Numa noite fria em dezembro de 2016, tive o prazer de estar presente na sessão apresentada pelo Cineclube de Economia em que era exibido o filme Garden State, realizado e protagonizado por Zach Braff. Não era a primeira sessão a que ia, aliás, estava cada vez mais estabelecido um ritual de visitar a sala de 260 para umas horas de aventuras cinematográficas, durante o meu segundo ano de faculdade. Apesar de pouco povoadas, estas sessões eram a personificação da expressão “poucos, mas bons” visto que o amor pela sétima arte era palpável naquela sala. O que nessa noite não sabia é que seria a última sessão do Cineclube a que iria durante um longo período.

O Cineclube que conheci como estudante da FEP parecia-me um projeto nascido em 2009, visto que essas eram as datas marcadas pela última encarnação do Cineclube. Porém, e para espanto meu, a sua história remonta à algures na década de 80, sendo que a sempre marcada por uma natureza start-and-stop. A história do Cineclube de Economia está marcada por constantes avanços e recuos, por muitos períodos contrastantes de alta intensidade, cheios de muitos e ambiciosos ciclos de cinema com algumas das mais importantes obras desta forma de arte, com outros períodos de um silêncio de rádio, que por vezes se estendia durante uma série de anos. E é neste silencio que nos encontramos, desde essa sessão em 2016. Só para dar um pouco de contexto, desde essa data muitos filmes já entraram para a história do cinema com a honra de serem clássicos instantâneos como por exemplo Parasite, Green Book ou São Jorge.

Em março de 2018, o silêncio do Cineclube foi brevemente interrompido por um pequeno suspiro de esperança, quando este anunciou estar sobre a alçada da equipa do jornal da FEP. Nesse mesmo mês, por coincidência (para quem acredita nessas coisas) ou não, passaria eu também a fazer parte da equipa do Fepiano.

Porém, o próprio Fepiano passou por um período atribulado antes de poder dedicar as suas forças a reativar o Cineclube de Economia, entrando também num involuntário silêncio. Em abril de 2019, o Fepiano reinventa-se para a organização que hoje conhecemos como FINK, FEP Information News & Knowledge, um grupo que a partir daquele momento agrega duas instituições de rica história académica. Mas enquanto que a atividade regular regressou em força ao jornal, o mesmo não se podia dizer do Cineclube…

Em conversa com alguns colegas e até com docentes da nossa faculdade, não deixava sempre de expressar alguma frustração com a reduzida oferta cultural das associações estudantis da FEP. Estas muitas vezes estão focadas em emular ou até ligar os estudantes diretamente ao mundo empresarial, e as poucas de caracter cultural tendendo sempre uma ligação mais praxística, algo que quero esclarecer que não é nem bom nem mau intrinsecamente.

Contudo, hoje, não vos escrevo como um aluno desiludido com a falta de oferta cultural dentro das inúmeras associações estudantis pertencentes ao tecido académico da Faculdade de Economia do Porto. Hoje, escrevo-vos como um representante da equipa que assume a responsabilidade de reacender a fénix que é o Cineclube de Economia e, por consequente, a chama da paixão pela sétima arte dentro da comunidade fepiana.

Sabemos que o caminho não é fácil. Não só teremos que construir uma equipa com um objetivo de continuidade de forma a não voltarmos a velhos hábitos e quebrarmos de vez com o ciclo que parece assombrar a história deste projeto. Aqui só haverá espaço para ciclos cheios de bons filmes.

Teremos também de ter em conta a situação pandémica que não nos permite estar fisicamente juntos para disfrutarmos juntos das histórias que gracejam o silver screen. Mas isso só nos motiva mais para, quando as condições estiverem reunidas, voltarmos em força para vos trazer os filmes que provoquem a discussão, o debate e o diálogo dentro da comunidade académica dos temas e das mensagens das fitas. O nosso objetivo é formar a nossa própria comunidade que possa oferecer um novo ponto de vista ao pensamento dentro da nossa faculdade.

Este obstáculo não significa que iremos estar parados e calados. Tal como o resto do mundo durante estes estranhos tempos, iremos desenvolver a nossa ligação à comunidade usando como meio privilegiado as nossas plataformas nas redes sociais, com as melhores sugestões cinematográficas para enchermos as nossas vidas.

Por último, e talvez mais importante, deixar claro para os estudantes da FEP que, independentemente da natureza matemática do ensino das nossas áreas, pode e deve haver um espaço cultural dentro destas paredes de betão, porque a vida é mais do que números. A Vida é um Filme!