Maria Carvalho
Também incluído no FEPIANO 54, publicado em Janeiro de 2025
Dar o primeiro passo na vida universitária pode ser uma experiência quer enriquecedora quer desafiante. Esta nova etapa pode significar uma saúde mental mais debilitada pelo que é urgente que a comunidade académica e o governo tomem medidas de prevenção.
A saúde mental entre os estudantes universitários é uma problemática cada vez mais falada e discutida, visto ter sido unanimemente reconhecido que as doenças mentais influenciam negativamente o rendimento escolar dos alunos que delas sofrem, traduzindo-se num menor nível de conhecimento adquirido. Consequentemente, estas perdas impactam não só o estudante em particular mas também a sociedade em que este se insere. Um dos momentos que pode ser determinante para aumentar a incidência de problemas mentais nos estudantes corresponde à entrada no ensino superior.
“estas perdas impactam não só o estudante em particular mas também a sociedade”
A entrada num novo ciclo de estudos é sinónimo de alegria e curiosidade mas, ao mesmo tempo, traduz um infinito número de perguntas sem resposta que assola a mente de quem embarca nesta nova jornada. As dúvidas sobre se serão capazes de fazer amigos, de se integrarem na nova instituição de ensino, de criarem uma nova rotina noutra cidade ou se irão gostar do curso escolhido são alguns dos pontos de interrogação que originam ansiedade, nervosismo e medo do que aí vem. Desenvolver características como a gestão eficiente do tempo e o espírito crítico é essencial para encarar o desafio com que se deparam. É necessário gerir aulas, horas de estudo, realizar trabalhos de pesquisa e, frequentemente, coordenar atividades extracurriculares. Criar uma rotina e fomentar o autoconhecimento são ferramentas que impulsionam a produtividade e o bem-estar do estudante. O ambiente académico de maior exigência é pautado por uma crescente autonomia que pode ser intimidante. Um estudo recente, coordenado pela Universidade de Évora, concluiu que quase 23% dos estudantes inquiridos em seis universidades portuguesas foram diagnosticados com uma doença mental. Ao mesmo tempo, fatores como rendimento, situação socioeconómica e alojamento estudantil fazem parte das preocupações dos alunos do ensino superior português. Observando este paradigma, a saúde mental ganhou uma maior atenção por parte da comunidade educativa e dos agentes políticos, nos últimos anos. Deste modo, as instituições de ensino superior e o governo português têm vindo a adotar medidas de prevenção e minimização dos impactos negativos subjacentes a esta problemática. Seguem-se algumas das medidas aplicadas pelas instituições de ensino superior e pelo governo que se assumem como parte significante da solução para reverter ou atenuar esta situação. Implementação de programas de mentoria e atividades de integração: alocação de estudantes do primeiro ano a um estudante que frequenta um ano superior do mesmo ciclo de estudos. O seu intuito principal consiste numa melhor orientação dos novos estudantes e no esclarecimento das suas dúvidas ao longo do ano.
“a saúde mental ganhou uma maior atenção por parte da comunidade educativa e dos agentes políticos”
Incentivo à participação em associações académicas e no desporto universitário: através de um crescente estímulo à frequência neste tipo de atividades, os estudantes têm a oportunidade de desenvolver capacidades essenciais para a sua formação pessoal e interpessoal, promovendo a criação de amizades e interações sociais.
Realização de workshops de cariz educativo e formativo: a oferta e dinamização de formações sobre temas centrais como gestão de tempo, métodos de estudo ou organização tem sido uma aposta das universidades e politécnicos com vista a suavizar o impacto da transição entre ciclos de estudo na saúde mental dos jovens.
Cheque-Psicólogo: medida adotada pelo governo português que contempla até 12 consultas de psicologia gratuitas por estudante, permitindo um acompanhamento especializado dos alunos. Esta proposta destina-se a apoiar estudantes que apresentem sintomas de depressão e ansiedade, problemas sociais ou académicos.
Integradas na proposta de Orçamento de Estado para 2025, no âmbito do alojamento estudantil, é planeado um reforço de 13300 camas até 2025 e a conclusão de 62 projetos de residências universitárias. Adicionalmente, este documento propõe o alargamento das parcerias já realizadas para a “disponibilização de camas para estudantes em Pousadas de Juventude e alojamentos do INATEL”.
Alargamento do acesso à bolsa para os trabalhadores-estudantes: isenção do rendimento de trabalhador-estudante para o cálculo do rendimento por pessoa do agregado familiar, desde que não ultrapasse, num ano, o valor de 14 salários mínimos nacionais, o que se irá refletir num maior rendimento e melhoria das condições socioeconómicas dos jovens abrangidos.
Implementação do novo programa para a Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior, que consiste num programa de financiamento que promove a implementação de projetos na área de saúde mental e bem-estar, cujas medidas particulares são: apoiar as instituições de ensino superior na criação e consolidação de mecanismos de apoio psicológico aos estudantes; Incentivar projetos que privilegiem abordagens preventivas que desenvolvam nos estudantes competências sócio-emocionais; Criação de estratégias de intervenção precoce que procurem evitar o desenvolvimento de patologias de maior gravidade; Aumentar as relações entre as estruturas existentes nas instituições de Ensino Superior e no Serviço Nacional de Saúde; Apoiar iniciativas cujo foco sejam grupos de estudantes vulneráveis.
Lidar com o desconhecido pode ser aterrorizador, mas encarar uma nova etapa como um recomeço positivo é a chave para manter e conservar perspetivas otimistas. No entanto, nem sempre pensamentos positivos são suficientes, pelo que é essencial pedir ajuda e ter à disposição da comunidade estudantil os mecanismos necessários para responder a este problema e assim privilegiar a qualidade de vida dos estudantes do país. Deste modo, a implementação destas e de outras medidas tornam-se urgentes e essenciais nos paradigmas da atualidade e do futuro.
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