Óscar Afonso, atual diretor da Faculdade de Economia do Porto, assume já uma histórica relação com a instituição, onde primeiro se graduou nos vários ciclos de estudos – licenciatura, mestrado e doutoramento – e depois lecionou nesses mesmos ciclos, sempre na área da economia, até se tornar Professor Catedrático, fruto de um percurso notável recheado de artigos científicos e livros publicados.
Foi sócio-fundador do Observatório de Economia e Gestão de Fraude, onde assumiu, também, o cargo de Vicepresidente e Presidente. Foi ainda Presidente da Cooperativa Agrícola do Ribadouro.

Quais são os seus principais objetivos enquanto diretor da FEP?
O meu principal objetivo enquanto diretor é fazer com que a FEP cumpra a sua missão: ao nível do ensino, ter o melhor ensino possível – e eu acho que a FEP tem; na investigação, pretende-se que possa ainda melhorar; na transferência de conhecimentos para a sociedade, deseja-se que a FEP seja uma voz ainda mais ativa e possa contribuir de forma crescente para uma sociedade mais informada e mais justa. No cumprimento da sua missão, a FEP toca em muitos dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). De facto, sempre que nós cumprimos bem a missão da Faculdade nessas três áreas centrais – a que se junta uma quarta área fundamental, a inovação, que deve atravessar e ligar as outras três –, estamos a contribuir para muitos dos ODS. Além disso, a Sustentabilidade – nas vertentes social e ambiental, mais ligadas aos ODS, além da financeira, que é instrumental – é um vetor transversal do Plano Estratégico FEP 2030, que enforma toda a atividade.

De que forma é que o seu percurso educativo na FEP moldou a sua perspetiva sobre o desenvolvimento sustentável e como prevê a integração dos ODS na missão da faculdade?
Os ODS estão vertidos na missão da faculdade quando ela toca nas quatro áreas centrais da mesma: o ensino, a investigação, a transferência de conhecimento para a sociedade e a inovação que deve atravessar toda a atividade. Desde logo, toda a ação da FEP, onde os ODS são uma preocupação transversal, impacta diretamente na vida de um vasto conjunto de pessoas, com realce para os Estudantes – a maior razão de ser da Faculdade –, os professores, investigadores e demais colaboradores, mas também outros stakeholders importantes, como os Alumni, os parceiros da FEP (outras unidades da Universidade do Porto, como a PBS; empresas; associações, etc.) e até os fornecedores, só para referir os principais. Indiretamente, os impactos são ainda maiores, basta pensar no conhecimento transferido para os Estudantes e a Sociedade em geral nas várias atividades, que contribuem também para os ODS. Tendo em conta o objetivo da nossa missão, se nós fizermos o nosso trabalho bem feito, podemos contribuir, por exemplo, para erradicar a pobreza, garantir que há impacto social e, portanto, que há mais dignidade e que podemos contribuir, através do nosso trabalho, para uma maior igualdade.
Depois, acho que a FEP contribui para a prosperidade, ligada ao ensino e investigação na economia e gestão, mas salvaguardando a defesa de princípios inalienáveis de sustentabilidade social e ambiental.

Com efeito, sendo a FEP, para todos efeitos, uma escola, também forma pessoas, e ao formar pessoas, não apenas em economia e em gestão, também tem como objetivo formar pessoas cada vez melhores. Ou seja, a FEP deve contribuir para formar pessoas mais éticas, mais justas e menos corruptíveis, contribui assim para criar sociedades mais pacíficas, justas e inclusivas. Penso que é sobretudo por aí, mas a FEP contribui ainda de outras formas para tornar o planeta melhor, por exemplo ao estabelecer parcerias ou mesmo na escolha de fornecedores. Podemos ajudar, de facto, à prossecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, sendo certo que contribuímos mais para uns do que para outros, mas aquilo é tudo um corpo, é endógeno, pelo que, mexendo nuns lados, acabamos por beneficiar os demais.

“É através de um leque muito alargado de itens que se está a ver a preocupação da FEP com este assunto, que é muito relevante, e cada vez mais, porque o planeta é único, não temos outro, e, portanto, temos que o conservar.”

