Rafael Machado
Também incluído no FEPIANO 50, publicado em Fevereiro de 2024
O Moneyball tem crescido nos últimos anos e tem sido utilizado como filosofia base para clubes de topo em todos os desportos.
O Moneyball é um termo que se refere à utilização de análise estatistica avançada para a tomada de decisões financeiras e desportivas. Este conceito foi utlizado pela primeira vez para descrever a estratégia que os Oakland Athletics, uma equipa de basebol norte-americana, utilizou, em 2002, para encontrar jogadores subvalorizados, de forma a poderem competir com equipas com orçamentos maiores. Billy Beane, diretor desportivo, após perder jogadores cruciais para as grandes equipas do basebol, decidiu experimentar
uma nova abordagem baseada em teorias criadas por Bill James. Ele acreditava que os olheiros não estariam a fazer um trabalho completo e que estariam demasiado concentrados na capacidade de os jogadores baterem
na bola e não na quantidade de vezes que conseguiam chegar à base, que é o melhor indicador de vitórias neste desporto. Então decide procurar jogadores com base nessa ideia, acabando por construir uma equipa com um orçamento reduzido, mas que, em conjunto, era capaz de competir ao mais alto nível.
Esta história ganhou maior popularidade depois da publicação do livro “Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game”, escrito por Michael Lewis, em 2003, que mais tarde foi adaptado para o cinema, com Brad Pit e Jonah Hill como protagonistas. O filme fez muito sucesso em 2011 e chamou a atenção de quem não conhecia o Moneyball.
Os princípios do Moneyball têm sido cada vez mais utilizados também no futebol. A ideia é similar, mas a verdade é que este segundo é um desporto mais complexo e com mais variáveis do que o basebol. Por exemplo, não existe nenhum indicador no futebol, associado a vitórias, como o número de vezes que se chega à base no basebol. Por essa razão, a equação tem por base um número maior de variáveis que oscilam de acordo com a função dos jogadores. O Moneyball no futebol segmenta-se em três pilares: o recrutamento de novos talentos, a criação de novas táticas e a otimização da estrutura.
No que toca a recrutamento, um bom exemplo hipotético é a comparação entre dois avançados. O avançado número 1 tem 20 golos em 30 jogos, enquanto o avançado número 2 tem 15 golos em 30 jogos. As equipas, em princípio, considerariam o avançado número 1 mais valioso, no entanto, se assim o fizessem, estariam a esquecer-se de um dado estatístico importante: os golos esperados. Quanto mais golos esperados tiver um avançado, mais oportunidades de golo ele criou, então se o avançado número 2 tivesse mais golos esperados, isso significaria que a justificação para ele ter menos golos seria a existência de fatores externos, como má sorte ou grandes prestações dos guarda-redes. Ou seja, se o avançado número 2 aprender a converter melhor as suas oportunidades, eventualmente, com mais sorte ou sendo utilizado de uma melhor forma no esquema tático da equipa, pode aumentar significativamente o seu número de golos. Um bom exemplo de uma equipa que utiliza este método para avaliar jogadores é o FC Midtjylland, que é detido por Matthew Benham, também dono e fã do Brentford FC e empresário que ganhou a sua fortuna no mundo das apostas, com as empresas Smartodds e Matchbook, recorrendo a dados estatísticos. Tanto o Brentford como o Midtjylland criaram um ranking de clubes de todo o mundo, baseado em estatísticas e descobriram que muitos clubes e os seus respetivos jogadores, de ligas menos populares, estavam a ser subvalorizados, como o caso de Tim Spav, que jogava na segunda divisão alemã, tendo estatísticas de jogador de grandes ligas. Um dos exemplos mais antigos é o de Kenny Burns, subvalorizado por rumores relacionados com o consumo de álcool. Apurando a falsidade dos rumores, o Nottingham Forest decidiu contratar o jogador que, no ano seguinte, venceu o prémio de melhor defesa da liga.
No que toca a criação de novas táticas, Lee Dykes, o diretor de recrutamento do Brentford e Midtjylland explica que, para que o Moneyball funcione por completo, é necessária uma abordagem tática que encaixe com o tipo de jogadores que o clube tem. Billy Beane descobriu que conseguia substituir a sua estrela por três jogadores que fariam o mesmo papel, mas por muito menos dinheiro. Dykes afirma que, para que seja tirado o máximo aproveitamento do plantel, é necessário que os jogadores se completem e formem uma equipa coesa. Em 2018, o Liverpool percebeu que Firmino era capaz de criar mais oportunidades de golo através de passes e descobriram que Salah, era o homem certo para converter essa criação de oportunidades. Outro ponto importante é o desenvolvimento. Se tivermos dois avançados jovens, é importante ter outro mais experiente para poder mentorar os outros dois.
Uma parte essencial no planeamento de um jogo de futebol é, sem dúvida, a marcação de bolas paradas. Quando ganhou o seu primeiro título em 2014/15, o Midtjylland converteu 39% deste tipo de situações. Desde 2021/2022 o Brentford encontra-se no top 3 das equipas com mais golos através de bolas paradas, apenas atrás de dois clubes maiores, o Manchester City e o Liverpool, que apesar de terem muitas situações deste tipo, têm uma taxa de conversão bastante menor. Na marcação dos cantos, praticam uma abordagem bastante peculiar, uma vez que utilizam diferentes táticas na primeira e na segunda parte do jogo, de forma a explorarem as fraquezas dos adversários de diferentes formas. Em livres e cantos, em que o objetivo é cruzar a bola para a área, os jogadores juntam-se num pequeno espaço no
centro, de forma a ser imprevisível saber a direção que cada jogador vai tomar, abrindo assim espaços devido à confusão criada aos jogadores adversários.
A otimização da estrutura é um tema muito particular no Moneyball porque pode englobar um grande número de ajustamentos. O exemplo mais conhecido é o do Brentford, que decidiu encerrar a academia, uma vez que estão situados em Londres, onde há uma elevada quantidade de equipas de grande nível que sugam todos os talentos da cidade. Em vez disso, decidiram criar uma equipa secundária de talentos de todo o mundo para os preparar para a equipa principal.
Decidiram também focar-se nos jogadores rejeitados pelas grandes academias de Inglaterra. O clube tem uma estrutura de funcionários diferenciada da maioria dos clubes. Têm um analista tático, Bernardo Cueva, que trata de trazer informação estatística ao treinador do Brentford, mesmo no decorrer dos jogos, uma treinadora do sono, Anna West, e uma série de treinadores focados apenas em bolas paradas.
Outros grandes exemplos de Moneyball no futebol são o Barnsley e o AZ Alkmar, que têm Billy Beane como acionista e conselheiro, respetivamente, mas o de maior sucesso é o Leicester City, que utilizou dados estatísticos para encontrar os tais jogadores subvalorizados, conseguindo vencer a Premier League em 2016, mesmo com prognósticos de 5000-1. Assim, a filosofia Moneyball permite um maior aproveitamento desportivo e financeiro das equipas, promovendo o seu sucesso.
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