Maria Lamego
Também incluído no FEPIANO Especial 25 de abril, publicado em Abril de 2024
A Revolução do 25 de abril, também conhecida como Revolução dos Cravos, foi, sem dúvida alguma, um dos eventos que mais marcou a sociedade portuguesa, com efeitos que se prolongam até aos dias de hoje, sobretudo no que toca à liberdade de expressão.
Antes do 25 de abril, Portugal encontrava-se, sob a liderança de António de Oliveira Salazar, num regime autoritário do Estado Novo, caracterizado por uma forte centralização do poder, pela censura e por grandes restrições à liberdade de expressão.
Os meios de comunicação, como a imprensa, a rádio e a televisão, estavam sujeitos a um forte controlo estatal, sendo estritamente proibido qualquer conteúdo crítico em relação ao governo. Os cidadãos também eram alvo de vigilância constante, sendo a formação de partidos políticos alternativos e convívios em grandes grupos proibidos. Quem ousasse desrespeitar tais regras seria punido, muitas vezes resultando em prisões arbitrárias e diferentes formas de tortura. A PIDE, a polícia do Estado Novo, era conhecida pela sua atuação ampla e brutal com suspeitos de conspirar contra o governo, conduzindo a diferentes formas de repressão, detenções, interrogatórios violentos e tortura.
É, então, percetível o clima de medo e opressão por que passava a sociedade portuguesa durante este período, com um grande número de pessoas a viver em constante vigilância e intimidação por parte do Estado. Assim, a data do termo do regime ditatorial significou uma transfiguração, não apenas da organização política do país, mas também do significado de ser português e a liberdade que lhe está associada é celebrada até aos dias de hoje.
Uma das primeiras medidas tomadas pelo novo governo foi o fim da censura e a garantia da liberdade de expressão, pelo que rádios e jornais puderam operar livremente, permitindo uma livre circulação de informações e opiniões.
“As pessoas podiam andar nas ruas sem temer que um gesto impreciso se traduzisse em longos interrogatórios, as conversas abandonaram o tom de sussurro e puderam, finalmente, partilhar pensamentos e opiniões.”
As pessoas podiam andar nas ruas sem temer que um gesto impreciso se traduzisse em longos interrogatórios, as conversas abandonaram o tom de sussurro e puderam, finalmente, partilhar pensamentos e opiniões. Para além disso, surgiram as eleições livres, em que os cidadãos portugueses podiam, de facto, escolher os seus representantes de forma individual e justa.
Atualmente, a liberdade de expressão é um valor fundamental e característica central da democracia e manifesta-se de diversas formas, seja na defesa pública de causas sociais e de minorias ou na sátira e humor em comentários políticos e socias em programas de televisão, revistas e sites da internet. Antes do 25 de abril tudo isto seria uma quimera, um sonho longínquo.
A emoção daqueles que experienciaram a revolução foi passada de geração em geração, unindo os portugueses que a mantêm viva e a arder nos corações. Todos os dias agradecemos pela coragem dos que seguravam um cravo na mão. Guerreiros, corajosos.
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