José Manuel Varejão irá dirigir o destino da Faculdade no próximo quadriénio. Professor e investigador, estudou Economia na Universidade do Porto, tendo-se doutorado em 2001. Especializado em temáticas relacionadas com a Economia do Trabalho, foi Diretor do Centro de Economia e Finanças da Universidade do Porto (CEF.UP), entre 2010 e 2013. Desde 2009, integra o IZA como Research Fellow.

Quem é José Manuel Varejão?

Português, economista, 52 anos. Licenciou-se em Economia entre 1980 e 1985 pela FEP, onde é professor desde então.

Licenciatura, mestrado e doutoramento obtidos na Universidade do Porto. Conte-nos como era a FEP enquanto foi estudante e como a vê neste momento.

Era, paradoxalmente, muito diferente e muito semelhante ao que é hoje. O número de alunos inscritos em cada disciplina podia ser muito grande, sendo que, no mesmo curso, coexistiam muitos alunos de gerações muito diferentes e as taxas de reprovação eram muito elevadas. Além de que havia apenas um curso: a licenciatura em Economia. Era semelhante porque, na altura como hoje, proporcionava aos estudantes uma sólida formação teórica e lhes exigia uma grande capacidade de superar obstáculos, duas características que são, ainda hoje, os grandes trunfos dos alunos da FEP quando chegam ao mercado de trabalho.

A sala dos 70 metros é um local mítico da nossa Faculdade. Que recordações guarda deste espaço?

A de um espaço realmente com 70 metros que não estava dividido e impressionava por isso. E as elevadas temperaturas durante os (longos) exames de junho e julho.

Enquanto estudante, ambicionava gerir, no futuro, a Faculdade?

Nem enquanto estudante, nem enquanto professor. Na minha opinião, dirigir uma escola como a FEP não deve resultar de ambição pessoal. Não se é diretor da FEP porque se quer algo para si, mas sim porque se acredita no que se quer para a escola.

Acreditou no que queria para a escola e a 27 de março foi eleito Diretor da FEP. Expectava esta vitória ou foi uma surpresa?

Esperava, porque apresentei uma proposta que confia nas pessoas que fazem a escola (os professores, os funcionários não docentes e os alunos), assume os seus anseios e assenta nos seus valores de sempre: rigor e responsabilidade.

Esclareça os principais pilares do seu programa para o quadriénio 2015-2019.

Como tive oportunidade de expor ao longo de todo o processo eleitoral, pretendo consolidar a oferta formativa da FEP, ancorada numa aposta na investigação que eu entendo como um objetivo em si mesmo, mas também como fonte de atualização curricular, inovação pedagógica e veículo de afirmação externa da escola.

Quais os desafios que a FEP enfrentará, nos próximos anos, nos planos nacional e internacional?

O da sua afirmação (e consequente reconhecimento), nos dois planos, como escola de referência no ensino e na investigação nas áreas da Economia e da Gestão.

No seu entendimento, qual o espaço para investigação e docência que deve caber a uma instituição de ensino superior que se assume como um referencial de excelência e rigor?

Um lugar central que partilha com o ensino. Uma universidade é uma instituição que produz e transmite conhecimento.

Pessoalmente, prefere a investigação ou a docência?

Não concebo uma coisa sem a outra.

A FEP apresenta um grande dinamismo em termos de associativismo estudantil. Como entende esta realidade?

Entendo o associativismo estudantil como uma das maiores forças da FEP e um dos seus valores de sempre – ainda que as suas manifestações evoluam, como tudo, com o tempo.

Preocupa-o a fuga de alunos das licenciaturas na FEP para os mestrados das Universidades Nova e Católica, em Lisboa?

Preocupa-me renovar permanentemente a capacidade da FEP atrair estudantes para todos os seus cursos e, especialmente, oferecer aos seus estudantes de licenciatura cursos de mestrado em que eles reconheçam valor. Isto é, cursos que, assegurando- -lhes um complemento de formação teoricamente sólido, os capacite para resolver problemas novos pois é isso que deles se espera no mercado de trabalho. E preocupa-me que, fazendo-o, seja capaz de comunicar eficazmente que o faz.

Quando saem das Universidades, os estudantes estão preparados para lidar com o mercado de trabalho?

Estão, porque aprenderam a aprender. A capacidade de aprender (a fazer) permanentemente e ao longo de toda a vida ativa é o seu grande ativo no mercado de trabalho e aquele que o mercado mais valoriza.

A Economia do Trabalho está entre as suas principais áreas de interesse e pesquisa. Quais são os grandes problemas do mercado de trabalho português? Como sugere solucioná-los?

O mercado de trabalho é o espelho da economia – o que lá se passa é o reflexo do que se passa na economia. Os dois maiores problemas – desemprego elevado e salários baixos – são o resultado direto de baixos níveis de criação líquida de emprego e de baixa produtividade cujas causas estão hoje mais no setor produtivo do que no mercado de trabalho.

O desemprego é o principal problema social do país?

É, neste momento, um problema sério, mas não o maior. O principal problema social é, na minha opinião, a pobreza. O desemprego é uma das principais causas da pobreza, mas não a única; basta pensar nos trabalhadores pobres e na incidência de situações de pobreza entre as crianças e os idosos.

O Eurostat divulgou, recentemente, um relatório acerca dos custos do trabalho, referentes ao ano passado, revelador de uma diferença muito expressiva de 36,5J entre o país cuja mão de obra foi mais barata (Bulgária) e mais cara (Dinamarca). O que é que pensa sobre a ideia de uma União Europeia a duas velocidades?

É a consequência indesejada da generosidade do projeto Europeu claramente afirmada a partir do alargamento aos países do Sul – à Grécia primeiro, a Portugal e Espanha depois – que resultou, sobretudo, de razões de ordem política, mais do que de razões de ordem económica. Ainda assim, e apesar dos obstáculos, é importante não alienar o objetivo original de convergência, assente no princípio da solidariedade.

A que – ou a quem – gosta de dedicar os seus tempos livres?

A ler e à família.

O que o move e comove?

Move-me aquilo em que acredito. Comove-me a honestidade intelectual.

O que vale realmente a pena na vida?

Vivê-la