Conduzida por Ana Mafalda Velho e Maria Gomes
Também incluída no FEPIANO 48, publicado em Fevereiro de 2023
José Manuel Janeira Varejão marca a sua presença na FEP desde 1980, desde aluno da licenciatura até diretor da mesma. Nestes 42 anos foi aluno de Economia e posteriormente professor auxiliar de Macroeconomia. Especializou-se na sua área predileta, a Economia do Trabalho.
Nesta entrevista, encontramos um equilíbrio de, por um lado, memórias de uma FEP passada, com uma análise da dos dias que correm e os seus upgrades, desde o aumento do cardápio de opções dos estudantes, tanto na licenciatura, como no mestrado e refletindo-se no doutoramento, até à internacionalização da instituição, e por outro lado, foi, também, possível uma análise da situação dos jovens portugueses, que envergam pelo mercado de trabalho, e uma análise dos impactos da COVID-19 na faculdade.
Como é que caracteriza o seu percurso académico? Quais foram as áreas que lhe despertaram mais interesse?
O meu percurso académico, enquanto docente, começou pela Macroeconomia. No entanto, foi a Economia do Trabalho que realmente despertou o meu interesse pelo seu potencial de aplicação da teoria económica ao esclarecimento de problemas reais com que se confrontam todas as organizações e que nos afetam a todos enquanto trabalhadores. Neste domínio, interessei-me e trabalhei sobre temas como a duração do trabalho, os custos de recrutamento e despedimento, as formas ‘atípicas’ de emprego, o salário mínimo ou a avaliação de políticas de emprego. Enquanto docente, lecionei várias disciplinas de microeconomia aplicada, afins da Economia do Trabalho, incluindo a Economia Pública e a Economia das Organizações. Os Museus e o Património Cultural são um tema de especial interesse pelos desafios teóricos e práticos que colocam à Economia e à Gestão e pela sua relevância sociocultural e económica.
Grande parte do seu percurso académico foi na FEP, desde a licenciatura até ao doutoramento. Que diferenças é que encontra “nessa FEP” para a atual.
Passaram já mais de 35 anos desde que concluí a licenciatura. Em 35 anos tudo mudou – o mundo, o país, o ensino superior e com eles as necessidades dos empregadores e as expectativas dos estudantes.
A FEP acompanhou e, frequentemente, antecipou estas mudanças. Devendo escolher, salientaria três diferenças principais.
A FEP diversificou a oferta de formação conferente de grau em Economia e em Gestão, disponibilizando hoje cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento nessas duas áreas e, ao nível do mestrado, cursos de ‘banda larga’ e cursos de especialização em subáreas específicas daquelas.
Houve, ainda, um desenvolvimento enorme ao nível da investigação pela qual a FEP contribui para a criação de conhecimento em Economia e em Gestão, a base em que assenta o ensino e a transferência de conhecimento para a comunidade.
Finalmente, a FEP internacionalizou-se, internacionalizando os seus cursos através do estabelecimento de protocolos de reconhecimento mútuo de diplomas com escolas de outros países, proporcionando experiência internacional aos seus estudantes (em casa e em mobilidade) e acolhendo um número muito expressivo de estudantes internacionais de grau e de mobilidade.
“A FEP diversificou a oferta de formação (…) disponibilizando cursos de ‘banda larga’ e cursos de especialização”
Atualmente, como é que caracteriza a posição da FEP a nível internacional e quais as perspetivas futuras para a faculdade?
A posição da faculdade a nível internacional está já bastante consolidada. Por um lado, a faculdade tem, há muito tempo, um corpo docente que, sendo maioritariamente nacional, fez grande parte da sua formação académica no exterior e/ou desenvolve atividade de investigação em conjunto com escolas e investigadores de outras escolas internacionais. Portanto, no domínio da investigação, tem uma atividade que é francamente internacional.
