Caracterizada pelo aumento da divergência entre atitudes políticas de diferentes extremos ideológicos, onde cada extremo questiona a legitimidade moral do outro, existindo pouca ou qualquer consensualidade entre os mesmos; este fenómeno ocorre quando estas divergências começam a ganhar palco nos governos, dentro de certos grupos e instituições ou na opinião pública. É um acontecimento que tem observado um crescimento preocupante nos últimos anos, mas que já tem um longo registo na história da conjuntura económica mundial. É de notar que no século passado, embora não fosse reconhecido como polarização política, este era um fenómeno bastante trivial, com muitos países a adotar regimes fascistas ou regimes comunistas, alguns destes com traços vincados de regimes ditatoriais. A Guerra Fria pode ser utilizada como um exemplo desta situação, uma vez que está diretamente relacionada com a polarização política, visto que propagou os extremos políticos em países como os Estados Unidos, com o capitalismo, e na URSS, com o comunismo, entre outros exemplos.

Recentemente este fenómeno expandiu-se a vários países, em muitos casos com líderes extremistas a governar. Como o podemos explicar? E como é que este conceito teórico está representado na conjuntura atual?

Falemos do populismo como um dos primeiros motivos. O populismo procura representar uma parte da população que se sente ignorada e desvalorizada, uma parte da população saturada dos regimes políticos conhecidos e que, por isso, estão mais vulneráveis a discursos mais extremistas onde sintam que fazem parte da mudança. No entanto, do ponto de vista da análise externa ao fator “populismo”, é esquecido que estes discursos, por serem considerados um grito de revolta, são geralmente construídos de forma a enviesar a opinião da população menos formada. Utilizam ferramentas de comunicação mal fundamentadas ou usam argumentos que não se aplicam ao quadro geral de uma nação, com tendência para a generalização e omissão dos dados factuais. 

A vontade de mudança, que, na maioria dos casos, cria uma aversão à política tradicional, unida ao ódio, que é criado e suportado pelo populismo, sustenta a nossa tese. Uma população cada vez mais polarizada, cada vez mais intolerante ao diálogo, seguindo os seus líderes de olhos fechados. É caso assumido os EUA, há muito tempo dividido em republicanos e democratas.

A segunda variável que quisemos introduzir neste contexto são os meios digitais, com um ênfase nas redes sociais. As redes sociais foram um agravante do assunto em causa, com algoritmos que selecionam dados pessoais e reproduzem fake news específicas para cada perfil, limitando a opinião crítica e reforçando estigmas. A regularidade com a qual estes estímulos são consumidos pela população proporciona aos leitores uma boa sensação de superioridade opinativa, negando qualquer divergência de pontos de vista em relação aos seus. Um caso prático deste efeito é, nomeadamente, o da Cambridge Analytica, uma empresa que efetuou uma recolha de dados pessoais de proporção astronómica e que, com estes, foi capaz de manipular os algoritmos digitais dos utilizadores das redes sociais para que as campanhas políticas favorecessem certos líderes.

Um terceiro e último fator que queremos referir é a cultura. Atualmente, a cultura é cada vez mais relevante como parte da discussão política, devido ao facto de haver um maior foco em questões que não são apenas políticas e económicas, mas também político-culturais, como, por exemplo: questões como a legalização do aborto ou o acolhimento de refugiados; assim, é um fator significativo, uma vez que as pessoas tendem a ouvir e replicar as opiniões de quem está inserido nas mesmas comunidades. Desta forma, observa-se frequentemente uma associação de celebridades, atividades, roupas, cores e até mesmo estilos musicais a ideologias políticas, ou seja, as pessoas tendem a escolher certos símbolos para representarem as suas causas. Embora pareça algo inofensivo, o problema é que muitas vezes os gostos pessoais acabam por se misturar com opinião política, mesmo que não haja um envolvimento direto com a política em si, paralelamente formam-se preconceitos com pessoas que se identificam com os símbolos e culturas do “grupo rival”.

A título de exemplo, na atualidade, podemos identificar alguns países onde esta polarização está mais vincada. Identificámos o Brasil devido às recentes eleições. Não descredibilizando os vários candidatos com um discurso moderado, eloquente e que apresentavam soluções concretas; a população, formatada para o regime político conhecido, ignorou essas opções devido ao medo da vitória de Jair Bolsonaro e de Lula da Silva. Introduzindo alguma parcialidade ao texto, ambos são 2 faces da mesma moeda. Factualmente provou-se que ambos estão envolvidos em escândalos de corrupção e que permitiram situações danosas para o Brasil. 

No seguimento da nossa tese, conseguimos identificar características populistas, tanto no Bolsonaro, com discurso e lemas que apelam à religião e força policial e militar; como no Lula (pertencente a um partido comunista), que sempre apelou apenas para certas faixas da população, não mostrou medidas concretas e com um discurso que se aproxima a certas ideologias (utilização do lema “cuidar do povo”). Aqueles que não se identificaram com nenhum dos 2 grandes candidatos tiveram a sua posição posta em causa, dado que os eleitores seguiram uma filosofia de “connosco ou contra nós”. Assim sendo, muitos eleitores optaram, e em certas situações até mesmo defenderam, o “menos pior”, em vez daquele que seria, verdadeiramente, o “melhor” candidato, no seu ponto de vista.

Por outro lado, e comparando com uma realidade que já nos é mais próxima, em Portugal também podemos verificar fenómenos associados aos da polarização; ainda que não seja assim tão evidente, devido à oposição de mais do que duas ideologias políticas. No entanto, em 2011, a bolha financeira rebentou, e com ela seguiu-se a crise. Posteriormente, com a presença da troika no nosso país, foram eleitos em 2015 os partidos da geringonça, um governo constituído por partidos de esquerda e extrema-esquerda. Com características de um país muito enviesado para a esquerda, foram surgindo sentimentos de revolta por parte da população do espectro político mais para a direita, o que permitiu a ascensão de partidos de extrema-direita (derivam de um único líder, habitualmente propagando um discurso de ódio), entre os quais o CHEGA. Seguindo-se novas ameaças da direita, estas foram transformadas em armas para o PS convencer mais de metade da população de que eram a única alternativa para fazer frente à extrema-direita.

Para podermos criar um ambiente político ascendente, são necessárias soluções mais justas e eficientes, tendo em conta o panorama social e económico do nosso país; é imperativo existir espaço para o diálogo saudável. Devemos ter sempre em consideração uma opinião crítica, mas aberta a novas perspetivas, onde ideologias que criámos se complementam e evoluem. Quem quer ter uma voz ativa na política, independentemente da sua inclinação partidária, tem um ideal em comum, uma sociedade próspera e o bem comum.