Como é que, até à data, a FEP tem contribuído para o alcance dos ODS? De que métricas, em específico, se tem servido?
Isso está na missão desde sempre. A questão das métricas acaba por estar também embutida no plano estratégico e orientar toda a atuação da faculdade. A FEP já vinha fazendo um trabalho notável a este nível, já tinha isto no seu propósito e não é por acaso que tem um serviço dedicado a este assunto da Sustentabilidade e tem colaboradores alocados a acompanhar especificamente os ODS, além de outros objetivos da Faculdade. Penso que tudo isto demonstra a grande importância atribuída à Sustentabilidade e a trajetória e contributo muito positivos da FEP para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Tivemos no outro dia o Dia Nacional da Sustentabilidade, temos inscritos nas escadas os ODS, para toda a gente, todos os dias, passar e pensar neles, nas próprias aulas, os professores transmitem-nos e isso também passa para os trabalhos dos alunos, sendo notório, por exemplo, o número crescente de dissertações de mestrado dentro desses temas. É através de um leque muito alargado de itens que se está a ver a preocupação da FEP com este assunto, que é muito relevante e cada vez mais, porque o planeta é único, não temos outro, e, portanto, temos que o conservar.

Como é que a FEP se posiciona na promoção de práticas sustentáveis na comunidade universitária, considerando aspetos económicos, sociais e ambientais? Destaca algum ODS?
Contribuir para que as pessoas que passam pela FEP tenham trabalhos qualificados e salários condicentes que contribuam para o crescimento económico e a geração de receitas públicas, a usar para melhorar a vida das gerações atuais e futuras. Nós não queremos haja crescimento económico só porque sim, o crescimento económico tem de ser um crescimento económico sustentável, que beneficie o maior número de pessoas e remova o mais possível as externalidades negativas. Não queremos um crescimento económico poluente, queremos um crescimento económico compatível com os ODS, que gere recursos para depois podermos melhorar o nível de vida das populações, para erradicar a pobreza. Esse crescimento não pode ser contra o ambiente, não pode ser contra os ecossistemas, e, portanto, quando ensinamos e investigamos, procurámos contribuir, por via da educação e do conhecimento gerado e transmitido, para que as pessoas sejam mais éticas e contribuam para a paz e para a justiça nos mais pequenos detalhes das suas vidas, desde logo nos cargos que ocupam, para que as instituições sejam mais fortes e mais alinhadas com a missão. Isto tudo, sem nunca descurar a qualidade da educação. A FEP promove ainda a igualdade de género como fator de igualdade, mas também de inovação, pois é sabido que Sociedades mais inclusivas e diversas são também mais criativas. Por tudo isto, quando os estudantes depois passam a trabalhadores, eleitores, possivelmente pais e membros ativos da Sociedade, levam a preocupação de serem responsáveis enquanto agentes económicos (ao nível do consumo, da produção e mesmo da poupança) e políticos (como eleitores e em cargos públicos), contribuem das mais diversas formas, enquanto cidadãos conscientes, para um crescimento sustentável.

Os cinco ónus dos ODS são as pessoas, o planeta, as parcerias, a prosperidade e a paz. Como é que a FEP se revê nestes eixos de intervenção?
A FEP dá muita importância às pessoas, desde logo os estudantes, os professores, os investigadores e demais colaboradores. Por via da formação, contribui para que as pessoas aqui formadas, ao serem profissionais éticos, possam ascender no elevador social e contribuir para produções mais limpas e instituições melhores, promotoras, nomeadamente, da dignidade e da igualdade. Se operarmos de acordo com aquilo que aprendemos aqui, tornamos a sociedade mais próspera e justa. Ao sermos inclusivos, procuramos criar uma sociedade mais pacífica, diversa e mesmo mais criativa e inovadora, como já referido. As parcerias que temos são todas com parceiros que nós consideramos estarem alinhados com as nossas preocupações. Esses parceiros vêm até muitas vezes por estudantes que estão interessados no mercado de trabalho e que também revelam esta preocupação com a prosperidade, com as pessoas e com o ambiente. No final do dia, trabalhando desta forma, estamos a contribuir para um melhor ambiente social e natural, no fundo, um mundo melhor.