Por outro lado, na área do ensino, a progressão tem sido francamente positiva e neste momento já se vive na faculdade um ambiente internacional. Os alunos contactam com colegas de várias nacionalidades e, consoante os níveis de ensino em que estão, têm cada vez mais oportunidades de ter aulas com professores de outras nacionalidades. A faculdade tem muitos acordos de parceria com outras escolas, acordos de dupla titulação com escolas de referência e faz parte da rede internacional QTEM, uma rede que junta mais de 20 escolas de todo o mundo. Estes acordos permitem aos alunos da FEP estudar pelo menos um semestre noutro país e, assim, adquirir experiência internacional, mas também permitem à FEP receber no Porto centenas de estudantes das mais variadas origens.
O reconhecimento internacional reflete todos estes desenvolvimentos: a FEP é já conhecida e reconhecida internacionalmente, conforme o testemunha a acreditação internacional que obteve (em conjunto com a Porto Business School) e a sua presença em rankings reputados, de que o do Financial Times é, possivelmente, o mais conhecido. O caminho já percorrido é irreversível: a FEP será cada vez mais uma escola internacional, assim respondendo aos anseios de estudantes e empregadores e contribuindo para o desenvolvimento da cidade/região.
Do seu ponto de vista, em que medida pensa que a pandemia Covid-19 influenciou o ensino na FEP? O que mudou?
Em primeiro lugar, a pandemia recordou-nos que tudo pode mudar subitamente e que a capacidade de adaptação à mudança é fundamental. Foi, por isso, um teste a todas as organizações (e a todos nós, individualmente) que penso que a FEP ultrapassou com sucesso.
Mas, sobretudo, a pandemia, mais do que ter iniciado, acelerou um processo de transição digital que já estava em marcha. O ensino à distância e, com ele, a utilização das tecnologias de informação nos processos de ensino e aprendizagem, generalizou-se, vencendo, por força das circunstâncias, as resistências naturais pré-existentes.
Mas, a pandemia também nos ensinou a valorizar o ensino presencial e a importância das relações pessoais no próprio processo de aprendizagem. Com a pandemia aprendemos que as modalidades ‘presencial’ e ‘à distância’ são, do ponto de vista dos processos de ensino e aprendizagem, complementares e que os sistemas híbridos vieram para ficar. O desafio que temos é o de procurar o melhor equilíbrio entre o que podemos fazer à distância e o que devemos fazer presencialmente.
Desde 10 de abril de 2019, encontra-se no seu segundo mandato como diretor da FEP. Como caracteriza o seu percurso profissional até este momento?
Os meus dois mandatos como diretor da Faculdade de Economia estão necessariamente ligados. O segundo mandato, que agora termina, foi em parte dedicado a completar e, portanto, dar coerência a processos longos que vinham de trás, como o da atualização da oferta formativa, a reorganização interna da Faculdade e a realização de obras requalificação das suas instalações.
Simultaneamente, a FEP promoveu alterações na sua oferta curricular e co-curricular de modo a proporcionar aos seus estudantes uma formação integral. É, de facto, cada vez mais importante não apenas garantir, como a faculdade sempre garantiu, um ensino de qualidade, que é reconhecido por empregadores e antigos alunos, mas também que esse ensino inclui uma componente forte de desenvolvimento pessoal. A atualização dos cursos e das práticas de ensino passam necessariamente pelo envolvimento ativo de múltiplos parceiros, empregadores, organizações profissionais e antigos alunos, mas também de toda a comunidade académica. A FEP sempre se distinguiu pela sua vasta rede de parceiros empresariais e institucionais e pelo dinamismo dos seus grupos de estudantes. O trabalho que fizemos incluiu também o desenvolvimento e ativação dessas parcerias.
A conclusão do processo de acreditação internacional, em conjunto com a Porto Business School, é um marco importante do reconhecimento internacional da escola e do trabalho que nela se faz.
E para o futuro? Que expectativas tem?
Após o investimento que foi feito na requalificação dos seus recursos físicos e o início do processo de rejuvenescimento do corpo docente, a Faculdade pode agora concentrar-se no lançamento de novos projetos que, no domínio do ensino, respondam às expectativas em mudança de estudantes e empregadores e aos desafios colocados pelos múltiplos processos de transição, tecnológicos, ambientais e sociais.
