Opinião de Ângela Coelho
Também incluído no FEPIANO 48, publicado em Fevereiro de 2023
Nos últimos meses, finalmente pudemos retomar grande parte das coisas que costumávamos fazer pré-pandemia e recentemente surgiu a oportunidade de ir ao Teatro Nacional S. João assistir a peça “talvez… Monsanto”.
Fui para esta peça sem saber o que me esperava e saí de lá encantada com o que tinha assistido.
Neste lugar tão magnífico, vi o espetáculo imersivo de Ricardo Pais composto por poemas de Ruy Belo, músicas e cantos tradicionais que agradaram a todos os presentes, quer fossem portugueses ou de outras nacionalidades.
As vozes extraordinárias de todos os artistas e sons dos instrumentos absorveram-me completamente para a peça e transportaram-me para um lugar onde nunca tinha estado.
A exibição iniciou-se com os artistas sentados formando uma meia-lua enquanto observavam a plateia e a tribuna que estavam quase cheias. De seguida, a peça começou com um canto que nos suga imediatamente e depois foi alternando entre poemas, cantos, fados e ocasionais partes instrumentais que quase nos puseram num estado de hipnose.
Durante a sessão, levam-nos para Monsanto, que detém o título de “Aldeia mais portuguesa de Portugal”, localizada numa encosta de grande derrapagem escarpada, através dos cantos das adufeiras e de imagens que vão sendo projetadas e, assim, dão-nos a conhecer esta aldeia encantadora que, apesar de histórica, continua a florescer.
Os poemas trouxeram muito significado para a peça e o último poema do espetáculo consegue sintetizar o resto da sessão. Esse poema foi “O Jogo do Chinquilho” de Ruy Belo e faz-nos refletir sobre a nossa vida, a infância e a morte, e dá-nos uma sensação de ansiedade para viver e ao mesmo tempo uma angústia e saudade ao pensar no que já vivemos. Ao longo da peça, chamava-se muitas vezes subtilmente à atenção para o arco que se encontrava pousado no chão do palco e este remeteu-me para a ideia da vida como um processo contínuo e interminável e a morte como parte dela.
O teatro é uma forma de arte que nos concede a oportunidade de ver uma perspetiva diferente da nossa e de testemunhar trajetórias de pessoas em situações que podem nunca vir a surgir nas nossas próprias vidas.
E, hoje em dia, graças às redes sociais, somos expostos a todo o tipo de culturas que acabam por nos influenciar e, por vezes, afastamo-nos um pouco a nossa. Por isso, recomendo a todos que puderem a assistirem a esta peça assombrosa e espetacular, pois senti que foi uma experiência tanto sonora como visual que me ajudou a reconectar com as minhas raízes.
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