A questão não podia ser mais urgente: como podemos compatibilizar um sistema que assegure crescimento económico e, ao mesmo tempo, garanta sustentabilidade ambiental?

O capitalismo tem sido recentemente posto em causa, à luz desta problemática. Tipicamente, o raciocínio que o rejeita assenta em dois pressupostos: o de que o capitalismo é um sistema económico puramente profit-oriented, e que as iniciativas que asseguram sustentabilidade são custosas e prejudicam margens de lucro. Somos levados a concluir que não há incentivos orgânicos para sermos ambientalmente responsáveis. No entanto, sou da opinião que este argumento não é coerente com a realidade. É verdade que o capitalismo privilegia a procura pela maximização do lucro. Todavia, é falso que as medidas que levam a um futuro sustentável são anti-lucro. A relação não é, de todo, linear. Olhemos para o caso do setor dos transportes – entre 2010 e 2018, o número de veículos elétricos (EV) vendidos passou de alguns milhares para cerca de 2 milhões. É esperado que cerca de 57% de todos os veículos vendidos em 2040 sejam elétricos (BloombergNEF, Eletric Vehicle Outlook 2019). A transição a que estamos a assistir é em prol de um futuro sustentável, onde a procura energética é acomodada por formas mais verdes de consumo. Na minha opinião, esta tendência existe e está a instalar-se por uma simples razão – há produção de veículos elétricos porque há um mercado para veículos elétricos. Os incentivos do Estado para fazer a transição são importantes – não ponho em causa o papel institucional da revolução energética. No entanto, o mecanismo que garante uma alocação de capital pró-ambiente é, na minha opinião, muito mais lato do que isso. Seja por questões de eficiência energética do motor, custo da eletricidade, poluição sonora ou por questões puramente ambientais, a verdade é que há cada vez mais procura de carros elétricos. Isto, per se, é o aspeto fundamental desta transição (o pensamento é análogo para outros setores). É isto que viabiliza a responsabilidade ambiental – a incorporação em escala maciça de preferências que privilegiam produtos e serviços que, efetivamente, nos fazem ser mais verdes.

Acreditar que o capitalismo é compatível com o Ambientalismo não é, no entanto, tapar os olhos e aceitar o mundo como ele é. O sistema não é perfeito: temos de mudar comportamento (irrefutável!). Acreditar na sua compatibilidade é, no entanto, ter como opinião que a reforma pela qual temos de passar nasce, primeiro, nas preferências do individuo, em novas tecnologias, nos empreendedores, nas pequenas empresas e em melhores e mais apelativos produtos. O Estado não é alienado da equação, no entanto, precisamos que a regulação acompanhe esta mudança e reforce a iniciativa privada na direção da sustentabilidade. Não obstante, é principalmente no mercado que a sociedade se reúne para tomar as decisões individuais que, depois, se traduzem em mudanças coletivas. A natureza Humana implica uma procura constante por evolução – queremos construir mais alto, chegar mais longe e não deixar nada por fazer. Assim, acredito que construir um modelo que assenta em estagnação ou regressão das nossas necessidades por mera ação reguladora/restritiva é pouco inteligente. Somos capazes de ir mais longe.Enquanto escrevo este pequeno texto, decorre em Lisboa a Web Summit. Com certeza que lá estarão presentes dezenas (ou centenas) de startups que pretendem, de alguma forma, responder aos desafios ambientais que enfrentamos. Pergunto-me o quão importante são as mentes por trás dessas startups, que pensam nestes problemas e efetivamente desenvolvem soluções viáveis. Pergunto-me, também, como seria a Web Summit num sistema anti-capitalista. Convido o leitor a tomar a liberdade de se juntar ao raciocínio.