Opinião de Jéssica Costa
Também incluído no FEPIANO 42, publicado em Fevereiro de 2021
A tauromaquia é um tema cada vez mais debatido, o que me diz que o nosso sentido crítico não está completamente perdido.
O Touro Bravo é a espécie vencedora deste giveaway fantástico, no qual nem tentou participar. Eufóricos pelo horror show oficial do Campo Pequeno, os forcados estão sempre prontos, de bandarilhas na mão, para espetar os argumentos em prol da prática. Agora é a minha vez, de teclas armadas, de os refutar.
Confesso que tenho um argumento favorito: “é tradição, cultura e arte”, gerador de umas boas gargalhadas em conversa com o meu amigo Darwin. Rimos tanto, mas na verdade só queremos chorar. Quero apresentar-vos um pequeno conceito responsável pela vida em redor, vulgarmente conhecido como “evolução”. O ser humano – outrora australopiteco, habilis, erectus e sapiens – foi o felizardo que ganhou o jackpot do programa da manhã: a consciência. Assim sendo, com o passar dos anos e através dessa capacidade crítica, percebeu que determinadas práticas, como o apedrejamento em praça pública, coliseus romanos e outras maravilhas, eram nada mais que um atentado à dignidade humana e, portanto, não tinham lugar na nossa sociedade. A cultura pode, e deve, ser adaptada à evolução dos tempos; não fosse essa capacidade, andaríamos a acender fogueiras para as bruxas da aldeia. Quanto à faceta artística do evento, creio que se referem às roupas coloridas dos forcados, já que pôr animais a sangrar para entretenimento das bancadas é tão artístico quanto aproveitar o sangue que lhes cai para pintar quadros.
De seguida, temos o clássico “só vê quem quer”; pena que esta filosofia inspiradora não se aplique aos fundos públicos que lhes dão e não seja “só paga quem vê”. Relembro também, que maltratar animais não é o mesmo que não gostar de futebol e mudar para a novela da SIC. Dizem que gostos não se discutem, mas acredito que o bom senso limita a afirmação quando a conversa passa da tua série favorita para o animal que torturas nos tempos livres.
Elucidem-me, se é crime maltratar animais de companhia, porque é que torturar touros com emissão especial na RTP, não é? Parece-me que a solução é clara: quem tem quintal, adota um touro em vez de um cão; se aparecer um maluco de vermelho e um espeto de aço, a denúncia é válida.
Traduzindo em termos matemáticos: a minha fúria varia exponencialmente em função das vantagens dadas à prática. Assim, aproveito para avançar no eixo horizontal e recordar que, se quiser ver touros em agonia, pago uns míseros 6% de IVA; se precisar de levar o cão ao veterinário, 21% me saem da carteira. Bem-vindos a Portugal, onde tratar é um luxo e fazer sangrar uma necessidade.
Numa das recentes campanhas turísticas dos Açores – “Todos Fazemos Parte” – a região publicitou as suas atrações principais, ocultando uma das principais beneficiárias de fundos públicos: a tauromaquia. Pergunto-me porque será, que uma atividade tão digna, foi excluída? Será porque reconhecem o desajuste entre a prática e o século XXI? A meu ver, a única coisa da qual “Todos Fazemos Parte”, é dos impostos pagos para apoiar esta barbaridade.
Apelo-vos: vamos apoiar a dança, o canto, a pintura, escultura, literatura e, nos livros de História, que fique a tortura.
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