“Nós temos uma comissão de honra muito alargada. Quisemos que fossem 70 por serem 70 anos, mas são pessoas notáveis e pessoas também que contribuem para os ODS e para tornar o país melhor, seja como professores, políticos, gestores ou donos de empresas.”

Como é que vê o movimento associativista e organizacional da comunidade estudantil da faculdade? De que forma subscreve estas iniciativas?
Eu acho essas iniciativas todas muito importantes, acho até que uma das coisas que caracteriza a FEP é esse dinamismo dos organismos estudantis, que são dezanove, o que está completamente alinhado com os ODS e contribui muito para que a FEP possa cumprir a sua missão. Quando os organismos estudantis alertam para certas situações, contribuem, por exemplo, para a inovação pedagógica, quando trazem cá num evento empresas e parceiros para falar de um determinado assunto, estão a promover a co-criação e transmissão de conhecimento em benefício da sociedade e estão ainda a alertar para a necessidade de fazer a investigação alinhada com os interesses de diferentes parceiros. “A FEP tem muitas coisas boas, mas o melhor da FEP são os estudantes, como, aliás, as notas de acesso revelam, pelo que os organismos estudantis acabam por refletir isso mesmo”.

Celebrando-se os 70 anos da FEP, no âmbito dos ODS, que marcos recorda e que perspectivas tem para o futuro?
Dos 70 anos da FEP recordo o evento que marcou o início, em que tivemos cá a Ministra do Ensino Superior e o Secretário de Estado. Não esteve o Presidente da República apenas por dificuldades de agenda, mas tivemos a presença do Exmo. Reitor e de muitas outras personalidades. Nós temos uma Comissão de Honra muito alargada, podiam ser facilmente 140 pessoas, mas selecionamos apenas 70 por um motivo simbólico, por serem 70 anos. Todas elas são pessoas notáveis e que também contribuem de várias formas para os ODS e para tornar o país melhor, seja como professores, políticos, gestores ou donos de empresas, nomeadamente. Recordo ainda o jantar que fizemos no Palácio da bolsa, muito glamoroso. Depois disso, tivemos também já uma conferência em setembro, relativa à gestão dos portugueses, com oradores de muita qualidade e sala cheia. Tivemos depois a comemoração da primeira aula da FEP, em que a aula de comemoração teve como professor um aluno do primeiro curso, o Dr. José Roquette, que foi também quem ganhou o Prémio Carreira quando começámos as celebrações. Vamos ter agora mais uma conferência em dezembro, sobre a interdisciplinaridade, que nos deve também fazer lembrar que as ODS estão interligadas e constituem um corpo endógeno, desde logo porque emergem de várias áreas do saber. Para o ano celebramos 50 anos do edifício e vamos ter mais uma conferência sobre a arquitetura.

As comemorações terminam em maio, com mais um Dia da FEP, em que já está confirmada a presença do Presidente da República, que condecorou a FEP com a ordem de mérito, pelo que daremos destaque à exposição da respetiva esta medalha. Se ele condecorou a Faculdade é porque considera que merece e isso é motivo de orgulho, naturalmente.

Notícias recentes têm mostrado como o futuro pode ser incerto. Como é que a FEP prepara os estudantes para enfrentar as incertezas do futuro e que competências/ atributos considera críticas para o seu sucesso?

“É assim que muitas vezes acontecem as guerras, com os polos extremos a ganharem força e a gerar sentimentos de ódio. quando nos damos conta, já é muito tarde para os parar, e, portanto, vejo com muita preocupação a emergência desses extremos.”

Sobre as guerras, uma vez li um post, com um miúdo que dizia “Oh pai, se matarmos todos os maus, o mundo fica melhor, não é?” E o pai respondeu-lhe “Não, porque se matarmos todos os maus, depois quem fica são os assassinos”. E, portanto, qual é a solução? Eu acho que a solução é a educação, a criação e a repartição da riqueza com justiça e não abandonar ninguém. As guerras são tristes e contra-natura, não fazem sentido nenhum. A guerra nunca é a solução, eu acho que é o diálogo e é a educação, ou seja, pessoas mais bem formadas.

