Clara dos Reis
Também incluído no FEPIANO 39, publicado em Dezembro de 2019
Iniciada por jovens estudantes, mas rapidamente estendida a todas as faixas sociais, a Greve Climática Global é um movimento político-apartidário, descentralizado e pacífico, inserindo-se no movimento internacional SchoolStrike4Climate e FridaysForFuture. O mote é evidenciar a crise climática, de modo a obter respostas concretas dos responsáveis governamentais e políticos.
Assim, de 20 a 27 de setembro, por todo o mundo, organizaram-se greves nesse âmbito. A 27 de setembro foi a vez da população do Porto mostrar as suas preocupações, iniciando a marcha na Praça da República às 17h00. Nós estivemos presentes e pudemos perceber melhor os motivos que levam os ativistas a participar na greve. Identificamos grupos sociais e etários tão diversos, unidos em torno dos mesmos objetivos e princípios ambientais.
Dos nossos entrevistados, todos assumem que a responsabilidade social e ambiental é transversal a toda a comunidade e não só aos políticos, cujo desempenho tem provocado algumas reticências e insatisfação. Na opinião de Ana Dias Garcia, de 36 anos e investigadora na área das Ciências da Educação, “enquanto cidadãos, devemos envolvermo-nos e denunciar essas políticas de destruição ambiental, que, consequentemente, têm impacto social. Há políticas violentas e criminosas do ponto de vista socioambiental sem que sejam vistas como tal. Muitas vezes, as prioridades estão invertidas e não pode valer tudo”.
Por exemplo, Miguel Simões, estudante de Direito, de 21 anos, evidencia a saída dos EUA do acordo de Paris como um retrocesso ambiental, considerando que, apesar de Portugal estar aparentemente a suportar hábitos sustentáveis (como a comparticipação da compra de carros elétricos), são necessárias ações mais urgentes, globais e de longo-prazo.
Maria Manuel Rola, deputada do Bloco de Esquerda eleita pelo círculo do Porto, concorda com a lentidão dos processos políticos e reforça que, apesar da maior visibilidade conseguida pela forte adesão a este tipo de mobilizações, há uma série de ações políticas que intensificam a crise ambiental. São exemplos “as atribuições de subsídios à indústria dos combustíveis fósseis, a privatização de setores estratégicos, a aposta em meios de transporte individuais e de explorações em países com menor exigência ambiental ou com menor fiscalização e até o que se tem vindo a assistir no Brasil e nos EUA. Recentemente, soubemos que a Galp conta abrir 50 explorações de combustíveis fósseis em países como Brasil, Angola ou Moçambique. Por isso, é essencial continuar-se a insistir por mais ação e mais rápida com a participação de todos nós. De outra forma vingará o ‘business as usual’, e isso não pode ser”.
Para o combate à crise climática, há várias medidas que poderão ser tomadas ou aprofundadas. Henrique Borges, de 64 anos e dirigente do Sindicato dos Professores do Norte, sugere, para além da aceleração dos processos de mudança, a criação de espaços e tempos para a Educação Ambiental nas escolas, tendo em conta o nível de escolarização que já nos caracteriza e o impacto positivo que a educação demonstra ter no longo-prazo.
Algo que todos concordam é que a mudança passa pelas nossas ações enquanto agentes económicos, aos níveis da mobilidade – optando-se pela pública e mais ecológica – da alimentação e do consumo em geral – tendo especial atenção aos materiais descartáveis como o plástico e focando não só o produto final como todo o processo para o obter. Tudo isto deverá passar pela não cooperação com o sistema económico vigente, que apela ao consumismo e cria desequilíbrios sociais e ambientais. Maria Manuel Rola acrescenta ainda, segundo uma perspetiva mais corporativa, a necessidade da urgente transição energética, pela aposta nas renováveis e a recusa da expansão da indústria fóssil.
Importa assim reter as palavras da investigadora: “a conscientização e a participação ativa das pessoas é essencial em todo este processo de mudança para um mundo mais limpo, socialmente justo e sustentável”.
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