O desempenho de Portugal na literacia financeira parece divergente consoante os estudos e a opinião política. Qual a importância deste tema na sociedade?

Segundo um inquérito do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), em 2023, Portugal ficou em 13.º lugar entre 39 países, com resultados acima da média em conhecimento, atitudes e comportamentos financeiros. No bem-estar financeiro, ocupou a 7.ª posição, destacando-se na resiliência financeira e na perceção do próprio bem-estar.

Contudo, outros estudos mostram um cenário diferente. De acordo com a Bruegel, Portugal tem o segundo pior desempenho da União Europeia, com apenas 42% dos inquiridos a acertar três de cinco perguntas básicas sobre literacia financeira, um valor muito abaixo da média europeia. Além disso, um relatório da OCDE revela que, entre 2020 e 2024, a literacia financeira dos portugueses cresceu apenas 1%, o que mostra um progresso muito lento.

“entre 2020 e 2024, a literacia financeira dos portugueses cresceu apenas 1%

Com dados tão divergentes, importa questionar: estará Portugal realmente no bom caminho ou ainda há muito trabalho a fazer para melhorar o conhecimento financeiro da população?

Certamente que a segunda parte da pergunta anterior parece ser a mais correta quando posta em prática. Mas a própria opinião político-partidária é divergente e para tal basta observar o Projeto de Resolução n.º 952/XV/2, proposto pela Iniciativa Liberal a 21 de dezembro de 2023, que recomendava ao Governo que este desse “a preponderância devida à literacia financeira em contexto escolar”. A votação não podia ter sido mais divergente: os partidos de direita (IL, CH, PSD) e PAN votaram a favor, enquanto que PCP e Livre se abstiveram e o PS e BE decidiram votar contra. Com a maioria absoluta à época do PS, a proposta foi, portanto, chumbada.

Na ótica dos partidos que votaram favoravelmente a este projeto de resolução, não existe um ensino capaz de dar conhecimentos básicos, tais como: o poder da inflação, a diferença entre taxas médias e marginais, o cálculo de taxas de juros nominais e reais, taxas de variação, entre outros temas. Já do lado dos partidos que votaram contra, consideram que a literacia financeira já existe nos programas escolares, lecionada nas aulas de Cidadania e, por esse motivo, consideraram inadequada esta proposta, que se refletia como “um incentivo de campanha para a direita”.

Na altura, a votação da proposta foi claramente controversa e se decidirmos colocar as ideologias à parte, é necessário reconhecer que a literacia financeira tanto tem de ser de esquerda como de direita. A marginalização deste tema apenas reflete cobardia por marketing político e jogos de interesses e um completo desfasamento da realidade. 

Uma população com boa literacia financeira consegue tomar decisões mais informadas sobre poupança, investimentos e empréstimos, áreas que influenciam diretamente o dia a dia das famílias. Com mais conhecimento, há menor risco de decisões impulsivas e maior capacidade para fazer escolhas que tragam benefícios a longo prazo. Além disso, compreender conceitos financeiros ajuda a prevenir fraudes e a gerir melhor o rendimento. Tudo isto contribui para uma situação financeira mais equilibrada, promovendo o bem-estar, a qualidade de vida e, no conjunto, uma economia mais forte e estável. Embora haja estudos e opiniões políticas divergentes, a verdade é que a luta pela crescente literacia financeira da população deve ser sempre uma constante.