Na temporada 2024-2025, a NBA igualou o recorde de 125 jogadores estrangeiros na liga. Segundo o vice-comissário da liga, cerca de 75% das pessoas que assistem à NBA vivem fora dos Estados Unidos

Fundada em 1946, como Basketball Association of America, que mais tarde se fundiu com a National Basketball League, em 1949, a National Basketball Association (NBA) é a principal liga dos Estados Unidos da América. Atualmente, é composta por 30 franchises, divididos equitativamente entre as conferências Leste e Oeste. 

Segundo a Statista, durante a temporada 2023/24, as equipas geraram uma receita total de 11,34 mil milhões de dólares americanos. O que começou por ser uma forma de ocupar as noites vazias dos pavilhões do hóquei no gelo tornou-se numa das cinco ligas mais valiosas do mundo.

Existem várias razões para esta evolução da liga, como a expansão do número de equipas, as mudanças das regras do jogo, o marketing agressivo e a forte presença nas redes sociais. No entanto, o principal fator deste crescimento económico foi, sem dúvida, a internacionalização da liga.

“a NBA fez um acordo com a Amazon, NBC e Disney […] num valor de 76 mil milhões de dólares”

A NBA apenas atingiu uma escala global algum tempo depois do seu início. Só no final dos anos 80 e início dos anos 90 é que se pode falar verdadeiramente de internacionalização. Para tal, foi fundamental o aparecimento de um comissário visionário em 1984. David Stern assumiu a difícil tarefa de transformar a liga num sucesso nacional e além-fronteiras.

Em 1988, a NBA e a FIBA chegaram a um acordo que possibilitou aos jogadores da liga participarem em competições internacionais. Assim, nos Jogos Olímpicos, as equipas americanas passaram a ser constituídas por jogadores da NBA. A primeira vez foi em 1992, onde a “Dream Team” venceu todos os jogos por diferenças superiores a 30 pontos. Além disso,  foi permitido que jogadores estrangeiros representassem os seus países e, simultaneamente, fizessem parte da melhor liga de basquetebol do mundo.

A esta altura, o leitor já percebeu que a internacionalização da liga se desdobra em dois aspetos: dentro do campo e fora do campo.

Concentremo-nos na internacionalização fora do campo. O marketing intensivo inicialmente usado apenas a nível nacional passou a ser direcionado para o público global. A promoção da carreira de Michael Jordan, considerado por muitos como um dos melhores atletas de todos os tempos, foi uma peça-chave nesta estratégia. O impacto global de Jordan atraiu fãs de todo o mundo que acompanharam os dois “3Peat” (tricampeonatos) conquistados nos anos 90. A audiência televisiva nessa década atingiu valores históricos.

Para alcançar essa visibilidade internacional, David Stern estabeleceu valiosos contratos para a venda de direitos televisivos para o resto do mundo. Por exemplo, este ano, a NBA fez um acordo com a Amazon, NBC e Disney acerca dos direitos de transmissão, num valor de 76 mil milhões de dólares e com uma duração de 11 anos. Além disso, a NBA criou a plataforma NBA TV, que permite aos fãs de todo o mundo assistir a jogos e aceder a conteúdos exclusivos através do telemóvel.

A NBA realiza ainda jogos amigáveis em diversos países, principalmente no verão. Nestes jogos os franchises da liga defrontam-se entre si ou competem com equipas locais. Em outubro deste ano, por exemplo, realizaram-se dois jogos amigáveis em Abu Dhabi entre os últimos dois campeões da NBA, Nuggets e Celtics.

Neste momento, a NBA possui uma equipa no Canadá, os Toronto Raptors, vencedores da liga em 2019. No entanto, a NBA planeia continuar a expandir-se, com possíveis novos franchises na Cidade do México, crescendo para mais um país, e em Seattle, cidade que já foi casa para os Supersonics (atuais Thunder). Esta expansão pode atrair novos públicos e reforçar a presença global da NBA.

As redes sociais também desempenharam um papel crucial na internacionalização da liga nos anos 2000 e 2010. Ao contrário de outras competições, a NBA realiza jogos quase diariamente durante a temporada regular, o que permite uma partilha de conteúdo assídua em plataformas como o Instagram, atingindo por vezes mais de 30 publicações em dias de jogo. Através de posts que incluem as melhores jogadas, resultados e estatísticas, a NBA consegue envolver os fãs, destacando rivalidades entre jogadores como LeBron James e Stephen Curry, protagonistas da última década.

Conclui-se, portanto, que a internacionalização fora do campo trouxe inúmeros benefícios, incluindo o aumento da audiência, a venda de merchandising da NBA e o aumento dos patrocínios estrangeiros, contribuindo para um crescimento económico substancial da liga.

Agora, vamos analisar a internacionalização dentro de campo. Como já referido, só a partir de 1988 é que os jogadores estrangeiros começaram a chegar à NBA em maior número. Assim, em 1992, o Dream Team não só evidenciou a superioridade dos jogadores norte-americanos, como também a necessidade dos atletas estrangeiros jogarem nesta liga para serem capazes de competir ao mais alto nível. 

O primeiro jogador estrangeiro a ganhar os prémios MVP da temporada regular e das finais foi Hakeem Olajuwon, em 1993-94. O nigeriano, juntamente com Dikembe Mutombo e Manute Bol, abriram caminho para a presença atual de 17 jogadores africanos na liga, incluindo Joel Embiid, MVP em 2023.

Em 2002, o chinês Yao Ming, com os seus impressionantes 2,29 metros de altura, foi a primeira escolha do draft deste ano, contribuindo para o fortalecimento das relações entre os Estados Unidos e a China. Aponta-se ainda para os japoneses Rui Hachimura e Yuki Kawamura que se destacaram nos últimos Jogos Olímpicos.

A nível europeu, pode-se destacar antigos jogadores, como Dirk Nowitzki, Paul Gasol e Tony Parker. Atualmente, três dos cinco melhores jogadores da liga são europeus: Nikola Jokic, Giannis Antetokounmpo e Luka Doncic. Nos Jogos Olímpicos deste ano, a Sérvia de Jokic e a França de Victor Wembanyama mostraram aos “The Avengers” que a Europa está mais preparada do que nunca para enfrentar os Estados Unidos.

“na época passada, Neemias Queta tornou-se no primeiro jogador português a ser campeão da NBA”

Por último, além de ser o único português na história da liga, na época passada, Neemias Queta tornou-se no primeiro jogador português a ser campeão da NBA.

Embora a internalização tenha expandido o alcance da liga, levando o público estrangeiro a acompanhar cada vez mais a liga por se sentir representado, também trouxe desafios. Assiste-se a uma diminuição, ano após ano, da audiência americana uma vez que os melhores jogadores, atualmente estrangeiros, parecem não cativar tanto este público.