A Faculdade tem um compromisso não apenas de formar talento para a economia, que é, aliás, a sua missão desde que foi fundada há setenta anos, mas também um compromisso de formar profissionais socialmente responsáveis e de ser, ela própria uma organização sustentável. Sempre atenta às novas realidades, estou certo de que a FEP continuará a produzir conhecimento e talento que colocará ao serviço da economia e da sociedade, como o vem fazendo desde a sua criação.
De que forma é que acha que marcou/ influenciou/ diferenciou a FEP?
Não colocaria a questão nesses termos. Tal como os diretores que me precederam, o que procurei fazer foi interpretar os valores que desde sempre distinguem a FEP – qualidade, rigor, impacto – à luz dos desafios, mas também dos constrangimentos, que hoje enfrentamos, sem esquecer que somos parte de uma Universidade pública e, por isso, temos responsabilidades acrescidas.
“A FEP é reconhecida internacionalmente, conforme o testemunha a acreditação internacional que obteve“
Dada a sua especialização acerca da Economia do Trabalho, como é que analisa a situação dos jovens portugueses, nos seus primeiros anos no mercado de trabalho.
Uma pergunta que, só por si, daria para uma entrevista!
Os jovens encontram-se, no mercado de trabalho, na mesma situação de todos os recém-chegados. Precisamente porque estão a chegar ao mercado, não têm a informação de que necessitam sobre oportunidades de emprego e suas características, incluindo remuneração, localização, horários, etc. Estão numa situação de investimento em aquisição de informação que, a prazo, mas não de imediato, resultará na identificação da melhor oferta que o mercado tem para lhe oferecer e, portanto, no estabelecimento de uma relação de trabalho mais estável e com melhor salário. A integração plena no mercado de trabalho não se faz de imediato e passa por mudanças de emprego e, eventualmente, por períodos de desemprego. O nosso objetivo coletivo deve ser procurar que essas mudanças se façam sempre no sentido de um melhor ajustamento às competências e expectativas de cada jovem e que os eventuais períodos de desemprego sejam o mais curtos possível. Para isso, é importante que os jovens, porque têm menos experiência profissional, possam sinalizar eficazmente junto dos empregadores potenciais, as suas reais capacidades, o que passa por ter construído um curriculum que combine formação académica e desenvolvimento pessoal que, em conjunto, sinalizem ao mercado que aquele jovem em concreto tem o que o mercado procura. A mensagem positiva é que o investimento em educação e em procura de informação compensa.
Como é que caracteriza a evolução do papel do gestor e do economista nos últimos 20 anos?
Alteraram-se, desde logo, as exigências que a economia e a sociedade colocam aos gestores e aos economistas, mas alteraram-se também as circunstâncias em que estes profissionais exercem a sua atividade. A economia globalizou-se e os economistas e gestores já não podem pensar apenas ao nível local ou regional. O gestor tem de ser cada vez mais capaz de ler os sinais que vêm de fora e de cada vez mais longe, antecipar a mudança, e liderar as suas organizações no sentido de responder positivamente a essa mudança. Mas tem também de ser capaz de compreender e incorporar na sua prática as expectativas da sociedade e assegurar que as suas organizações contribuem para as tornar realidade – tem, pois, de ser socialmente responsável.
É possível dar algumas palavras de motivação para os jovens que apostaram no ensino superior, com especial destaque para a FEP?
Os jovens que apostaram no ensino superior e, em particular, os que apostaram na FEP, sabem que fizeram uma boa escolha. Desde logo, porque o mercado de trabalho premeia o investimento em educação, sobretudo quando a formação obtida é de qualidade e a escola de origem reconhecida. Os estudantes da FEP sabem que escolheram uma escola que, desde a sua origem aposta no rigor e na qualidade da formação, que promove o seu desenvolvimento pessoal e que está atenta às novas exigências da profissão de economista e gestor.