Manuel Soares
Também incluído no FEPIANO 49, publicado em Agosto de 2023
O conceito de inflação, isto é, a subida generalizada do preço médio dos bens e serviços, faz aumentar ou diminuir o poder de compra dos consumidores, juntamente com outras variáveis. De uma forma geral, assume-se que uma taxa de inflação até 2% é o ideal, no entanto, neste momento, tal meta não se verifica em Portugal.
É possível combater a subida generalizada do preço médio dos bens e serviços através de diferentes métodos, estando estes relacionados com as diferentes ideologias dos partidos políticos.
A inflação aumenta porque o aumento de produção de moeda não é acompanhado pelo aumento da produtividade, isto é, com a moeda a aumentar mais do que a riqueza (produto), o valor da moeda irá diminuir, aumentando a taxa de juro, o que incentiva ao aumento dos depósitos nos bancos, mas não ao investimento privado.
Tendencialmente, partidos de esquerda tendem a priorizar o combate ao desemprego, enquanto que partidos de direita priorizam o combate à inflação, pelo que é mais normal a inflação ser mais alta em países com partidos de esquerda no governo. Isto não significa um tipo de política seja bom e outro mau, são formas de governação distintas.
Apesar de, na minha opinião, os Estados deverem priorizar o combate à subida dos preços através do incentivo à maior produtividade e investimento privado, através, por exemplo, da redução do IRC, Estados mais interventivos na economia poderão ter maior facilidade em ajudar os mais desfavorecidos a aliviarem a deterioração do seu poder de compra através das transferências sociais e subsídios concedidos à população ou da diminuição dos encargos para quem tenha rendimentos mais baixos.
Por outro lado, pode haver uma deterioração do poder de compra sem que haja uma grande variação dos preços, por exemplo, se os salários da população diminuem e os preços dos bens se mantêm, a população terá menos recursos para gastar, isto significa que não poderá comprar tantos bens como acontecia anteriormente, ou seja, terá de escolher entre determinados produtos que antes conseguia obter. As necessidades são as mesmas, de uma maneira geral, infinitas, mas os recursos são escassos.
Uma outra forma de a inflação e a política se relacionarem está relacionada com fatores exógenos ao país. No Mundo cada vez mais globalizado em que vivemos hoje, determinado acontecimento numa parte do globo afetará, mais tarde, as outras partes. Muitas vezes, estes acontecimentos estão relacionados com fatores políticos, como guerras e conflitos armados. Dando um exemplo, estando as relações económicas entre os países relacionadas com o princípio da vantagem comparativa, isto é, quem é mais eficiente (em termos de custos e de tempo) a produzir um bem, dedica-se a produzi-lo e exportá-lo para outros países que irão produzir outros produtos, se uma nação que nos forneça um bem ou serviço ao preço mais competitivo do mercado entrar num conflito armado e deixar de ser capaz de produzir total ou parcialmente o que antes produzia, iria obrigar-nos a procurar uma alternativa. Este conflito provocaria uma subida da inflação no nosso país porque, provavelmente, o país onde passaríamos a procurar esse bem seria menos eficiente na produção do mesmo, ou seja, o custo marginal de produção seria maior, isto é, as empresas ou o Estado teriam de gastar mais recursos.
Por outro lado, pode haver outras medidas relacionadas com a produção que provoquem um aumento da inflação, são as chamadas quotas de produção. Se, por algum motivo, o governo impuser uma quota de produção, isto é, um limite máximo de produção, a tendência é que o preço desse bem aumente e essa quota gera um excesso de procura. A aplicação deste tipo de medidas está, muitas vezes, relacionada com a proteção dos produtores. Isto significa que, na visão do Estado, com a aplicação das quotas o rendimento dos produtores aumenta, pois sem a aplicação de um limite máximo de produção iriam vender a um preço menor cada quantidade produzida, porque os consumidores não estariam dispostos a pagar tanto por aqueles produtos com uma oferta mais variada. Este tipo de medidas, em grande parte, é aplicado em produtos agrícolas porque, em tempos passados, muitos agricultores desperdiçavam o excesso de produção para poderem vender o que produziam a um preço mais competitivo.
Existem outras medidas inflacionistas, que existem para poderem ajudar a proteger o rendimento dos produtores, como é o caso da obrigatoriedade de preços mínimos em determinados bens. Esta política de intervenção na economia tem essa vantagem, mas, por outro lado, vai permitir que menos pessoas tenham acesso a esses bens, quando comparado com a quantidade que era transacionada em equilíbrio de mercado. A maneira através da qual os consumidores mais vulneráveis, isto é, os que auferem um rendimento mais baixo, não sejam prejudicados são as transferências sociais ou os subsídios atribuídos na compra destes produtos, se estes forem considerados essenciais ou indispensáveis. Por outro lado, o estabelecimento de preços máximos abaixo do preço de equilíbrio de mercado é uma medida anti-inflacionista, com efeitos contrários ao estabelecimento de preços mínimos.Concluindo, de uma forma geral, as pessoas entendem que o facto de haver uma guerra na Europa faça subir os preços em Portugal de uma forma exponencial, mas, cabe-nos a nós, além de apelar à paz, tentar encontrar estratégias para manter ou aumentar o nosso poder de compra, ou seja, perceber como podemos aumentar a produtividade das empresas privadas e tentar diminuir ao máximo a deterioração do nosso poder de compra e, também, incentivar ao investimento privado de modo a haver uma oferta ainda mais diversificada de produtos. O parlamento tem um papel crucial na estabilização da economia, através das leis que promulga.
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