Considerada uma das mais grandiosas construções e detentora do título de monumento europeu mais visitado, com cerca de 12 milhões de visitantes anuais (dados de 2017), a Catedral de Notre Dame, situada no coração da cidade de Paris, sofreu um dos maiores incêndios que o mundo viu acontecer nos últimos tempos. 

Património Mundial da Humanidade desde 1991 e como estilo arquitetónico preponderante o gótico, demorou cerca de 200 anos a ser erigida. A sua construção inicia-se em 1163, a mando do bispo Maurice de Sully, uma vez que a igreja românica ali erguida era, no seu parecer, pouco digna dos novos valores que se estavam a estabelecer na época, sendo então esta última demolida.

Muitos foram os momentos históricos que passaram pelos olhos deste monumento europeu. Foi nesse local que muitos reis oraram e celebraram as suas glórias. Durante a revolução francesa, esteve encerrada, e as 28 estátuas da Galeria dos Reis, que representavam personagens bíblicas e monarcas, foram decapitadas. Já em 1804, Napoleão Bonaparte é coroado como Imperador de França, recusando-se ser coroado pelo Papa, uma vez que queria que ficasse bem claro que o poder soberano era representado pelo Governo e não pela Igreja. Em 1909, nesse mesmo local, Joana D’Arc, figura ilustre da Guerra dos Cem Anos, é beneficiada. Em 1918, os sinos da catedral entoam em modo de celebração a saída vitoriosa da Grande Guerra, celebrando, igualmente, a libertação francesa, em agosto de 1944. O monumento parisiense ganhou ainda mais relevo a nível internacional, sobretudo à publicação do livro de Victor Hugo denominado de “O Corcunda de Notre Dame” e da sua adaptação cinematográfica pelos estúdios da Disney. O então símbolo da igreja católica tornou-se representação da entidade nacional. 

Mas, é no final da tarde do dia 15 de abril deste ano, que a Europa inteira parou para observar melancolicamente a queda do pináculo da Catedral. Este incêndio resultou em enormes perdas monumentais. Para além do pináculo, foram ainda parcialmente destruídas algumas rosáceas e tetos. Ainda assim, foram possíveis recuperar de forma intacta verdadeiras réquias, entre elas, manuscritos medievais, o Sacrário, a coroa de espinhos de Cristo e um pedaço da cruz na qual foi crucificado, sendo estas duas últimas peças compradas pelo rei Luís IX, na época, por um valor exorbitante. 

Até à data, ainda não são conhecidas as causas do acidente, no entanto, são apontadas duas possíveis razões para o desastre. A imprensa internacional avança com a possibilidade de um curto circuito ligado aos sinos eletrificados da Catedral ou de beatas deixadas descuidadamente pelos trabalhadores nos andaimes, visto que o edifício estava a ser alvo de obras de restauro. 

Emmanuel Macron, presidente de França, prometeu, numa comunicação feita ao país, que a reconstrução da Catedral estaria concluída em 5 anos, apelando ainda ao povo francês para transformar a catástrofe numa oportunidade. Já o primeiro ministro, Édouard Philippe, anunciou um concurso internacional de arquitetura para a reconstrução do pináculo do monumento. Este concurso tem como principal objetivo aliar a corrente modernista a outras correntes arquitetónicas presentes na obra. O fundo de restauro conta, atualmente, com 850 milhões de euros.

E assim se vão somando os dias após a tragédia, enquanto se prepara a reconstrução deste tão importante monumento, de forma reparar os danos causados pelas mãos de Vulcano, não só na estrutura, mas também nos corações de todo o mundo.