Volvidos seis séculos desde que, da Ocidental Praia Lusitana, os portugueses se aventuraram pelos mares, a cultura portuguesa mantém-se viva nos vários cantos do mundo e vê na língua o grande farol para o futuro.

O universo de falantes de Português corresponde a cerca de 7% da superfície continental, sendo o idioma oficial para mais de 250 milhões de pessoas. As projeções indicam que, em 2050, esse número aumentará para os 350 milhões, cristalizando-o no top 5 das mais faladas à escala planetária. Por detrás deste crescimento estão fatores como a expansão do seu ensino, a crescente importância do idioma na Internet, bem como o facto de ser língua de trabalho em fóruns internacionais, tendo levado à proclamação do Dia Mundial da Língua Portuguesa pela UNESCO, em 2019.

Do Ocidente ao Oriente, a Língua de Camões tem unido povos e influenciado culturas ao longo dos tempos. É o caso da migração da palavra “zebra” para o idioma inglês, originalmente referente a um equídeo selvagem alentejano ou do uso das palavras “pan” (pão), “koppu” (copo), “kirisuto” (Cristo) e “botan” (botão) no Japão. Mas se, em tempos, o país do sol nascente foi um dos grandes catalisadores asiáticos da cultura portuguesa, atualmente é na China que reside o maior interesse pela aprendizagem da língua, havendo mais de 4.000 estudantes de Português espalhados por 47 universidades. Esta aposta vertiginosa no ensino da língua faz parte de uma estratégia alargada da expansão económica de Pequim, especialmente se considerarmos as crescentes relações comerciais da China com o Fórum Macau, uma plataforma de cooperação econômica com os países de língua portuguesa, fundada em 2003.

Desta feita, poder-se-á afirmar que o papel da herança histórica dos Descobrimentos na afirmação da cultura portuguesa no mundo contemporâneo é notoriamente insuficiente. Com o advento da globalização, o epicentro da lusofonia perpassou a esfera de influência da CPLP. Atualmente, o potencial mor de expansão da Língua Portuguesa recai sobre a esfera económica, desde logo porque, segundo o FMI, as 9 economias da CPLP, em conjunto, valem cerca de 2.700 milhões de euros e representam cerca de 5% do comércio mundial.

Mas há ainda alguns adamastores no caminho. Por um lado, os níveis de desenvolvimento económico abaixo do potencial em Angola e Moçambique; por outro, o crescimento do Brasil ficou muito aquém das projeções, ocupando o lugar de 9.ª potência mundial, 4 lugares abaixo do esperado. A este cenário junta-se Portugal, centro tradicional da lusofonia, gravemente afetado pela crise económica de 2008, que só agora começa a mostrar sinais de recuperação. Se acrescentarmos as projeções para o período pós-Covid, a imagem fica, ainda, mais preocupante.

É, por isso, imperativo que os Estados da CPLP, designadamente o eixo luso-brasileiro, aloquem recursos financeiros em políticas capazes de projetar a Língua Portuguesa como idioma global da economia internacional e não somente das diásporas e da herança histórica. Só assim se conseguirá que o Português seja, nas palavras do nosso Primeiro-Ministro, “uma língua de futuro, viva, diversa na unidade, que muda no tempo e no espaço, continuando a ser a mesma no essencial”.