A 25 de abril de 1974 inicia-se um novo capítulo da história portuguesa, com um processo de revolução que, durante dois anos, estabeleceu as bases da democracia que celebra, este ano, meio século.

A 25 de abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas derrubou, em menos de 24 horas, o regime do Estado Novo, que durava há mais de 40 anos. A consequente criação da Junta de Salvação Nacional foi essencial para as primeiras medidas que visavam a destruição das instituições ditatoriais: Américo Tomás e Marcelo Caetano foram destituídos, a Assembleia Nacional foi dissolvida, os presos políticos foram amnistiados e antigos funcionários de Estado que tinham sido afastados das suas funções pelo governo de Salazar foram reintegrados.

O movimento sofria, no entanto, divisões internas (um lado defendia o parlamentarismo democrático e o outro uma revolução de inspiração marxista-leninista), que levaram à substituição da Junta pelo Conselho de Revolução. Este decide organizar as prometidas eleições constituintes, com base num acordo entre os partidos políticos e o MFA.

As eleições para a Assembleia Constituinte representam um passo decisivo para a democracia portuguesa. Foram as primeiras eleições livres em Portugal, de sufrágio universal e direto. Ocorreram num dos períodos mais conturbados da revolução, com o agravamento da tensão e violência entre a via revolucionária e o modelo europeu de democracia.

As eleições viriam, de facto, a legitimar os partidos que defendiam o processo democrático, face à vitória do PS com 116 deputados. O texto constitucional, aprovado a 2 de abril de 1976, reflete o forte pendor socialista e o espírito revolucionário da época. A Constituição da República Portuguesa consagra direitos e deveres fundamentais, como o princípio da igualdade, da liberdade de imprensa ou da liberdade religiosa, assim como diversos direitos fundamentais, representando um grande passo para a efetividade da democracia portuguesa.

Entretanto, continuavam a experienciar-se na rua fortes tensões e confrontos entre as duas vias políticas, o que acabou por levar à crise do 25 de novembro de 1975, que pôs fim ao Processo Revolucionário em Curso. Esta tensão continuou, ainda assim, a fazer-se sentir no aproximar das primeiras eleições legislativas em Portugal, organizadas a 25 de abril de 1976. O período de campanha decorre num ambiente de violência e de atentados contra sindicatos e sedes de partidos de esquerda, no qual o PS se consegue afirmar como o partido capaz de, simultaneamente, construir uma barreira à ameaça comunista, um motivo de receio para muitos portugueses, e impedir o retrocesso das vitórias democráticas no caso de uma vitória do CDS ou do PPD. Conseguiu, assim, distanciar-se da polarização que marcava a política portuguesa como um “partido da paz”.

Ao vencer as eleições, com uma maioria relativa de 107 deputados, o PS manteve a promessa de que governaria sozinho, formando assim o I Governo Constitucional tendo como Primeiro-Ministro Mário Soares. As eleições legislativas de 1976 marcam definitivamente a emergência do novo sistema político e partidário português, tendo sido uma etapa fundamental para a institucionalização da democracia. Os partidos passam a ser os legítimos representantes da vontade popular, com o MFA e o Conselho de Revolução a passar a ter um papel muito menos relevante na vida política portuguesa.