As eleições terminaram, ainda assim, certezas do futuro do governo português são poucas e a instabilidade política está na cabeça de todos.

A Aliança Democrática, que ganhou as eleições, vê poucas possibilidades de tomar decisões uma vez que tem oposição forte em ambos os lados do espectro político e mesmo que se juntasse ao único partido com o que dá abertura para negociar, a Iniciativa Liberal, continuava a não haver uma maioria absoluta. Vimos a dificuldade de nomear o Presidente da Assembleia da República e ninguém sabe se um orçamento retificativo será aprovado o que nos leva a questionar se o novo governo tem possibilidades de finalizar 4 anos de mandato.

Haver oposição é algo natural e na maioria dos casos é bastante necessário para garantir que todas as perspetivas dos eleitores são representadas, porém devemos questionar-nos até que ponto deve esta resistir ao governo, sendo que, por um lado devem manter-se firmes na defesa dos interesses dos seus ideais, por outro devem assegurar a estabilidade e progresso do país, viabilizando o necessário para que o estado possa agir. Em que medida é justo que o Partido Comunista estivesse já a planear uma moção de rejeição antes mesmo do final das eleições? E até onde é razoável que o Bloco de Esquerda tente planear uma união com todos os membros da esquerda no parlamento para tentar inviabilizar um governo de direita recusando qualquer orçamento retificativo, independentemente do conteúdo deste, quase apropriando-se da palavra “democracia”?

Portugal está a assistir a uma mudança com o surgimento de uma terceira força política, o que desestabiliza os métodos que os partidos conheciam, assim sendo vale a pena comentar a abordagem do Chega após as eleições. Embora o desejo da AD de tentar negociar votos secretamente seja, de facto, de mau caráter, existe o cenário em que a verdadeira intenção do Chega fosse de criar mediatismo e manterem-se a ser visto como antagonista do governo, dado que pelo seu crescimento vir do sentimento de revolta este poderia diminuir se houvesse colaboração com o governo, ainda assim poderia ter tido a perspetiva de que os portugueses conseguiriam implicitamente entender os acordos de votação, se estes tivessem acontecido, e que assim evitariam o entendimento entre a AD e o Partido Socialista, que até à data diziam ser os seus maiores rivais.

“Tanto o partido vencedor como a oposição devem aprender a dialogar e ceder em certos pontos”

Nas últimas eleições grande parte das questões levantadas nos debates relacionavam-se com a governação e alianças em detrimento das ideologias económicas e sociais entre outras, sendo estes ideais mais relevantes para o progresso do país. A estabilidade do governo é algo importante pois na sua ausência as expectativas da população e das empresas tornam-se negativas e a imagem do Estado perde força internamente e internacionalmente, após 2 eleições antecipadas consecutivamente seria danoso manter esta nova tradição que cria incertezas. Posto isto, tanto o partido vencedor como a oposição devem aprender a dialogar e ceder em certos pontos, de forma a convergir várias opiniões e assegurar solidez das instituições ao invés de procurarem esquemas que levam a que apenas seja possível governar com geringonças e maiorias absolutas.