Em agosto de 2019, 181 CEOs de grandes empresas norte-americanas assinaram um manifesto onde se comprometiam a priorizar o serviço à sociedade em vez da maximização do valor acionista. Parte do foco era exatamente no papel que as suas empresas deveriam ter na defesa do ambiente, principalmente tendo em conta as previsões mais recentes que nos alertam para as graves consequências que as Alterações Climáticas terão para povos em todo o mundo.

Esta declaração foi encarada com um certo ceticismo. Os consumidores estão cada vez mais conscientes dos efeitos que o seu consumo tem na problemática do Aquecimento Global, podendo assim esta declaração ser interpretada como pouco mais do que um golpe de marketing, uma simples pratica de Green Washing. No entanto, considero que esta análise é apenas superficial. Estas empresas representam o modo de vida Capitalista e o efeito sobre o mundo em que vivemos.

Segundo o CDP Carbon Majors Report 2017, apenas 100 empresas são responsáveis por 71% das emissões de dióxido de carbono desde 1988. Porém, esta temática é quase sempre apresentada como um problema de consumo e raramente como um de produção. As famílias são obrigadas a repensar os seus hábitos e estilos de vida, enquanto que os acionistas recolhem lucros astronómicos, argumentando que reduções da oferta e mais regulação apenas levariam a recessões, numa certa chantagem económica. Será que os economistas já pararam para colocar a pergunta: “O PIB mundial pode crescer mais sem matar o planeta?”

Muitos podem acreditar que, conforme novas tecnologias se desenvolvam, estes efeitos se desvaneçam, ignorando os princípios de maximização da exploração de recursos derivados do princípio da maximização do lucro inerentes ao próprio capitalismo. Recursos não só naturais, como também humanos. Não só a exploração de camadas trabalhadoras, como diversos autores preconizam, mas também porque estas camadas mais baixas da sociedade serão os mais afetados pelas consequências ambientais imediatas.

Alguns exemplos são os refugiados climáticos, que, expostos a fenómenos extremos, com recursos cada vez mais escassos, deslocar-se-ão após os seus locais de origem se tornarem inabitáveis, ou então as camadas mais jovens, que, devido ao sentimento de impotência atual e pela previsão de um futuro negro, se sentem mais ansiosas e depressivas, levando a uns poucos episódios de “wake up call” como o de Greta Thunberg.

Isto tudo enquanto Elon Musk, CEO da Tesla, aposta milhões no seu projeto SpaceX, sonhando com a “fuga para Marte”, aproximando a nossa realidade de um cenário distópico de um filme como “Elysium”, onde os ricos se refugiam num anel construído à volta dum planeta Terra que já passou o ponto de inflexão.

A forma como o poder e o capital (não serão até sinónimos?) se concentram injustamente, tal como a orientação economista para o crescimento perpétuo do produto ao invés da satisfação das necessidades globais, não se coadunam a enfrentar este desafio mundial. Não há tempo para que tecnologias deus ex machina se tornem lucrativas. Manter o planeta habitável era para ontem.