Tiago Rodrigues
Também incluído no FEPIANO 44, publicado em Outubro de 2021
No passado 26/09/2021, realizaram-se as eleições alemãs, dando uma vitória inesperada ao SPD, partido liderado por Olaf Scholz. Será o Social-Democrata, que fez campanha assumindo-se como o herdeiro de Angela Merkel, capaz de continuar o legado de uma das líderes mais importantes das últimas décadas?
Estas eleições foram uma vitória do SPD e dos Verdes, tendo estes últimos se consagrado a terceira força política nacional. Apesar da perda de 50 deputados, não há uma derrota clara da CDU/CSU enquanto partido, sendo este insucesso explicado pela inexistência de um sucessor claro para Merkel, e não pela rejeição do programa partidário. O partido liberal, FDP, ampliou a sua bancada parlamentar, somando 92 deputados. O AfD, partido nacionalista, manteve a sua presença no parlamento, obtendo 83 mandatos. O grande derrotado da noite eleitoral foi o Die Linke, partido socialista herdeiro do SED (antigo partido único da Alemanha de Leste), que perdeu praticamente metade da sua bancada.
Foram atribuídos 735 assentos parlamentares, sendo precisos 368 para formar governo. As coligações mais prováveis são SPD-FDP-Verdes (coligação semáforo) ou CDU/CSU-FDP-Verdes (coligação Jamaica), liderada por Armin Laschet. Os Verdes e os Liberais, juntos, têm a capacidade de decidir o novo Chanceler, já que Laschet e Scholz rejeitaram a possibilidade de um novo bloco central. Uma coligação entre as três forças de esquerda é uma impossibilidade, visto que não tem assentos suficientes para uma maioria absoluta (SDP-Verdes-Die Linke unidos possuem apenas 363 mandatos).
Estas são as eleições mais importantes para a Alemanha dos últimos 20 anos (e provavelmente, também para a restante União Europeia). Apesar de lhe serem atribuídos erros, não existiu um político europeu tão unânime e influente como Merkel. Esta liderou a Alemanha durante 16 anos enquanto Chanceler, tendo conseguido taxas de crescimento respeitáveis, taxas de desemprego bastante baixas e mantendo a Balança Corrente acima dos 5.5% do PIB. Conhecida pelo seu pragmatismo, conseguiu manter intacta a zona euro durante a crise de 2010; negociou com Putin durante a ocupação da Crimeia em 2014; liberalizou as relações comerciais entre a Alemanha e a China; e manteve firmes as relações entre a Alemanha e os Estados Unidos, mesmo durante a presidência de Trump.
O futuro Chanceler alemão terá alguns dilemas pela frente relativamente à condução da política interna: uma economia mais verde ou a continuação de uma indústria alemã pujante, mas poluente; como solucionar o facto da Alemanha ter uma economia demasiado dependente das exportações; de que forma diminuir a pobreza e o desemprego jovem; etc. Tem também algumas escolhas difíceis relativamente à Europa, por exemplo, intensificar ou diminuir o apoio aos fundos europeus; continuar ou não o aprofundamento do projeto político Europeu.Cabe agora aos líderes dos Verdes e do Partido Liberal optarem por um Chanceler. Enquanto as negociações se desenrolam, os alemães, assim como os restantes europeus, aguardam pela escolha de um sucessor à altura do legado de Angela Merkel.

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