Opinião de Francisca Duque
Também incluído no FEPIANO 38, publicado em Outubro de 2019
O desemprego e a abundância de produtos como impulsionadores da criação de novos negócios.
Caminhamos hoje por mais uma das transições que transformam a sociedade ao longo dos tempos. Novas conceções surgem, novas práticas, ocupações, tudo mudou em tão pouco tempo. Fala-se em Sociedade Robô, em Era Digital, Era do Computador; a sociedade passou a ser denominada, não por aquilo que é ou pelos seus feitos, mas a partir dos instrumentos que passou a utilizar para evoluir. Estes mecanismos de disseminação de informação e de ação fugaz, que decorrem das evoluções tecnológicas, permitiram que houvesse um aumento significativo a nível da criação avultada de variados produtos, bens e serviços, o que não se torna algo necessariamente positivo.
Numa sociedade consumista, onde as necessidades são satisfeitas no imediato e onde a panóplia de opções é alargada e homogénea, é extremamente difícil, num ponto de vista do vendedor, competir e obter uma vantagem absoluta. É precisamente neste contexto que falamos na necessidade de ser empreendedor. O empreendedor não é apenas o agente que idealiza, ou, ainda numa fase mais avançada, que implementa e/ou dinamiza a sua criação, mas sim o individuo que, para além de criatividade, precisa de aceitar riscos, confiar na própria capacidade de tomar decisões, que conhece o mercado de forma a percecionar a melhor oportunidade para agir de um ponto de vista estratégico, tem iniciativa e fundamentalmente está atento às preocupações, problemas e necessidades dos que o rodeiam. Só desta forma consegue aliar à inovação algo que lhe dê uma vantagem comparativa no mercado de concorrência.
Um exemplo ilustrativo deste conceito é Jeffrey Bezos. Caso não tivesse arriscado, ao mudar, aos 30 anos, da empresa onde trabalhava em Wall Street para criar o seu próprio negócio, não seria a inspiração que hoje é para milhares. Contudo, todos os seus passos foram meticulosamente pensados. Ao aperceber-se da evolução/revolução emergente da internet, aproveitou a oportunidade, procurou estrategicamente o local para a fixação da empresa, de modo a que este fosse livre de impostos estatais, e ouviu os problemas da sociedade, tornando-se assim no CEO da maior empresa online de vendas do mundo – a Amazon.
Por outro lado, se, no ponto de vista do criador/empregador, o empreendedorismo é um tema nevrálgico, resultante da abundância concorrencial, do lado do trabalhador, este cenário torna-se mais urgente e preocupante. Num contexto pós-crise, onde as tecnologias desenvolvem a educação e a tornam cada vez mais acessível, e onde a economia atual apresenta taxas de desemprego flutuantes que chegam a cerca de 7%, a questão do “ser empreendedor por necessidade” tona-se uma característica primária de qualquer jovem português. Vivemos num país cada vez mais qualificado, o que torna a decisão de escolher um trabalhador para um perfil de uma empresa/projeto cada vez mais difícil. É fundamental que estes jovens não tenham receio e que apostem em tornar-se empreendedores de sucesso. Como se depreende do texto, o empreendedor é por definição propenso ao risco e, por conseguinte, está permanentemente exposto às perdas. Logicamente os tempos são de prudência e os jovens devem ser alertados para os desafios do empreendedorismo e para as consequências dos fracassos. Por outro lado, a sociedade deve perspetivar os jovens e os eventuais fracassos como experiências rumo ao aprimoramento do indivíduo como empreendedor, de forma a permitir um recomeço sem estigmas e preconceitos, dado que há inúmeras histórias de fracasso com um futuro de sucesso.
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