Leonor Rodrigues
Também incluído no FEPIANO 39, publicado em Dezembro de 2019
Com toda a confusão do mundo contemporâneo, é impossível que um indivíduo consiga acompanhar e entender tudo o que se passa ao seu redor. Uma das questões mais desafiantes da Humanidade são as alterações climáticas, qual o seu significado e quais serão as suas consequências no futuro. Assim, este artigo procura facilitar a compreensão deste problema para a população em geral. Comecemos por partes:
O que é o aquecimento global?
Segundo o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), define-se como aquecimento global o aumento médio da temperatura à face do solo e do oceano ao longo de um período de 30 anos. Atualmente, o IPCC recomenda que se mantenha o aquecimento global até aos 1,5ºC para que catástrofes naturais sem precedentes sejam evitáveis.
O que é que isso implica para o Planeta?
Como temos vindo a ver ao longo dos últimos anos, a perda de fauna e flora, catástrofes naturais como cheias, secas e furacões e a subida do nível médio das águas do mar, que pode levar ao desaparecimento de ilhas e zonas costeiras atuais. A temperatura dos oceanos e à superfície (do solo) tem vindo a aumentar ao longo dos anos, com vagas de calor mais frequentes em áreas continentais.
Como estamos neste momento?
O último relatório do IPCC aponta que, para evitar alterações inadaptáveis (alterações climáticas tão abruptas que que o Ser Humano não se consegue adaptar atempadamente), devemos manter o aquecimento global até aos 1,5ºC, comparativamente a níveis pré-industriais (isto é, comparativamente ao período entre 1850 e 1900). Não obstante, o mesmo relatório aponta que é esperado que o aquecimento global ultrapasse os 1,5ºC. Aliás, são já visíveis alterações no nosso Planeta: vagas de calor mais frequentes em grande parte das regiões continentais, assim como mais vagas de calor marinhas. Prevê-se ainda que o aquecimento global antropogénico venha a aumentar a frequência e intensidade de ocorrências de grande precipitação a nível mundial, assim como um aumento do risco de seca da região do Mediterrâneo. Para além disto, prevê-se que os números de dias extremamente quentes venham a aumentar nos trópicos e que o maior aquecimento de extremos quentes ocorra nas regiões centro e leste da América do Norte, Europa central e do Sul, assim como toda a região mediterrânica.
Ao fim de tudo isto, é claro que se levanta a questão: mas como é que as alterações climáticas estão relacionadas com refugiados? Já lá chegaremos, mas primeiro é preciso abordar o impacto que as alterações climáticas têm e terão na Humanidade.
Instabilidade alimentar
Ora, com uma maior incidência de cheias, secas e vagas de calor, a produção agrícola atual tornar-se-á muito mais instável, levando a instabilidade alimentar: a falta de oferta de alimentos básicos face à grande procura dos mesmos. Mesmo limitando o aquecimento global a 1,5ºC, este resultará na redução da produção de alimentos como milho, arroz, trigo e outros cereais, com especial foco na África Subsaariana, Sudeste Asiático e América do Sul e Central. Focando nestas últimas regiões, estas são das regiões mais populosas, com grandes disparidades socioeconómicas internas. Assim, a redução da produção agrícola nestas regiões não só comprometeria o futuro das populações das mesmas, como também da população mundial.
Migrações humanas
Por fim, abordamos o tópico das migrações humanas. As alterações climáticas, ao ritmo que atualmente prosseguem, levarão à deslocação forçada de milhares (se não milhões) de pessoas. A estas se chamam de refugiados climáticos: pessoas que tiveram que abandonar a sua residência por motivo de catástrofe natural. Atualmente, a ONU classifica este tipo de migração não como refugiado, mas sim como migrante climático, pois, à data atual, as migrações de cariz climático são maioritariamente internas.
Olhemos para todas as partes da equação: temos alterações climáticas que levarão à alteração dos ecossistemas e sistemas urbanos; alterações essas que levarão a uma maior insegurança alimentar à escala mundial. Ora, somando estas partes, temos a combinação para a migração em massa de indivíduos por motivos de destruição física (cheias/secas) e/ou climáticas (por exemplo, uma pradaria tornar-se um deserto árido) e insegurança alimentar. Contudo, deve-se ainda referir que, ainda que muitos indivíduos possam migrar para regiões com maior segurança climática, as pessoas com deficiências e com doenças crónicas são as mais sensíveis, quer por questões clínicas, quer por questões sociais (toda a discussão deste tema levaria à redação de um artigo completamente distinto deste).
No que toca às regiões afetadas, ou seja, de partida de migrantes, Portugal, fazendo parte do Sul da Europa, constitui um país de risco. Todavia, este será um problema que afetará todas as regiões de forma distinta, mas de migrações entre si. Ora, a História relata eventos que levaram ao surgimento de refugiados, contudo, nenhum detém a mesma dimensão que as alterações climáticas têm. Ao contrário de um conflito militar, que se contém em certa região (ou regiões), as alterações climáticas são globais e cada região será afetada de forma distinta, mas, em conjunto, poderá ver-se uma crise de refugiados sem precedentes.
Assim, é mais que evidente a emergência das alterações climáticas e não se pode ficar indiferente. É necessário agir para garantir um futuro sustentável para todas as gerações neste planeta. O tempo é agora.

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