Nós queremos que o País seja o mais próspero possível, pelo que, se formarmos pessoas com muita qualidade, podemos por essa via melhorar também o nível de vida das pessoas e elevar o grau de desenvolvimento de Portugal, para o qual, dessa forma, a FEP muito tem contribuído.
A FEP é mesmo das faculdades de Economia e Gestão que mais tem fornecido os sucessivos governos, nomeadamente ministros e secretários de Estado.
Neste momento temos um ministro, temos o Presidente da Assembleia da República, um Secretário de Estado e temos uma Comissária Europeia formados na FEP.

“A mensagem que eu queria que ficasse é que não tenham medo de nada, porque vocês são mesmo muito bons e portanto são capazes de qualquer coisa, em qualquer parte do mundo”


De que forma é que a ascensão da extrema direita na Europa pode colocar em causa alguns de destes objetivos?
Acho que está a haver polarização em muitas coisas, até nos próprios níveis salariais. Se fizermos uma análise fina aos dados, nós verificamos que os qualificados ganham muito dinheiro e depois os menos qualificados ganham pouquinho, mas, até agora, até têm vindo a ser mais ou menos compensados, de alguma forma. Depois há ali uma franja de população, que são os medium skilled, que têm vindo a ser penalizados, por causa da robótica, do off-shoring e mesmo do elevado nível de fiscalidade sobre a classe média. Há polarização aí, e depois há polarização também na política, os extremos estão a ganhar peso e isso nunca é muito bom sinal. Foi assim que, por exemplo, aconteceu a segunda guerra mundial e é assim que muitas vezes acontecem as guerras, com os polos extremos a ganharem força e a gerar sentimentos de ódio. No fundo, é o desespero das pessoas e, para isso, tem culpa a falta e soluções que tem havido ao centro, o que no fundo, permite e alimenta isso. Depois, quando nos damos conta, já é muito tarde para os parar, e, portanto, vejo com muita preocupação a emergência desses extremos, não apenas à direita, mas também à esquerda.

Na FINK celebramos, recentemente, os 10 anos do Fepiano, estando em processo a 50ª edição, pelo que vamos recuperar uma questão simbólica da primeira edição. Estando o professor também vinculado à esfera jornalística, como vê esta iniciativa, ou seja, um jornal que seja a voz dos estudantes da FEP?
Eu acho muito bem para toda a gente. Tudo o que tem a ver com a informação é útil, e, portanto, vejo com bons olhos que exista o jornal e que informem, que haja opinião e debate. Eu sou sempre a favor do confronto de ideias e de opiniões porque é daí que surgem novos caminhos. No fundo, esse jornal também serve um bocado para informar a comunidade dos Estudantes e suscitar discussão, pelo que acho muito bem. É sempre a salutar, estão a contribuir para a vossa missão.

O que eu quero dizer aos Estudantes é mesmo que sem eles não havia Faculdade, pelo que muito do seu impacto relevante na região, nos países e até no mundo, resulta do facto de ter muito bons estudantes, provando todos os anos que são os melhores. Acho que a faculdade também tem uma tradição e um conhecimento acumulados que potenciam a qualidade dos nossos graduados, mesmo com todas as transformações que no processo produtivo e na Sociedade. É o próprio mercado de trabalho que o reconhece claramente, sabendo que a FEP gera estudantes com capacidade de liderança, flexibilidade e adaptabilidade, que ‘aprenderam a aprender’
com rapidez, competência e sentido prático de utilização as mais diversas matérias, o que é um fator de sucesso
cada vez mais determinante na atualidade, em que tudo muda a uma velocidade cada vez maior.

“Se nós fizermos o nosso trabalho bem feito podemos contribuir para erradicar a pobreza, garantir que há impacto social e, portanto, que há mais dignidade e que podemos contribuir para uma maior igualdade.”

Mesmo agora quando eu falo com stakeholders, com as empresas, quer com gestores, quer com os proprietários, eles dizem que vocês são muito bons e que são realmente os melhores, não tenho problemas nenhuns em dizer isso.

“A mensagem que eu queria que ficasse é que não tenham medo de nada, porque vocês são mesmo muito bons e, portanto, são capazes de qualquer coisa, em qualquer parte do mundo, são capazes de desempenhar qualquer cargo em qualquer organização do mundo se o quiserem fazer”.