Estava eu a conduzir o meu carro quando por azar, puro desleixo ou simples incompetência, me esqueci de “dar o pisca” para virar na rua seguinte. Claro está que a pessoa no carro atrás de mim, logo de seguida, deu uso à buzina do seu carro. Praguejei para mim, baixinho, que a pessoa era egoísta e que podia ter mais compreensão sendo que eu estava triste… Facto que, obviamente, a pessoa do carro de trás desconhecia completamente… Mas eu, ainda assim, achei-a egoísta. Não seria eu a egoísta? O que é o egoísmo afinal? 

Richard Dawkins, renomado biólogo britânico, considera o egoísmo extremamente importante no que concerne à evolução da espécie humana, sendo assim uma caraterística intrínseca e indispensável da mesma. Contudo, isto não faz sentido, na minha opinião. Caro senhor Dawkins, sabia que estimativas apontam que há 15000 anos, havia apenas 29000 pessoas? Isso demonstra que os recursos seriam possivelmente suficientes e, consecutivamente, a relação entre os indivíduos da época era muito mais de colaboração do que de competitividade. Assim, essas pessoas evoluíram numa ótica de altruísmo, de cooperação e não de isolamento e egoísmo como a que estamos habituados a viver.

Mas, por exemplo, o dinheiro e o tempo são recursos escassos e muito importantes e adivinhem? Foram inventados pelo ser humano. Que ser mais esquisito, parece que onde põe as mãos destrói tudo. Mas também não concordo com isto, o ser humano é um ser magnífico, de uma complexidade extrema, com tantas competências e que quando sabe viver a vida, o faz de uma forma tão bonita… confuso. Assim é o ser humano, também. Talvez seja confuso e não egoísta. 

Andam alguns senhores pelo mundo, a espalhar bombas, a proliferar maldade e a dar início a guerras infindáveis. Será que eles sabem ajudar-me com a definição de egoísta? O meu lado romântico diz que estas pessoas sofreram uma infância complicada com ausência de afetos essenciais; o meu lado racional diz que é apenas uma questão de cultura (ou falta dela!);o lado materialista pensa que é uma questão de dinheiro ou pátria; no entanto, seja qual for o motivo, a verdade é que as guerras são más e ninguém as quer. Ou será que os egoístas são pessoas que gostam da guerra? A verdade é que o mundo parou por causa deles, mas depois continuou… As pessoas que lá estão continuam a sofrer, mas a minha vida está normal, com a exceção de uma ou duas notícias no telejornal sobre a fatídica guerra que se vive e com a qual Portugal está extremamente preocupado. Então, afinal, nós também somos egoístas? Intriga-me… E atenção que não falo só de guerras com mortes e balas envolvidas. A quantidade de mulheres que morrem vítimas de violência doméstica, pessoas que sofrem com racismo, que lutam contra o cancro, vítimas de depressões e adições, … São muitos os que sofrem, mas se há guerra que eu evito é a guerra daqueles que vivem com dificuldades em expressar sentimentos, pessoas que não conseguem mostrar o que sentem e que até para consigo mesmas são egoístas. Ser egoísta consigo mesmo? Paradoxal, não? Pois bem, acho mesmo que é uma questão a refletir. As pessoas são o que querem ser, acima de tudo. E o egoísmo é, também ele, uma escolha. “Preocuparmo-nos” com guerras mundiais e ignorarmos as pequenas guerras no interior de cada pessoa, é uma escolha. Não sei o que é o egoísmo, mas sei que a minha escolha é sê-lo o menos possível.