Opinião de Susana Duarte
Também incluído no FEPIANO 39, publicado em Dezembro de 2019
No passado dia 1 de abril de 2019, entraram em vigor os novos passes sociais, que permitiram aliviar um pesado encargo no orçamento de muitas famílias portuguesas. Há quem consiga poupar, com esta decisão, por mês, cerca de 70 euros. Mas esta alteração tem também como objetivo diminuir a emissão de dióxido de carbono, incentivando a utilização dos transportes coletivos, em detrimento do carro particular.
Note-se que uma proposta, neste mesmo segmento, tinha sido já apresentada há alguns anos pelo Partido Comunista Português (PCP), mas apenas para a área metropolitana de Lisboa, onde contava com a aprovação dos 18 municípios que a constituem. O projeto acabaria por ser rejeitado na Assembleia da República com votos contra do Partido Socialista (PS), Partido Social Democrata (PSD) e Partido Popular (CDS-PP). A principal dúvida com esta medida residia na capacidade que o país teria, fundamentalmente nas áreas metropolitanas, para responder ao aumento da afluência de utilizadores destes transportes que era, evidentemente, esperada. Exatamente por isso, a introdução deste novo regime, em 2019, cerca de meio ano antes das eleições legislativas, gerou na sociedade portuguesa a perceção que esta decisão do governo se trataria de uma política meramente eleitoralista.
Segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatística), os passageiros que utilizaram o transporte ferroviário de abril a junho ascenderam a 43,1 milhões, verificando-se um aumento de 14,9%, face ao mesmo período do ano anterior. No transporte metropolitano, observou-se um crescimento de 8,5%, o que corresponde a 46,1 milhões de utilizadores do metro de Lisboa e 18,1 milhões do metro do Porto.
Como utilizadora diária do comboio que faz a ligação Porto – Marco de Canaveses (Linha do Marco) e da linha D do Metro do Porto, considero, sem dúvida alguma, que, após a introdução dos novos passes, não há eficácia nem eficiência nos serviços prestados por estes transportes, facto que se agrava drasticamente nas horas de ponta.
A Linha do Marco, que terminava em Caíde, foi este ano expandida até Marco de Canaveses (com a criação de cinco novas paragens), o que trouxe muitos benefícios para os habitantes desta cidade no que à mobilidade diz respeito. No entanto, não registou um reforço e/ou reajuste nos horários, nem a circulação de mais carruagens. Ou seja, mais utilizadores, alargamento da linha, passes mais acessíveis: o mesmo fluxo de comboios.
Depois da aplicação desta medida, António Costa respondeu a todos estes pontos, assegurando que o Estado está a investir para aumentar a oferta de transportes públicos, e, em particular atenção ao ferroviário, explica que comprar um comboio “não é como ir a um stand comprar um automóvel”. O governo veio, entretanto, tranquilizar a opinião pública, afirmando que já foram lançados concursos para adquirir novas composições para a Comboios de Portugal (CP) e contratados novos funcionários que terão a função de recuperar dezenas de carruagens paralisadas, há largos anos, por falta de manutenção. Anunciou ainda que está em processo a compra de novos navios para o transporte de passageiros entre as margens do Tejo.
Aguardo, portanto, que estas falhas sejam corrigidas para que possa ser possível retirar maior proveito desta nova medida e, assim, melhorar o bem-estar dos utilizadores, tendo consciência que mudanças a este nível levam o seu tempo.
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