mais informadas e baseadas em evidências sólidas. 

Infelizmente, as decisões tomadas pela Política Económica têm, por norma, uma base bastante distinta. Por um lado, é preciso levar em conta a complexidade e a variabilidade do comportamento humano, as limitações dos modelos económicos que não deixam de ser simplificações da realidade económica (muitas vezes baseados em suposições), a existência de informação incompleta ou imperfeita e o impacto de eventos inesperados como pandemias ou desastres naturais. Contudo, o gap existente entre a ciência e a prática da política económica é sobretudo acentuada pela interferência política. 

As forças políticas tomam frequentemente decisões de curto prazo que favorecem os seus eleitores ou grupos de interesse específicos, por exemplo, através de benefícios sociais ou subsídios a setores da economia – muito comum durante períodos eleitorais, mesmo que essas políticas não sejam sustentáveis a longo prazo. Existe, também, o lobbying e a pressão de grupos de interesse, como empresas, sindicatos ou até ONGs, que procuram influenciar decisões económicas em seu favor, que beneficiam uns poucos às custas do bem-estar económico comum. 

Existem ainda as preferências ideológicas, um dos principais fatores influenciadores na tomada de decisão da política económica. É a posição ideológica que maioritariamente define as políticas propostas, implementadas e defendidas por diferentes grupos políticos. Essas preferências refletem as crenças fundamentais, sim crenças, sobre como a economia deve ser gerida, o papel do governo e a melhor forma de promover o bem-estar económico. A cegueira ideológica conduz a más decisões económicas ao priorizar convicções e dogmas sobre análises racionais e evidências empíricas. Os partidos políticos apegam-se rigidamente a ideologias específicas e ignoram dados e sinais do mercado que contrariam as suas crenças – um obscurantismo que resulta em políticas ineficazes ou mesmo prejudiciais para a sociedade.

É o caso do marxismo que, quando aplicado, frequentemente resulta em consequências económicas desastrosas e sofrimento generalizado, como evidenciado pelos exemplos históricos de países que adotaram as políticas marxistas. Países como China, Cuba, União Soviética e Coreia do Norte construíram economias planeadas, caracterizadas pela ineficiência massiva, escassez de bens, repressão política, fome e miséria generalizada. A falha deste tipo de economias está amplamente documentada por economistas e historiadores, mas continua a ser frequentemente sustentada e tolerada por uma cegueira ideológica que ignora as evidências empíricas dos seus fracassos históricos. Irei sempre defender a liberdade de opinião e política de todos os cidadãos, mas até que ponto podemos afirmar viver numa era da ciência e do progresso enquanto existem muitos interesses, que só por cegueira ideológica ignoram a evidência e defendem a miséria? Não faria sentido a Política Económica adotar um modelo semelhante ao MBE de forma a mitigar os efeitos da cegueira ideológica, e assim conduzir os países à prosperidade?

Tomemos como exemplo um país que tem estado na ordem do dia: a Argentina. No início do século XX tratava-se de uma das maiores economias do mundo mas um conjunto de políticas económicas destrutivas e perpetradas pela cegueira ideológica, a corrupção e a instabilidade política, conduziram a um declínio acentuado que resultou no sofrimento do seu povo.

A partir da década de 1940, durante a presidência de Juan Domingo Perón, a Argentina adotou políticas populistas que incluíam nacionalizações, controle de preços e subsídios desmesurados – embora estas políticas tenham aumentado o bem-estar de certos grupos sociais, no geral conduziram a distorções económicas, a deficits orçamentais e à hiperinflação. A economia argentina passou por várias crises ao longo de muitas décadas (por exemplo, a crise da dívida externa dos anos 80 e a crise cambial do início do século XXI), que resultaram num desemprego em massa e desvalorização da moeda – com a perda significativa de confiança, não só dos investidores como da população. Além disso, a falta de uma direção clara e de longo prazo (alternância entre políticas de austeridade e políticas de expansão, conforme os ares eleitorais), associada à corrupção e má gestão dos recursos públicos, prejudicou o investimento e a estabilidade económica.

O novo presidente eleito Javier Milei, famoso economista pelas suas visões liberais e libertárias, procura mudar o rumo económico da Argentina. Milei colocou em marcha uma redução do tamanho do Estado – argumentando que a presença maciça do Estado na economia é uma das principais causas da ineficiência e da corrupção –, dolarização da economia – procurando restaurar a confiança no sistema financeiro argentino e atrair investimento –, a liberalização económica – a liberalização do comércio, a desregulamentação dos mercados e a privatização de empresas estatais para promover a competitividade e a eficiência – e o combate à corrupção – de forma fortalecer as instituições e garantir a transparência e a responsabilidade no uso dos recursos públicos.

Contudo, a agenda de Javier Milei é controversa e enfrenta uma resistência significativa. Embora as suas propostas económicas tenham fundamentos e evidência económica bem estabelecida, muitas das críticas de que é alvo são injustas e baseadas em preconceitos ideológicos ou defesa de interesses estabelecidos, dos quais os meios de comunicação social (OCS) tradicionais não estão isentos – convido-vos a lerem e/ou ouvirem tudo o que foi dito sobre Javier Milei nos meses do período eleitoral e nas primeiras semanas de governação.

Além disso, irão com certeza encontrar com mais facilidade a notícia de que a Argentina entrou em recessão técnica no mês de março e, com muita mais dificuldade, a informação de que a Argentina: está a conseguir finalmente controlar a inflação; obteve um superavit nos três primeiros meses do ano; reduziu o tamanho do Estado argentino que asfixiava o próprio povo com despesas exageradas. A situação da Argentina continua frágil e delicada, mas tenho a certeza de que Javier Milei conseguirá conduzir o país a um rumo de prosperidade.

Embora a resistência continue a existir, os OCS tradicionais têm de se render às evidências, deixar os conflitos de interesse de lado e informar corretamente os seus leitores – se também eles pretendem manter o seu público, sendo este a sua fonte de receita.