João Tavares e Tomás Paiva
Também incluído no FEPIANO 39, publicado em Dezembro de 2019
O aeroporto Humberto Delgado tem registado sucessivos recordes em volume de tráfego e já não consegue fazer face à procura. Envolto pela cidade, não tem margem para expansão. Depois de estudadas várias alternativas, a opção “Portela + Montijo” será provavelmente escolhida, mas será a melhor solução?
O projeto teve diversos avanços e recuos. As primeiras propostas passavam pela deslocalização das operações para uma nova localização, com uma solução de raiz: primeiro para Rio Frio (30 km a este de Lisboa), depois para a Ota (45km a norte da capital), aparecendo ainda a hipótese de Alcochete (20km a este da cidade). No entanto, a grave situação económico-financeira que o país atravessou recentemente, a que se seguiu um período de rápido crescimento do turismo, exige uma solução mais célere quanto a prazos e menos dispendiosa.
É aí que surge a ideia da “Portela+1”, que prevê o aumento da capacidade do atual aeroporto e o aproveitamento da base militar do Montijo. No conjunto, os dois aeroportos poderão receber mais de 50 milhões de passageiros por ano, quase o dobro da capacidade do atual.
A principal reserva face a esta solução prende-se com os impactos ambientais resultantes da proximidade ao Estuário do Tejo, local de passagem de cerca de 150 espécies de aves, em particular no período migratório. Um problema ambiental, mas também de segurança das aeronaves. Depois de o primeiro Estudo de Impacte Ambiental (EIA) ter sido rejeitado pela comissão de avaliação, o documento foi retrabalhado e recebeu um parecer favorável condicionado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), mediante contrapartidas que totalizam 48 milhões de euros para medidas de minimização e compensação ambiental.
Contudo, apesar da aprovação pela APA, esta solução está longe de ser consensual. São muitos os estudos e personalidades que apontam outras opções, quer pelos menores impactos ambientais, quer por questões orçamentais ou de coesão territorial.
Uma das alternativas prevê a utilização da base aérea de Sintra como complemento à Portela. Situada a 20km da capital, é caracterizada por bons acessos rodoviários e pela proximidade à turística vila de Sintra. Contudo, a serra de Sintra constitui um obstáculo à navegação e as pistas de Sintra e da Portela, devido às suas orientações e proximidade, não podem operar em simultâneo.
Outra alternativa consiste na adaptação da base aérea de Monte Real, em Leiria. Apesar dos menores custos e prazos de conclusão da obra e da proximidade a Fátima, a distância de mais de 120 km da capital constitui um ponto negativo.
O aeroporto de Beja, já em operação, é apontado como complemento, não só à Portela, mas também a Faro, cujo tráfego tem crescido. Embora tenha grande margem de expansão, a distância de 120 km a ambas as cidades exigirá a modernização da Linha do Alentejo, de forma a reduzir o tempo de viagem.
Mais recentemente, surgiu uma proposta que tornaria Alverca no novo hub da capital, ficando a Portela em segundo plano. Com impactos ambientais reduzidos e menor investimento e prazo de conclusão, Alverca destaca-se pela proximidade a Lisboa, bons acessos rodoviários (A1 e A9-CREL) e ferroviários (Linha do Norte). Todavia, as incompatibilidades desta proposta com a pista da Portela obrigariam à construção de uma nova pista sobre as margens do rio.
Fazer a escolha certa é vital para a cidade e para o país. Porém, o critério tempo vai pesando cada vez mais, à medida que os constrangimentos na Portela aumentam. Sobretudo desde a aprovação do EIA, a decisão parece mais final do que nunca – o Montijo será a opção escolhida.
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